
O Gre-Nal de domingo marca o último jogo do Olímpico. Entre a inauguração, em 1954, e o clássico derradeiro, foram muitos jogos, emoções e histórias. Em série de ZH, gremistas ilustres contam jogos que marcaram suas vidas. Glênio Reis, locutor da Rádio Gaúcha, abre a série.
Glênio Reis*
Era a final da Libertadores, contra o Peñarol. O Grêmio precisava vencer para se tornar campeão da Libertadores da América. O estádio estava lotado, e as emoções, à flor da pele. Fizemos o primeiro gol, mas veio o empate. Quando o time adversário furou o gol que não poderia furar, fez o gol que não poderia ter acontecido, fiquei tresloucado no meio da torcida do Grêmio. Toda a torcida murchou. Eu me sentei na arquibancada, cabisbaixo.
Foi quando uma mãozinha tocou meu ombro. Uma vozinha fraquinha pronunciou: "moço, não se aborreça, não, o Grêmio vai ganhar esse jogo". Era um piazinho me consolando, me dava um alento. Eu perguntava: "quem é esse pirralho querendo elevar o meu moral?". Ele me disse com tanta convicção e ternura que me passou uma certeza absoluta de que aquilo iria mesmo acontecer. E não é que aconteceu?
Renato deu um balão para dentro da área e apareceu a cabeça redentora do César, aos 31 minutos do segundo tempo, para marcar o gol da vitória. Abracei e beijei o menino, joguei-o para cima, nem sabia se os pais dele estavam ali. Dizia a ele: "de onde tu vieste, és iluminado, de onde tiraste essa confiança que eu já não tinha mais?". Me emociono até agora, quando relembro aquele momento e revejo o filme passar na minha frente.
A sensação de torcer pelo Grêmio no Olímpico é a sensação que eu tenho desde guri, que eu tinha na velha Baixada também. Eu tinha um amigo colorado, eu ia com ele no Beira-Rio, ele ia comigo nos jogos do Grêmio, isso na época que o futebol era esporte. Vou todos os dias no Olímpico até hoje, mas não tenho ido mais aos jogos. A gente vai ficando velho, vai ficando exigente. Sou do tempo do cavalheirismo no futebol. Pode até ganhar, mas o futebol bom é o bem jogado. Mas a ordem hoje é não perder. A beleza, o encantamento que a gente tinha, não verá mais.
O fim do Olímpico significa algo que me violenta profundamente, porque nós possuímos um grupo de amigos que frequenta o estádio até hoje. O Olímpico é o nosso dia a dia, nosso melhor barzinho. Quando um falta, nós nos preocupamos. Agora, com essa mudança, e com a idade avançada que já estou, pretendo me retirar do futebol. Agora, só pela TV e pelos queridos companheiros da rádio, com Pedro Ernesto e toda a equipe da Gaúcha.
*Locutor da Rádio Gaúcha