O Marrocos já fez história na Copa do Mundo do Catar. Quem imaginaria que uma seleção que trocou de técnico há três meses da competição começar chegaria às quartas de final? Ainda mais deixando para trás Bélgica e Espanha? Pelo menos até o momento, a façanha teve o ponto alto quando o lateral-direito Achraf Hakimi converteu o pênalti contra o goleiro Unai Simón e confirmou a presença entre as oito melhores seleções do mundo.
Neste sábado (10), o desafio será contra Portugal. Se avançar, Marrocos será o primeiro país africano a alcançar às semifinais. Camarões, em 1990, Senegal, em 2002, e Gana, em 2010, foram as que mais se aproximaram. Quando os Leões do Atlas entram em campo, também há a representatividade do povo árabe. Ainda mais em um torneio realizado no Catar.
Em seu sexto Mundial, este é o melhor desempenho marroquino. O feito alcançado no Estádio da Cidade da Educação, diante dos campeões de 2010, superou a campanha de 1986, quando terminaram em primeiro em um grupo que tinha Inglaterra, Polônia e Portugal. Depois, no entanto, foi desclassificado nas oitavas para a Alemanha Ocidental.
O caminho trilhado da condição de figurante para principal surpresa ficou marcado pela superação de uma crise interna. Em agosto, a Federação Marroquina de Futebol anunciou a demissão do técnico bósnio Vahid Halilhodzic. A decisão foi tomada, de acordo com o entidade, em razão de "diferenças de opiniões".
A questão é que o treinador bósnio não tinha boa relação com o meia-atacante Hakim Ziyech, do Chelsea. O desentendimento fez com o que o atleta de 29 anos ficasse de fora do elenco convocado para a Copa Africana das Nações, em janeiro deste ano. Há relatos também de má conduta por parte de Halilhodzic com o lateral-direito Noussair Mazraoui.
O comandante
Nascido na França, mas com origem marroquina, Walid Regragui foi o escolhido para assumir o comando da equipe. Formado em Ciências Econômicas, a pedido do pai, teve uma carreira modesta como jogador. Conquistou apenas um título, o da segunda divisão francesa, pelo Ajaccio, em 2002. A carreira como treinador começou como auxiliar da própria seleção marroquina, 2012. Depois, permaneceu seis anos à frente do FUS Rabat, do Marrocos, onde foi campeão nacional em 2016.
A sequência foi no Al Duhail, do Catar, onde também foi vitorioso na Liga do Catar. Voltou ao país-natal para defender o Wydad Casablanca. Por lá, se consolidou no cenário africano. Primeiro com o taça do Campeonato Marroquino, em 2022. Depois, com a conquista da Liga dos Campeões da CAF, a Libertadores da África, no mesmo ano.
Em sete partidas sob o comando de Regragui, Marrocos ainda não foi derrotada. Foram quatro vitórias e três empates. Destaque também para o número de gols sofridos. Apenas um, contra ainda, no triunfo sobre o Canadá na fase de grupos da Copa do Mundo. Com 33 finalizações sofridas até o momento, ostentam a condição de melhor defesa do Mundial.
Os destaques
Antes de a bola rolar no Oriente Médio, o time contava com duas peças mais destacadas. O lateral-direito Hakimi, 24 anos, do PSG, conhecido pela capacidade de avançar com qualidade ao ataque. O outro é o meia-atacante Ziyech, 29 anos, que defende as cores do Chelsea, considerado um dos melhores futebolistas da história de Marrocos. É uma peça ofensiva explosiva e habilidosa.
Vale ressaltar o nome de Yassine Bounou, o personagem da classificação histórica diante dos espanhóis ao defender as cobranças de Soler e Busquets. O goleiro tem 31 anos e joga no Sevilla, da Espanha. Na atual temporada, foi eleito o nono melhor arqueiro do mundo pela Revista France Football. O volante Sofyan Amrabat, da Fiorentina, e o atacante Sofiane Boufal, do Angers-FRA, também mostraram qualidade. A força marroquina, contudo, está no conjunto. Ou melhor, na união de quem entra em campo disposto a combater o favoritismo das seleções concorrentes.