Matrículas do Sisu apontam mudança de perfil entre alunos da UFRGS

Eles ainda nem assistiram à primeira aula, mas já fazem história. De forma inédita, 1.645 estudantes ingressam na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e abrem caminho para uma nova realidade na melhor universidade do Brasil - ranking do Índice Geral de Cursos (IGC) do Ministério da Educação (MEC).

Na matrícula de parte deles, ocorrida nesta sexta-feira em Porto Alegre, os sotaques eram diferentes, mas a convicção a mesma: o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) assusta menos do que o vestibular e atende melhor ao conceito de ensino federal.

Isso porque os estudantes podem concorrer, por meio da classificação obtida no Enem, a cursos em quaisquer instituições do país cadastradas no Sisu. A UFRGS, que neste ano aderiu e destina 30% das vagas ao programa, deve ser cada vez mais procurada por jovens como Deborah Marconcini, 19 anos, aprovada em Direito. Moradora de São José dos Campos (SP), ela optou pelo ótimo conceito nacional que a UFRGS ostenta:

- Conheço um pessoal que estudou aí e fala muito bem. A universidade está entre as melhores. Eu cresci no Estado do Rio de Janeiro e vi o intercâmbio nas federais de lá. Bastante gente de fora muda o estilo da faculdade, o que é bom.

Cursos em universidades desconhecidas tiveram as médias mais altas do Sisu
Mais da metade dos aprovados em Medicina na UFRGS pelo Sisu vem de SP

A reitoria da UFRGS avalia a possibilidade de ampliar o Sisu para os próximos anos. O reitor Carlos Alexandre Netto salienta que haverá um salto de qualidade, pois o Enem abrange um universo de 7 milhões de candidatos, e o vestibular da instituição não ultrapassa 40 mil inscritos.

- Os aprovados em primeira chamada do Sisu são, de fato, os melhores do país. Nós prevemos que a qualidade acadêmica vai melhorar, independente dos Estados de origem das pessoas. O Enem vem sendo aperfeiçoado e tem credibilidade nacional. Daqui um tempo, o Sisu será o sistema de todas as federais - disse ele.

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Na terça-feira, 3 de fevereiro, os demais aprovados terão de entregar os documentos para matrícula na UFRGS. São aguardados alunos de Engenharia e Medicina, curso que terá mais da metade dos classificados vindos de São Paulo. As matrículas do vestibular vão de 9 a 12 de fevereiro.
 
Eles querem a melhor universidade

Aprovada pelo Sisu para o curso de Direito, Deborah Marconcini, 19 anos - que foi criada no interior do Rio de Janeiro e mora atualmente em São José dos Campos (SP) - matriculou-se nesta sexta-feira na UFRGS. Ela prestou vestibular em outros locais, mas optou pela universidade gaúcha por causa da qualidade de ensino. Deborah relatou que vários amigos se mudarão para outras cidades por causa do Sisu.

- Em São Paulo, o vestibular também é muito tradicional, mas vem perdendo importância. De que forma eu estaria num lugar como esse (Porto Alegre), se não fosse pelo Sisu? Entre todas as federais, a UFRGS é muito bem classificada - afirmou a jovem, que não acredita em problemas de adaptação no Rio Grande do Sul.

- É uma cidade preparada para receber o pessoal de fora, será bem tranquilo. Conheço um pessoal que estudou aí e fala muito bem. Só ouço elogios - complementou.

Mineiro dá o recado: UFRGS deixará de ser regional

Aprovado no vestibular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), David Oliveira, 24 anos, trancou a faculdade em 2013 e acabou aprovado em Agronomia na UFRGS por meio do Sisu. Natural de Luz, a 200 km de Belo Horizonte, ele procurava apartamento para alugar no bairro Cidade Baixa enquanto confirmava a matrícula em Porto Alegre. Segundo David, o maior benefício da oferta de vagas pelo Sisu é dar uma mentalidade realmente federal para a universidade:

- A UFRGS deixará de ser especificista e atenderá um público maior. Não será mais tão regional. Acredito que poder escolher onde vou estudar fará com que eu me torne mais produtivo para o país.

David elogiou também o que chama de "conjuntura acadêmica" do Rio Grande do Sul, o que o atraiu ao Estado:

- Analisei a grade curricular do curso de Agronomia e vi que está bem adaptada ao modelo de desenvolvimento agrário proposto para o Brasil, tanto no modelo de agronegócio quanto de agricultura familiar.

"Era a minha última esperança"



A jovem Kimberly Andrade Silva, 20 anos, moradora de Canoas, na Região Metropolitana, já tinha perdido as esperanças de cursar uma federal depois de ter sido reprovada no vestibular. Resolveu tentar o ingresso na UFRGS pelo Sisu em Adminisitração, área em que atualmente trabalha, mas que não era a preferida. Com boa média no Enem - "provas lógicas, que nem exigem cursinho" - conseguiu a vaga. Agora, ela se prepara para realizar um sonho e alimentar renovadas perspectivas de vida:

- Eu tinha me preparado mais para o Enem e fui infinitamente melhor do que no vestibular. Poder entrar assim, nossa, é um sonho. O Enem me pareceu mais fácil porque não exige tanta decoreba e fórmulas, estudei com meus materiais do ensino médio e com vídeos da internet.

Ela espera fazer parte de uma turma eclética e aprender com a troca de experiências:

- A educação é diferente em cada Estado, e as diferenças vão agregar um valor maior durante a minha formação. Quero encontrar gente de todo lugar, conversar, crescer assim.

* Zero Hora