Às vésperas de mais um Campeonato Estadual, GaúchaZH preparou uma série de matérias intitulada Raízes do Gauchão. O objetivo é relembrar o surgimento de craques que, antes de virarem ídolos e estrelas mundiais, desfilaram seu talento pelos gramados do Rio Grande do Sul.
Real Madrid, Milan, Roma, Juventus. Obter êxito com a camisa destas equipes é motivo de orgulho para qualquer jogador brasileiro. Ser campeão e respeitado pelos torcedores dos quatro clubes, então, é um fato a ser aplaudido de pé. Esta é a trajetória do pelotense Emerson, que, antes de conquistar a Europa como um dos melhores volantes da história, surgiu como um promissor meia do Grêmio no Gauchão de 1994.
— Quando o trouxemos do Progresso, de Pelotas, em 1993, ele era segundo volante. Depois é que foi subindo, porque chegava bem à área — atesta Sérgio Vasques, então diretor das categorias de base, que dá boas risadas ao recordar da contratação. — Ele veio para fazer alguns testes e, quando fomos contratar, o empresário dele pediu US$ 20 mil. Eu disse que não tinha condições de pagar isso, e ele foi embora. Uma semana depois, o pai dele me trouxe de volta e negociamos com o empresário. Depois de muita conversa, fechamos em US$ 3,25 mil parcelados em seis vezes, mais umas camisas e umas bolas — conta o ex-dirigente.
Naquele ano, Emerson chegou a ser escalado em uma tarde que entrou para a história do futebol do Rio Grande do Sul: quando o Tricolor disputou três partidas no dia 11 de dezembro. Primeiro, empatou em 0 a 0 com o Aimoré. Depois, fez 4 a 3 no Santa Cruz. E, por último, bateu o Brasil-Pel por 1 a 0 — com o jovem Emerson, de apenas 18 anos, em campo.
— Subiu muita gente das categorias da base naquela tarde. Só o Rodrigo Gral jogou os três jogos. Era "fominha" — recorda Vasques.
Emerson deu um grande susto na abertura da temporada de 1995. Logo na estreia do Gauchão, contra o Brasil-Far, ele rompeu os ligamentos do joelho direito e, mesmo inscrito com a camisa 10 na Libertadores, ficou de fora da campanha vitoriosa da equipe gremista. Voltaria a jogar somente no ano seguinte. Mas isso não chegou nem perto do que poderia ter acontecido.
— Aquela foi uma lesão normal de jogo — defende Vasques, que lembra de outra situação. — Quando ele foi ser contratado, detectaram nos exames médicos que ele tinha dois centímetros a menos em uma perna. Aí o Cacalo (vice-presidente de futebol) veio me questionar e eu disse: "Com uma perna só, ele é bem melhor que os outros que nós temos aqui". Os médicos chegaram a dizer que ele jogaria até os 26 anos. Como ele tinha 16, nós compramos. No fim das contas, ele jogou até os 30 anos (parou depois de jogar no Santos, com 33 anos, em 2009) e nunca teve nenhum problema — conclui.
O volante também ficou marcado por ter sido cortado às vésperas da Copa do Mundo de 2002, quando era o capitão da Seleção Brasileira treinada por Luiz Felipe Scolari, por conta de uma fratura na clavícula. Porém, nada disso o atrapalhou Emerson de alçar voos altos na carreira. Depois dos títulos do Brasileirão de 1996 e da Copa do Brasil de 1997, acabou chamando a atenção do Bayer Leverkusen, na Alemanha, que lhe abriu as portas para o Velho Continente. Entretanto, tudo começou em um Gauchão, quando ainda vestia a camisa 10 ao invés da 5 ou da 8.