Argentina e Alemanha são as grandes adversárias do Brasil no futebol? Pelo jeito, só quando a bola está rolando. Durante a Copa do Mundo do Catar, as camisas de ambas as equipes estão entre as mais desejadas pelos torcedores brasileiros — atrás, é claro, da nossa amarelinha. Independentemente da loja, a camisa da Seleção Brasileira é a campeã de vendas no período do Mundial.
— No início da Copa, tínhamos cerca de 50 peças da Seleção Brasileira e seguimos abastecendo as araras, mas neste momento temos cinco ou seis peças no máximo — conta Flávio Richter, da loja de artigos colecionáveis Memórias do Esporte (Av. Protásio Alves, 3.664), repetindo uma história de inúmeras outras lojas que vendem a camisa canarinho.
Ainda que em menor escala, contudo, uniformes de outras equipes não escapam da febre da Copa do Mundo.
— Já em outubro, percebemos um aquecimento das vendas do setor de seleções, que aumentou em novembro a ponto de passar pela primeira vez em quantidade as vendas da dupla Gre-Nal — destaca.
E nem a eliminação precoce, como da seleção alemã ainda na fase de grupos, parece desencorajar os torcedores de seu desejo por certos uniformes, visto que a tradicional camisa branca com preto seguiu entre as mais vendidas de sua categoria em sites de artigos esportivos.
— A maioria das pessoas busca uma camisa porque gosta do jogador, gosta do país ou tem alguma identificação. Por exemplo, a gente sempre vendeu muito bem da Itália, o pessoal normalmente é descendente de italiano. De Portugal também tem isso, sabe? O torcedor tem algum parente, tem alguém ligado ao país — explica Ney Martines, do Brechó do Futebol (Rua Cel. Fernando Machado, 1.188), também especializado em camisas.
Talvez por isso não seja de se admirar que a camisa da seleção italiana, que sequer chegou a se classificar à Copa do Mundo, apareça entre as mais vendidas na Netshoes e na Centauro, ao lado de seleções ainda no páreo, como Portugal, Inglaterra e França. Outras decepções do Catar, como a Bélgica e o México, igualmente seguem populares entre os compradores nesses sites e em outros, como da Paquetá Esportes. E por isso, quem sabe, o surpreendente fim precoce do sonho da Fúria, eliminada para o Marrocos nas oitavas de final, não acabe com a bem-sucedida trajetória da camisa espanhola até aqui.
A vida de quem coleciona
Para um grupo específico de torcedores, no entanto, ter uma só camisa não basta: os colecionadores.
Parte desse clube, o carioca Rodrigo Soares fez questão de ter camisas de todas as seleções que se classificaram para o Mundial do Catar e, agora, compartilha diariamente seu feito com os colegas do grupo "Qual é a camisa para hoje?", com mais de 3 mil membros no Facebook. Ali, diferentes torcedores da América Latina compartilham sua escolha diária de farda que, nesses dias, estão constantemente em sintonia com o calendário do Mundial.
— O meu interesse nessas camisas começou por causa da Copa do Mundo, para ser mais específico a de 1998, que despertou meu interesse não só pelos uniformes, mas como pelos países e talvez por isso hoje eu seja professor de Geografia — recorda Rodrigo.
Além das camisas da Seleção Brasileira — a amarela e a azul — ele decidiu adquirir uma outra camisa nova, feita para o Mundial de 2022. E adivinha se não foi da campeã de vendas desta Copa?
— Me agradaram bastante os detalhes em preto da camisa da Argentina, além do desenho nas costas, simulando a bandeira — explica Rodrigo. — Me motivei a tê-la também por ser a última Copa do Messi.
Ele também comentou sobre outras peças:
— Gostei bastante das camisas do Japão com os detalhes dos origamis e a away do México com o detalhes da Quetzalcoatl, um dos símbolos do Império Asteca. Infelizmente, não deu pra adquiri-las, mas quem sabe um dia?
As mais valiosas
Enquanto qualquer camisa pode ter um valor simbólico para o torcedor, não há dúvidas de que no mercado algumas valem mais do que outras. E, nesses casos, o resultado dentro de campo acaba importando.
— Uma coisa que influi bastante sobre coleções de camisas são aquelas que, por exemplo, serão usadas pela seleção que vai ganhar. Essa será uma camisa que vai ficar marcada para sempre — explica o gaúcho Salomão Furer Jr., de São Leopoldo, que conta com mais de 3 mil camisas de futebol em sua coleção. — Camisa de título sempre marca muito. Camisa que uma seleção pequena que ganhou de uma gigante também é legal, é marcante.
Apesar de seu foco estar em camisas da Seleção Brasileira, ele guarda algumas de outras nações que acha especial, como a usada por Louco Abreu pelo Uruguai nas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2010 e uma da União Soviética, rara e icônica, com o CCCP estampado.
Apaixonado por futebol desde suas primeiras lembranças de infância, nos anos 1970, Salomão destaca que atualmente é muito mais simples ir atrás dessas preciosidades:
— Naquela época, tu só conseguia comprar a camisa de um time na sede, precisava ir até lá, não tinha essa facilidade que hoje nós temos, que é possível comprar uma camisa de qualquer time do mundo, em 10 segundos, sem nem sair de casa.