– Quem é esse sujeito aí? – entreolharam-se, com ar desconfiado, os setoristas do Grêmio quando Nelson Olmedo, que recém iniciava sua vida dentro do clube, foi apresentado como novo vice de futebol pelo presidente Hélio Dourado, no começo de 1977.
Auditor independente de profissão, Olmedo, 34 anos recém feitos, havia passado todo o ano anterior lidando com números, na função de um dos quatro assessores do vice de finanças Tulio Macedo. Era, por isso, quase invisível no cotidiano tricolor, o que justificava o espanto dos repórteres. Guri criado na Vila Assunção, e com uma experiência no futebol que se resumia a times de várzea, ele assumiu o comando do vestiário no lugar de Fábio Koff, que o Grêmio perdera momentaneamente para a magistratura.
– Quando eu disse, na primeira entrevista, que estava ali para ganhar do Inter, os repórteres só não riram na minha frente certamente por cortesia – conta Olmedo, mais de 40 anos depois daquela tarde de janeiro de 1977.
O rival, afinal, era bicampeão brasileiro e octacampeão gaúcho e, mesmo já tendo perdido Figueroa, ainda contava com estrelas de sobra, como Marinho Perez, Falcão, Valdomiro, Caçapava e Batista. Do Grêmio de 1976, haviam restado somente Eurico, Ancheta, Vitor Hugo, Iúra, que sequer era titular, e Tarciso.
– Minha primeira contratação foi Oberdan. Nem Telê sabia. Mas minha convicção era muito grande – diz o ex-dirigente.
Eram tempos com raras transmissões de jogos pela TV, e Olmedo havia passado uma madrugada inteira assistindo a um teipe de Coritiba e Inter, no Couto Pereira:
– Oberdan cabeceou umas 200 bolas naquele dia. Pensei: aí está o zagueiro para o Grêmio.
A construção da mítica equipe de 1977 deu-se em inusitados encontros que Olmedo e Telê Santana mantinham no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. O técnico descia de Belo Horizonte e o dirigente partia de Porto Alegre. Passavam horas no aeroporto. Almoços e jantares eram separados por uma interminável troca de ideias.
Indicado por Telê, o meia Tadeu Ricci, que estava no Flamengo, foi o segundo reforço. Com Oberdan, representava a liderança dentro do vestiário. O comportamento mais reservado do armador contrastava com o temperamento explosivo do zagueiro. Mas se completavam e eram respeitados por todo o grupo.
Vieram, na sequência, o lateral esquerdo Ladinho, trazido do Atlético-PR, o ponteiro-esquerdo Éder, do América-MG, que Telê havia observado em um campeonato juvenil em Belo Horizonte, o goleiro uruguaio Corbo, do Peñarol, e o centroavante Alcindo, de regresso do México.
– Com exceção de Éder, eram todos veteranos. Não poderíamos enfrentar o Inter com garotos – justifica Olmedo.
A boa campanha não impediu que Grêmio perdesse o primeiro turno para o Inter. Curiosamente, é essa derrota que o ex-dirigente julga decisiva para o título que viria em setembro.
– No dia seguinte, de cabeça fria, me reuni com Hélio
Dourado e concluímos que ainda nos faltava alguma coisa para alcançar o Inter – conta.
Faltava o centroavante. E André Catimba desembarcaria em junho, vindo do Guarani de Campinas. Depois de tentar o meia Nenê, ex-Santos, que estava no México e foi reprovado nos exames médicos pelo próprio Dourado, a decisão foi de promover o jovem Jorge Leandro. O capítulo final da história deu-se em 25 de setembro.
Aquele time jogou bola. Entre 1977 e 1978, ganhamos seis Gre-Nais seguidos
Nelson Olmedo
Vice-presidente de futebol do Grêmio em 1977
– É extremamente prazeroso falar sobre 1977. Eu falaria o dia inteiro. Aquele time jogou bola. Entre 1977 e 1978, ganhamos seis Gre-Nais seguidos. Este é um fato de enorme significado – emociona-se Nelson Olmedo, que irá completar 74 anos em novembro.
Melhor ainda, diz ele, é, passadas quatro décadas, seguir na memória de parcela de torcedores.
– Alguns me encontram e perguntam: “o senhor não é fulano?” Como se eu tivesse ainda o mesmo rosto - sorri o organizador do time que barrou o grande Inter, feliz por ter sido “um grãozinho de areia na popularização do Grêmio”.