Se a trajetória de Tiago Nunes até se tornar um técnico de Série A foi longa e com trabalhos nas mais improváveis regiões do país, o sucesso do hoje gremista após receber a primeira oportunidade na elite foi meteórico. Até 2017, Tiago vivia os estágios iniciais característicos de um treinador que busca espaço entre os grandes do Brasil. Tentava repetir no Veranópolis o bom desempenho que tivera no ano anterior, quando comandou o São Paulo-RG às quartas de final do Gauchão. E conseguiu, fazendo a quinta melhor campanha da fase de grupos e caindo para o Grêmio no mata-mata.
Foi o bom trabalho à frente do VEC que abriu as portas do Athletico-PR. Chamou atenção do gaúcho William Thomas, gerente-executivo de futebol, e do multicampeão Paulo Autuori, hoje treinador e à época gestor técnico do clube paranaense. Havia ainda na mesa da dupla um outro nome cotado para o cargo, mas as primeiras conversas bastaram para ver que o santa-mariense deveria ser escolhido.
A chegada em Curitiba, no entanto, era para comandar a equipe sub-19 do Furacão. Depois de dois anos consecutivos atuando no nível profissional, aceitou desafio de retornar para as categorias de base.
— Ele entendeu o projeto que o clube oportunizou para ele naquele momento. Aí você vê a qualidade, a audácia e a ambição do treinador. O importante para ele era encontrar um ambiente onde suas ideias de futebol fossem assimiladas pela equipe, e sentiu que o Athletico-PR oferecia todas as condições — conta Paulo Autuori.
De volta do Equador após vitória do Athletico-PR na estreia da Libertadores, na última terça-feira, Autuori atendeu a reportagem de GZH enquanto assistia a um treino coletivo entre o sub-20 e o time de aspirantes do clube. E revelou que os bastidores atleticanos em 2017 já eram de integração entre as diferentes áreas e categorias. Era de praxe haver debates internos com as comissões, analisando jogos, conceitos e exemplos de fora do país.
— Foi justamente essa vontade dele de estar atualizado com aquilo que se realiza no mundo do futebol que fez com que existisse uma convergência muito grande. Não foi preciso mais de dois ou três dias para entender que a escolha na sua contratação havia sido acertada. A partir dali, mais do que uma relação profissional, construímos uma amizade — afirma Autuori, um dos três técnicos brasileiros bicampeão da América, ao lado de Felipão e Telê Santana.
Autuori, que comandou o Grêmio no segundo semestre de 2009, acredita que o treinador encontrará em Porto Alegre condições favoráveis para repetir o sucesso que teve no Paraná. Por lá, a passagem na base durou pouco e, menos de um ano depois de sua chegada, já comandava o sub-23 na disputa do campeonato estadual. No final de 2018, era campeão da Copa Sul-Americana como interino ao ocupar o lugar deixado por Fernando Diniz, demitido em meio Brasileirão.
— Eu vejo um ambiente extremamente propício para que o Tiago, com suas ideias e metodologia, possa desenvolver um excelente trabalho. O Grêmio é um clube que oferece condições muito favoráveis àquilo que ele é como profissional, com seriedade, competência e capacidade de liderar um grupo de pessoas.
Em Porto Alegre, Tiago também treinará um time por onde passou pelas categorias de base. Foi campeão gaúcho sub-15 em 2013, com um elenco que tinha entre os titulares Jean Pyerre e Darlan, a quem ele reencontrará no profissional. O desafio agora é repetir no Humaitá o sucesso que teve na Arena da Baixada.