
O Gre-Nal de domingo marca o último jogo do Olímpico. Entre a inauguração, em 1954, e o clássico derradeiro, foram muitos jogos, emoções e histórias. Em série de ZH, gremistas ilustres contam jogos que marcaram suas vidas. No segundo capítulo, a história é de Sérgio Xavier, diretor de redação da Revista Placar.
Sérgio Xavier*
São muitos os Olímpicos dentro do mesmo Olímpico. Em meus 40 anos de estádio, conheci todos os cantos. Vi jogo na social, na geral, nas cadeiras, em camarote, na cabine de imprensa e até dentro do campo. Mente quem diz que se trata da mesma torcida. Não é. Na geral, o apoio é quase incondicional, cego, muitas vezes. Nas cativas, a paciência torcedora se mede em centímetros. Muito proprietário de cadeira já senta xingando algum jogador.
Há 23 anos em São Paulo, sempre dou um jeito de sincronizar minhas viagens familiares ao calendário gremista. Vi finais de Libertadores, de Brasileiro, de Gauchão. Um jogo ficou especialmente marcado. Grêmio 2 x 0 Santos pela Libertadores de 2007. Era o Santos de Luxemburgo, baita time. Jonas, nosso Jonas, era deles. Zé Roberto era esse que estamos vendo hoje, só que ainda mais lépido. Nosso time tinha Patrício, Teco e Tuta.
O estádio estava lotado, e eu nas cadeiras. Vi incontáveis partidas nas cadeiras. Conheço meus vizinhos rabugentos, eles querem futebol de primeira e vitórias. Gritam pouco, só se levantam para comemorar gols e ir ao banheiro. Naquele Grêmio x Santos havia uma eletricidade diferente. A geral puxava e, incrível, as cadeiras respondiam.
Primeiro aquelas nossas músicas castelhanas. Olhava para o lado e os senhorzinhos que trazem almofadas cantavam a plenos pulmões. Quando a bola rolou, o estádio inteiro estava de pé. E ninguém sentou. Aguardei as reclamações que escutei minha vida inteira: "Senta, senta, infeliz, que eu quero ver o jogo". Nada. O primeiro tempo inteirinho em pé. A turma das cativas firme. Gritando. A torcida carregou aquele esforçado e limitado Grêmio. Aos 33 minutos, Tcheco fez o gol num pênalti maroto. Aos 37, assustado pelo Olímpico que vibrava, o santista Adaílton entregou o gol para Carlos Eduardo. O 2 x 0 foi suficiente e o Grêmio chegou às finais da Libertadores após perder em Santos o jogo de volta.
Bom, depois veio o Boca, o Olímpico fez a sua parte, mas Patrício, Teco e Tuta também fizeram...
*Diretor de Redação da Revista Placar