
Desempenho e resultado. Eles normalmente caminham juntos, mas há ocasiões em que resolvem brigar, se separar e complicar a vida dos analistas. É aí que temos de explicar o motivo da crítica a um time que conseguiu o que precisava, como o Grêmio de atuação preocupante diante do San Lorenzo.
Não vi uma catástrofe no desempenho gremista na Arena, semana passada. Reiterei em algumas oportunidades a necessidade de olharmos para o adversário no momento de analisar. O San Lorenzo que jogou em Porto Alegre foi gigante. Movimentou o meio-campo para trocar passes, teve posicionamento agressivo e mereceu vencer, especialmente no segundo tempo.
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O Grêmio não foi bem em casa, mas a atuação foi muito melhor do que a de Buenos Aires. Em Porto Alegre houve certo equilíbrio no jogo até o meio do segundo tempo. Na Argentina, o San Lorenzo, mesmo sem muito esforço, dominou totalmente as ações.
O gol aos 44 minutos do segundo tempo passa a ideia enganosa de que o Grêmio foi valente, brigou até o fim para reverter uma situação difícil. Na verdade, o empate veio em um lance isolado. Finalmente, após quase 90 minutos de jogo, fez uma forte pressão sobre a saída de bola, forçou um erro de passe e lançou para a área, dando início ao lance finalizado por Lincoln.
Até ali, porém, o que se via era uma letargia atípica do time de Roger. Há uma percepção equivocada de que times ofensivos não precisam ser tão intensos, pois concentram-se mais em tarefas criativas e não precisariam dispendiar tanta energia com a marcação. Errado. Para criar chances, hoje, uma movimentação coordenada e incessante é necessária. Do contrário, o que se tem é o toque de bola estéril que se viu do Grêmio em Buenos Aires.
O problema é mais profundo – e talvez mais difícil de resolver – do que o registrado no segundo semestre de 2015. Na reta final do Brasileirão, o Grêmio cercava a área, levava a bola até uma região próxima do gol adversário, mas não conseguia infiltrar. Faltava contundência no momento final das jogadas. Agora o calo aparece antes. A jogada já sai de trás lenta e, muitas vezes, defeituosa.
O San Lorenzo escancarou ainda mais o defeito por conta da formação que utilizou. O 4-1-4-1, com sua linha de quatro adiantada que encaixa a marcação sobre volantes e laterais, costuma dificultar a vida gremista na saída de bola. Após o jogo de Porto Alegre, em uma conversa com o colega Leonel Chaves, aqui da ZH, ele lembrou como o Grêmio costuma sofrer diante de equipes que atuam com esse sistema. Raramente algo que acontece no campo pode ser creditado à simples forma com que um técnico posiciona seus jogadores, mas as dificuldades reiteradas do Grêmio quando enfrenta esse esquema indicam um problema.
Ele é agravado pelo desfalque de Walace. Peça mais dinâmica da dupla de volantes, jogador que se movimenta para frente e para trás, dando opção de passe segura aos companheiros, tem sido uma ausência sentida pelo time. Maicon caiu bastante de produção sem o parceiro ao lado. Com Walace, o capitão gremista guarda posição para ser o jogador do desafogo. Se o Grêmio não conseguia infiltrar por um lado, logo procurava Maicon, que, em posição mais recuada e, portanto, menos visado pela marcação, recebia e fazia a bola rodar. Com Edinho ao lado, Maicon não tem um parceiro que se projete para carregar a marcação e deixá-lo mais livre. O ex-jogador do Inter até tenta, eventualmente se aventura à frente, mas o movimento não é do seu feitio.
A correção de rumo do time passa muito mais por essa questão do que pelos erros defensivos. O Grêmio é montado para atacar, agredir o adversário, controlar o jogo com a bola no pé. A defesa vaza quando a equipe não consegue impor seu jogo, especialmente quando as jogadas morrem no início, como se viu nos dois últimos jogos pela Libertadores. O Grêmio está acostumado a atacar e se defender com a bola. Evidente que há erros de posicionamento que independem desses fatores, mas não são tão importantes quanto a necessidade de colocar em prática, com eficiência, a estratégia que deu ao time sua identidade.
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*ZH Esportes