A elite do futebol brasileiro repatriou para esta temporada quatro jogadores que estavam atuando na China: Alexandre Pato e Hernanes, pelo São Paulo, Júnior Urso, que está no Corinthians, e Diego Tardelli, do Grêmio. O atleta contratado pelo clube gaúcho no início do ano, apesar de ter entrado bem em algumas partidas, ainda não conseguiu se firmar entre os titulares.
Tardelli tem 15 jogos e dois gols com a camisa gremista. Foram 550 minutos em campo desde que desembarcou em Porto Alegre. Somente uma vez atuou por 90 minutos, na volta das quartas de final do Gauchão, contra o Juventude, em 28 de março. A partida na Arena terminou 0 a 0, mas a ida, no Alfredo Jaconi, havia sido 6 a 0 para o Grêmio, o que transformou o segundo jogo em uma espécie de treinamento.
Nas outras três oportunidades em que foi titular, acabou substituído no segundo tempo. Ou seja, em 11 jogos, o atacante de 34 anos acabou sendo trocado pelo técnico Renato Portaluppi.
O motivo indicado para a falta de sequência é a questão física — algo que não é exclusividade de Tardelli. A dupla do São Paulo, por exemplo, também não engrenou ainda. Hernanes chegou ao Morumbi em janeiro e fez 19 partidas desde o retorno ao clube, sendo apenas cinco por 90 minutos. Pato, contratado em março, tem oito jogos neste ano — três atuando o tempo todo.
Quem começou diferente foi Júnior Urso. O jogador de 30 anos esteve em campo pelo Corinthians em 19 oportunidades, sendo 17 como titular, atuando em quase todas durante a partida inteira. Porém, uma lesão muscular na primeira partida da final do Paulistão, contra o São Paulo, o tirou de ação por alguns dias. Drama que Tardelli também viveu. O gremista ficou de fora por mais de três semanas, desde o empate contra o Avaí até o jogo contra o Atlético-MG, pelo Brasileirão, devido a um incômodo no músculo posterior da coxa.
No entendimento do educador físico Pio Almeida, que trabalhou por um ano e meio na China junto ao atacante Aloísio, o "Boi Bandido", que começou a carreira no Grêmio e teve destaque no Figueirense e no São Paulo, não existe tanta demora na readaptação dos jogadores que voltam do futebol chinês.
— Discordo dessa afirmação que muitos usam, porque a preparação dos clubes de ponta por lá é feita por comissões técnicas estrangeiras. Aquele amadorismo que existia em termos de preparação não tem mais. O ritmo do jogo pode ser outro, mas essa adaptação está cada vez mais rápida, porque não é tão diferente — argumenta.
Segundo ele, os atletas costumam levar preparadores físicos e até mesmo fisioterapeutas de seus países para complementar o trabalho do clube no turno inverso.
— O Tardelli mesmo estava no Shandong Luneng, que tem uma estrutura semelhante a um Real Madrid. Ele trabalhava com profissionais de alto nível. A diferença mesmo é a intensidade do jogo, porque aqui se usa mais força, mas na preparação é muito parecido — afirma Almeida, que também acompanhou o lateral-direito Douglas, ex-São Paulo, no Barcelona.
O que pode, sim, pesar, é o número de jogos. A temporada do futebol chinês começa em março e termina em novembro. O campeonato nacional é semelhante ao Brasileirão, com turno e returno, com a diferença que por lá são apenas 16 equipes. Também há a Copa da China, em que os times da Super Liga (a Primeira Divisão chinesa) entram apenas nas oitavas de final, e ainda a Liga dos Campeões da AFC, uma espécie de Libertadores asiática, em que a China tem duas vagas diretas e duas disputadas em playoffs.
— O calendário por lá é bastante organizado e, dificilmente, joga-se no fim de semana e no meio da semana. É o sonho do pessoal daqui, que vive reclamando da quantidade de jogos — destaca o repórter Eduardo Procópio, do portal China Brasil Futebol, que acompanha o esporte no país asiático.
Ele ressalta que, como os técnicos das equipes chinesas em sua maioria são europeus, o treinamento só acontecesse em um período. Então, cabe aos jogadores realizar atividades extras. O futebol na China, no entanto, não fica atrás do que é disputado por aqui, garante o jornalista.
— O ritmo é intenso, tem muita velocidade e contra-ataque. No Brasil, não é assim. Aqui, o jogo é mais cadenciado e de bolas áreas. Então, acho que demora um pouco para se readaptar a um estilo mais lento — avalia Procópio.
Se está totalmente readaptado, ainda não se sabe. Mas Tardelli terá a chance de provar que está 100% no sábado, contra o Fortaleza, no Estádio Centenário, em Caxias do Sul. Ainda que Renato tenha dito recentemente que o atacante não estava pronto para jogar uma partida inteira, o gol contra o Juventude, na semana passada, deu confiança ao atleta.
— Estou bem. Não sei se aguento os 90 minutos ainda. Isso vai depender muito da partida, mas estou preparado — garantiu o jogador.
Desde que voltou ao Brasil
- 15 jogos
- 550 minutos
- 2 gols
- Nenhuma assistência
- 9 desarmes
- Nenhum cartão