O futebol não pode ser visto somente pelo lado mercadológico e empresarial, com ingressos absurdamente caros. Sim, futebol dá lucro. E muito! E também exclui o povo das arquibancadas. Tira o lazer dos verdadeiros torcedores e transforma estádios - agora arenas com modernos camarotes com snacks, soft drinks e pipoca gourmet - numa gelada plateia de teatro postadora de selfies.
Não poderemos mais ter jogos ruins e empates sem gols, afinal o consumidor pagou caro por um produto e tem de ter retorno. É como sentar à mesa em um restaurante e o menu não atender às minhas expectativas. Quero meu dinheiro de volta!
O "Cafezinho", o "Ruralito", como é desprezivelmente apelidado por alguns cronistas esportivos, dirigentes e ex-dirigentes de Grêmio e Inter, o Campeonato Gaúcho é inegavelmente o único campeonato em que a dupla Gre-Nal tem sucesso absoluto - e às vezes ainda com alguns tropeços. Os demais, como Copa do Brasil, Brasileirão e, vez que outra, Copa Libertadores não passam de grandes apostas de início a meros coadjuvantes que ficam pelo caminho. A Libertadores tem sua vaga comemorada como uma grande conquista pelos times da Capital.
As maiores reclamações e justificativas por serem medianos no cenário nacional e sul-americano é, segundo eles, a injusta divisão das cotas de televisão e patrocínios desiguais de estatais para os grandes Flamengo e Corinthians, as duas maiores torcidas do país.
Enquanto menosprezam os campeonatos regionais, se esquecem que, aqui no "ruralito", possuem os mesmos privilégios dos grandes do Brasileirão em relação aos clubes do Interior. Recebem mais por transmissões e têm tratamento especial da FGF para alterar datas de jogos - isso sem precisar mencionar a abismal diferença dos patrocínios.
O futebol está perdendo a essência e a paixão. Talvez isso ainda seja coisa de torcedor do Interior, mas seguimos resistindo a esta arrogância dos "medianos nacionais" da capital. Se eu fosse cronista esportivo, torcedor ou dirigente de algum dos clubes de Porto Alegre e pedisse pelo fim dos campeonatos regionais, talvez morresse de fome, sem ao menos um "cafezinho" pós-almoço nesse banquete nacional.