Uma polêmica que parecia vencida no futebol voltou a dar as caras na Copa do Mundo. As dancinhas que marcam as comemorações de gols brasileiros, que já tinham sido razão de debate meses atrás, recuperaram espaço após o 4 a 1 em cima da Coreia do Sul pelas oitavas de final do Mundial. Afinal, é ou não é desrespeitoso bailar depois de balançar as redes?
O assunto reapareceu com Roy Keane. O ex-volante irlandês, uma lenda do Manchester United, conhecido pela violência que imprimia nas entradas que costumava dar nos adversários, criticou os brasileiros:
— Não consigo acreditar no que vejo. Nunca vi tanta dancinha. Sei que tem o ponto da cultura, mas é desrespeitoso com o adversário. São quatro gols e em todos teve isso. A primeira coreografia ou o que for, tudo bem. Mas depois? Até o técnico participa.
Ao ex-jogador, juntou-se o presidente da Croácia. No Catar, Zoran Milanovic afirmou que as danças são comportamentos "inapropriados".
— O Brasil é um time forte, mas na noite passada, contra a Coreia do Sul, os jogadores brasileiros me decepcionaram na comemoração dos gols. Não gosto deste tipo de comportamento (referindo-se às danças) quando você marca um gol. Estes gestos e caretas soam como uma humilhação ao adversário. Eu considero inapropriado — declarou Milanovic, ao jornal croata Sportske Novosti.
Diversas personalidades se posicionaram de forma oposta. Um dos mais contundentes foi o técnico português Luis Castro, atualmente no Botafogo. No programa Seleção SporTV, disse:
— Keane não percebe a cultura do futebol brasileiro. Não percebe a Seleção. Então, pronuncia-se de forma deselegante em função daquilo que aconteceu hoje. Todos nós sabemos que aquilo não é desrespeito para ninguém. O que mostra ali é uma grande união entre treinador e jogadores, e um conjunto de sinergias que podem catapultar uma seleção para grandes conquistas.
O ex-zagueiro norte-americano Alexi Lalas, também comentarista, foi ainda mais contundente:
— Se você resmunga porque jogadores brasileiros dançam depois de fazer gol, tem um conceito equivocado sobre espírito esportivo em uma Copa do Mundo. Sinto muito por você, sinto muito pela vida que você leva, que não tem alegria, nem amor, nem paixão.
Entre os envolvidos, Lucas Paquetá e Tite se manifestaram. O meia disse:
— A dança simboliza a alegria de marcar o gol. Não é desrespeito, não vai na frente de adversário, nada. Nos reunimos, todos estão ali, e comemoramos. Se ele (Keane) não gosta, não tenho muito o que fazer. Se fizermos gol, vamos continuar comemorando assim.
Tite dançou também porque afirmou ser uma espécie de "acordo" com os jogadores. Eles haviam dito que colocariam o técnico na coreografia caso Richarlison fizesse um gol. O treinador aceitou. Depois, explicou:
— Sempre há os maldosos que vão entender como desrespeito. Depois pensei: "Agora estou ferrado". Falei para os atletas me esconderem um pouco, porque sei da visibilidade. Não queria que tivesse outra interpretação a não ser o sentido de alegria pelo gol, pela equipe, pela performance, pelo desempenho, pelo resultado. E não um desrespeito pelo adversário ou ao Paulo Bento, que tenho respeito muito grande.
Dançar após gols já tinha sido tema de debate no mundo esportivo há pouco tempo. Em setembro, o volante Koke, do Atlético de Madrid, tinha ameaçado Vinicius Jr caso ele dançasse em caso de marcar gol no clássico da capital espanhola.
A declaração veio acompanhada de fala racista de Pedro Bravo, um ex-agente de jogadores, comentarista da TV espanhola. Na época, ele havia dito que o brasileiro deveria dançar no "sambódromo no Brasil" e "deixar de fazer o macaquice". Ele se desculpou no dia seguinte.
Uma onda de solidariedade ao brasileiro se formou, com incentivos às dancinhas. A hashtag #BailaViniJr foi uma das mais repetidas nas redes. O Real Madrid venceu o clássico por 2 a 1 e, no gol de Rodrygo, os brasileiros dançaram.
E, pelo visto, continuarão dançando sempre que fizerem gol.