O Gre-Nal 235 foi especial para a trajetória do árbitro Luiz Torres. Houve lances violentos e não foi fácil controlar o jogo.
– Torres era imbatível – lembra ex-árbitro Agomar Martins ao fazer referência à importância da presença de um árbitro enérgico e de personalidade na partida.
De fato, Luiz Torres era muito respeitado entre os atletas. Talvez a experiência que teve como jogador facilitasse o trato. Antes de ser árbitro, defendeu Cruzeiro, Grêmio, Inter e Aimoré. Sempre prezou pela disciplina e pela correção. Chegou a receber o troféu Belfort Duarte, prêmio oferecido aos jogadores que passavam 10 anos de carreira sem ser expulso.
O contexto dava traços de tensão à final de 1977. O Inter não perdia um Gauchão desde 1969, ano da inauguração do Estádio Beira-Rio. Sem falar nos dois títulos nacionais nos anos que antecederam àquela decisão de um domingo ensolarado.
Aos 22 minutos de jogo, Torres, já falecido, começou a ser protagonista do clássico ao marcar um pênalti claro para o Grêmio. Gardel dominou a bola com o braço esquerdo na área. Bem colocado, o juiz não teve dúvidas. Tarciso chutou mais cal do que bola e desperdiçou a cobrança. O gol do título gremista veio no primeiro tempo, com André Catimba.
O fim do jogo foi antecipado pela ansiedade dos torcedores do Grêmio, que desejavam acabar com a hegemonia vermelha. Os mais exaltados pularam no fosso do estádio e começaram a tomar conta da pista atlética, no entorno do gramado. Aos 42 minutos da etapa complementar, Luiz Torres levantou o braço direito e apitou um impedimento.
O gesto foi confundido pelos torcedores, que pensaram que era o encerramento, e invadiram o campo. A confusão pioraria no momento em que Luiz Torres conversava com Cláudio Duarte, Escurinho e Gilberto Tim. Ele foi atingido pelas costas por uma voadora de um torcedor.
– Foi horrível o gesto do torcedor. Torres era muito respeitado e admirado por trabalhar em escolas com alunos com necessidades especiais. A nossa reação foi de tentar pegar o cara porque o que ele fez foi uma barbaridade – conta Cláudio Duarte, que não jogou a decisão porque estava se recuperando de lesão.
O filho de Luiz Torres tinha 12 anos quando esse jogo aconteceu e recorda que ficou assustado com a imagem do pai sendo atacado. Ele revela, entretanto, que o juiz conseguiu sair sem ferimentos.
– O Escurinho gritou pra ele: “Cuidado, Torres”. Ele virou, viu que vinha alguém com os pés no ar, inclinou o corpo e conseguiu escapar. Pedi que levantasse a camisa para ver as costas dele. Não havia marca alguma. Olhando a foto, a gente não acredita – diz Gilson Luís Torres.
Depois disso, Escurinho correu atrás do torcedor. A briga estava formada. O jogador do Inter apanhou feio na confusão. Foi parar no hospital com nariz fraturado, rosto cortado e suspeita de traumatismo craniano. Houve pancadaria entre torcida e polícia. Quando os últimos torcedores foram expulsos de campo, o Inter se recusou a voltar ao jogo alegando falta de segurança. Torres e os jogadores do Grêmio retornaram e aguardaram durante
30 minutos. Depois disso, o árbitro determinou o final da partida. Luiz Torres comandou oito clássicos na carreira, entre 1976 e 1984. Nenhum o marcou mais do que esse.