O Grêmio rechaça favoritismo para o Gre-Nal. Jogar em casa, ser líder e ter a melhor campanha do Gauchão dão peso, mas não garantem vitória antecipada. O discurso é de respeito ao Inter, a ordem é evitar polêmicas desnecessárias que esquentem ainda mais o clássico da 10ª rodada do Estadual. O jogo vale quase nada para a competição, já que o time de Renato é líder com grande diferença, enquanto os colorados são vice-líderes, precisando de apenas dois pontos nas duas rodadas finais para ser pelo menos o terceiro — e, assim, evitar um novo clássico antes de uma eventual final.
Por isso, o jogo vale mesmo é para elevar o moral de uma equipe que, até 10 dias, era apontada como a principal candidata a vencer a Libertadores. Menos de duas semanas depois, os maus resultados no torneio continental frearam o entusiasmo e abriram dúvidas na escalação. Ainda assim, o fator local e a trajetória arrasadora no Gauchão, com melhor ataque, melhor defesa e invencibilidade, não deixam de ser consideradas para avaliar o pré-jogo.
A tentativa de Odair de passar ao Grêmio a obrigação de vencer o confronto, porém, já foi logo rebatida pelo presidente Romildo Bolzan Junior. Questionado sobre a declaração do técnico colorado, o dirigente gremista respondeu:
— Esse tipo de conversa é muito manjada. É mais manjada do que cachaça em boteco. Gre-Nal não tem favorito. Gre-Nal nunca tem favorito. Gre-Nal emparelha tudo. Isso é jogar pra torcida e jogar a responsabilidade para o Grêmio. Mas isso faz parte. Todo mundo está vacinado com isso. Não vamos maximizar uma informação que a gente sabe o objetivo verdadeiro.
Apesar de já batido, o discurso de que o Gre-Nal não tem favorito encontra eco em todos os setores. Ex-dirigentes do Grêmio, como César Pacheco e Rui Costa, caminham na mesma direção.
— Em 2015, reiniciei na função de diretor de futebol em um Gre-Nal, 0 a 0 no Beira-Rio. E nos últimos 40 anos, sempre foi um jogo à parte. Mas aquele discurso do Ibsen Pinheiro de que arruma ou desarruma a casa já passou um pouco. Hoje em dia, não deve mudar tanto. É mais um clássico, quem perder vai sentir por um ou dois dias, mas logo em seguida já tem outro jogo, começa o mata-mata do Gauchão, volta a Libertadores. Não é tão importante assim — garante Pacheco.
Rui Costa, ex-gerente executivo do Grêmio, vê os dois clubes muito consolidados para que um simples resultado ruim altere os rumos dos trabalhos:
— Precisamos destacar a gestão. No Grêmio, essa organização deu resultado esportivo, ganhando tudo nos últimos anos. E no Inter, é inegável a escalada. Não acho que isso vá mudar por causa do clássico.
Apesar da diminuição da importância para a tabela da competição, o Gre-Nal deste domingo (17) terá, mesmo, um peso moral. O Grêmio tentará apagar a imagem ruim deixada no jogo com o Libertad, na Libertadores. O Inter tentará ampliar a sequência vitoriosa de sete para oito partidas.
Os jogadores compraram o discurso. A prova disso está em Kannemann, o aniversariante do dia, escalado para conceder entrevista coletiva, que tratou de relativizar o mau resultado do meio da semana e também a melhor campanha no Estadual:
— Realmente, estamos bem no Campeonato Gaúcho, foram muitos gols marcados, vitórias e bons resultados. E na Libertadores não vamos bem, mas estamos tranquilos. Não somos os melhores por liderar o Gauchão nem os piores por estar mal na Libertadores. Sabemos que temos coisas boas feitas e, claro, tem outras que temos de corrigir.
No fim, o que vale mesmo é a mística do duelo. O "campeonato à parte", como é frequentemente classificado, quase nunca começa e termina sem deixar marcas.
— O Gre-Nal é um dos grandes clássicos do mundo, por todo o contexto, tudo o que o cerca. Ele sempre vai ser importante. E por isso não tem favorito. Quantas vezes já vimos o melhor time perder ou o pior ganhar? — finaliza Rui Costa.