Rio Grande, 2065. Em frente ao monumento "Hélio Vieira, o Salvador", dois velhinhos conversam. No dia anterior, a cidade tinha parado mais uma vez, agora para para comemorar o quarto título mundial do São Paulo-RG. Um dos homens recorda o início do crescimento do clube. A ressurreição da Páscoa de 50 anos atrás:
"Era última rodada do Gauchão. Em um certo momento do segundo tempo daquelas partidas, São Paulo e Novo Hamburgo venciam seus jogos por 1 a 0. Ou seja, só três gols, todos contrários, nos derrubariam para a Divisão de Acesso. Ah, o NH tinha um pênalti a favor, e o goleiro adversário expulso.
"Estatisticamente", tu poderias pensar, "é impossível cair". Mas, parafraseando os velhos amigos do Esporte da Zero, só quem nunca sentou na arquibancada fria do Aldo Dapuzzo experimentava qualquer tipo de tranquilidade. Claro que pouco depois que o Noia errou o pênalti, tanto Lajeadense quanto Caxias marcaram.
1 a 1 nos dois jogos e pânico. Em Rio Grande, a ventania (sim, tinha vento em Rio Grande) soprava a bola para a área do Sampa - mas não nos queixemos, porque ela ajudou no gol olímpico. Abre parênteses: Massari fez DOIS gols em jogos decisivos SEM chutar ao gol. Contra o Caxias, foi dominar, e a bola entrou, e contra o Lajeadense, tentou cruzar e fez de escanteio. Fecha parênteses.
Voltando. A um certo ponto, a situação era tão desesperadora que as rádios da cidade abandonaram o jogo e entraram em cadeia com as estações do Vale do Sinos.
Então, a cena era essa: fim de jogo no Dapuzzo (que na época só tinha a ferradura e não os 75 mil lugares de hoje), mas torcida e jogadores permaneceram imóveis. O Caxias quase fez um gol, o NH reclamou um pênalti. E quando já estávamos enlouquecendo, Magrão fez o gol do desafogo.
Contando hoje parece legal, mas metade da minha calvície é por causa daqueles 10 minutos finais. Menos mal que os diretores e a comunidade entenderam que não podíamos mais passar por isso. Basta de emoção em luta contra o rebaixamento. Nos fizeram guardar o coração para outras ocasiões mais nobre, como a decisão da Libertadores que lotamos a Bombonera, ou naquele primeiro Mundial, que ganhamos nos pênaltis do Real Madrid. Naqueles jogos, sim, valia a pena perder cabelo.
Só para completar, não tenho nada contra SER Caxias, inclusive tenho alguns amigos que são. Mas pelas escolhas que fizeram em 2015, principalmente fora do campo, passar uma temporada lá embaixo é importante.