Para muita gente, a eliminação da Seleção Brasileira nas quartas de final da Copa do Mundo de 2018 teve um motivo principal: a ausência de Carlinho no jogo contra a Bélgica. Suspenso, ficou de fora daquelas quartas de final. Mas, como assim, você não sabe quem é Carlinho? Calma que nós vamos te explicar.
No mundo do futebol, é Casemiro. Volante alto, forte, imponente e peça importante da Seleção de Tite. Mas, entre amigos e familiares, Carlos Henrique Casimiro — isso mesmo, com "i" — vira Carlinho, um cara boa praça, brincalhão, que por vezes é tímido, mas que adora um churrasco e uma resenha.
— A gente só chama de Carlinho. Na infância também chamávamos de "cara de Trakinas", porque tinha o rosto redondo, como o da bolacha, e ele odiava. Mas, no São Paulo, mudaram para Casemiro. Ele falou para nós que foi coisa de superstição do clube. Disseram que daria sorte. E deu, né — brinca Nilton Moreira, primeiro treinador de Casemiro.
Mas a relação de Carlinho, como até hoje é chamado em São José dos Campos, sua cidade natal, com Moreira é muito mais próxima do que de um ex-aluno com um ex-professor. O treinador, que é dono da Moreira's Sport, tem o volante da Seleção e do Manchester United como um membro da família. E a recíproca é verdadeira.
— Queria agradecer a muitas pessoas por ter chegado aonde cheguei, mas quero agradecer especialmente o Moreira, um pai pra mim. Sou muito grato a você. Muito obrigado por ter me ajudado, de coração — disse Casemiro em 2017, quando foi homenageado pela Câmara Municipal.
Abandonado pelo pai ainda na infância, passou a maior parte dela com a avó e as tias, já que a mãe, Magda, trabalhava como diarista e passava a maior parte dos dias fora de casa. Apaixonado por futebol, foi levado por uma prima para a escolinha de Moreira, aos sete anos, e foi lá que iniciou a trajetória como atleta. Mas, não se engane: Carlinho nem sempre foi volante ou um defensor. Era atacante — e dos bons.
— Vi que ele tinha potencial e falei para ele vir treinar com o nosso time. Com sete anos, jogava no sub-9. Era atacante, batia bem na bola. Logo chamou atenção dos grandes clubes aqui de São Paulo nos campeonatos, jogando sempre na categoria de cima — conta Moreira.
O sonho do menino era ser jogador profissional. Para isso, não escolheria um clube. Mas, de família corintiana, no íntimo o desejo era vestir a camisa alvinegra. A oportunidade, porém, apareceu no rival São Paulo, que o recebeu no alojamento aos 14 anos e de onde ele só saiu aos 20, para ir ao Real Madrid.
Nesse meio tempo, fez história: conquistou o Sul-Americano sub-17, em 2009, a Copa São Paulo de Futebol Júnior com o Tricolor paulista, em 2010, e o Sul-Americano sub-20 e o Mundial sub-20 em 2011, com a seleção. Era apenas o início de uma carreira multicampeã.
— É o tipo de atleta, pela competitividade que foi estimulada desde pequeno, servindo a Seleção Brasileira, que tem sangue no olho. Sempre está querendo vencer, e isso o torna uma referência positiva para o grupo. Sempre teve isso dentro dele, essa fome por vitória, por conquista. Não gostava de perder nem par ou ímpar — relata Sérgio Baresi, que treinou Casemiro na base do São Paulo.
Essa mentalidade vencedora foi fundamental para conquistar tudo o que ganhou. Vindo de família humilde, batalhou para se tornar um jogador profissional, superou uma hepatite logo nos primeiros meses de São Paulo, deu a volta por cima após um início complicado no time principal e chegou à carreira vitoriosa na Europa que todos conhecem hoje.
Do Real Madrid Castilla, time B do gigante espanhol, foi emprestado ao Porto na temporada 2014-2015 e, depois, empilhou títulos pelos Merengues. Foi tricampeão espanhol, venceu Copa do Rei, três vezes a Supercopa da Espanha, outras três a Supercopa da UEFA e três Mundiais de Clubes da Fifa. Mas, acima de todas essas conquistas, são incríveis cinco títulos da Liga dos Campeões da Europa.
A experiência e a liderança positiva o colocam como um dos possíveis capitães da Seleção Brasileira de Tite na Copa do Catar. Com 65 jogos com a camisa canarinho, ele disputa a braçadeira com os zagueiros Thiago Silva e Marquinhos.
Mais maduro, sabe que terá de cuidar os cartões para não ficar de fora, novamente, de uma partida decisiva. Até mesmo por isso, para o técnico Ney Franco, que o comandou na conquista do Mundial sub-20 e, depois, nos profissionais do São Paulo, ele tem todos os predicados para ser o capitão da equipe.
— Conosco, na seleção de base, teve a experiência de ser capitão. O Bruno Uvini (zagueiro) era o capitão, mas quando não jogava era o Casemiro. Ele tem o perfil de liderança, embora seja um cara tímido, mas pelo histórico, pelo moral que tem, tem todo o perfil para ser o capitão. Acho que nas últimas competições ele mostrou esse perfil de liderança para o Tite — ressalta Ney Franco.
Além da questão interna, de boa lida com os companheiros de Seleção, a inteligência tática e emocional de Casemiro são apontadas como fatores importantes para um líder. Também chama atenção por ser um jogador educado, que se expressa bem e que impõe respeito com adversários e árbitros, pela carreira consolidada e vitoriosa no futebol europeu.
Nesta temporada, aliás, transferiu-se para o Manchester United, da Inglaterra, após nove anos de Real Madrid. A vultuosa proposta dos Red Devils e a chance de disputar a Premier League levaram Casemiro a encerrar um ciclo de sucesso e buscar um novo desafio.
Aos 30 anos, é casado com Anna Mariana e tem dois filhos, a Sara, de 6 anos, e o Caio, de apenas um aninho. Quando visita a cidade natal, sempre reúne os amigos para churrascada, visita a escolinha onde jogou na infância, joga truco e gosta de empinar pipa — ainda hoje.
A fama, o sucesso e o dinheiro não tiraram de Casemiro a sua essência humilde e disposta a ajudar amigos e familiares. A irmã, por exemplo, administra o Madrid Open Mall, um shopping em São José dos Campos construído pelo jogador. O irmão tem uma loja de artigos esportivos. Mãe, tias, avó e primas também contam com a ajuda do craque da Seleção, que cumpriu a palavra que deu a Moreira ainda na infância.
— Ele já falava isso para mim, que quando ganhasse dinheiro como jogador ajudaria a família. E ele cumpriu, não abandonou ninguém — conta o ex-técnico, que complementa:
— Tudo o que pode fazer para ajudar, ele faz. Tenho 64 anos, joguei 20 profissionalmente e treinei muitos jogadores, vários que também tiveram sucesso, mas são raros os casos de atletas que ficaram famosos e continuam amigos do primeiro professor. Por isso, falo com orgulho dele. Ele é um exemplo para toda a molecada aqui da escolinha.
É esse orgulho que São José dos Campos tem de Casemiro que ele quer que o Brasil inteiro sinta se a Seleção conquistar o hexa no Catar. Para o velho amigo Cleverson, filho de Nilton Moreira, que também o treinou na escolinha na infância, é por todas essas características que o camisa 5 será uma das estrelas da Seleção Brasileira na Copa do Mundo.
— Desde pequeno ele tinha um brilho diferente. Tinha vontade, determinação. Trabalhou com a gente, lapidamos, ensinamos os fundamentos, o DNA de ganhador, e ele nunca fez as coisas sem determinação e sem vontade. Por isso ele é destaque na Europa e acho que ele será a estrela da Copa de 2022 — resumiu.
Que assim seja. E agora que você já sabe quem é Carlinho, torça para que ele não desfalque a Seleção nos jogos eliminatórios e que, desta vez, o hexa venha.