Confira comentários do professor de literatura do Grupo Unificado Pedro Gonzaga sobre Esaú e Jacó, de Machado de Assis, que será exigida no próximo vestibular da UFRGS.
A obra
Escola literária: Realismo
Personagens centrais: Pedro e Paulo
Narração: Conselheiro Aires
Com a morte do Conselheiro Aires, encontram-se em seu gabinete sete volumes escritos. Seis deles são diários (darão origem ao livro posterior, Memorial de Aires) e um é um caderno, com uma palavra na capa: "último". Trata-se de um romance, a que o editor chamará de Esaú e Jacó.
No livro, narrado por Aires, tem-se dois protagonistas, Pedro e Paulo, cada qual representando uma posição de um país que está por se dividir entre monarquia e república. Envolvidos desde o ventre da mãe em constantes disputas, cada qual representará um lado: Pedro é o conservador, estuda Medicina no Rio, e Paulo, o liberal, estuda Direito em São Paulo.
Aumentará a animosidade entre os gêmeos, a presença de Flora, uma jovem frágil, que se mostra incapaz de escolher entre os dois rapazes. Sua indecisão, como a indecisão do próprio país àquele instante, leva-a à inação, ao delírio e à morte.
O romance termina com os gêmeos novamente envolvidos em disputas, apesar da promessa que fizeram à mãe em seu leito de morte de evitar futuras disputas. Nem mesmo o Conselheiro Aires, mediador de dilemas, é capaz de resolver as diferenças entre os dois.
Importância do livro
Livro que dá início à fase de despedida machadiana. O processo de transição da monarquia para a república se configura, aqui, de maneira evidente. Revela-se também a facilidade como mudam de lado na política os personagens de acordo com seus interesses particulares.
O que o vestibulando deve observar
O estranho processo narrativo, armado pelo autor-suposto Aires. Narra boa parte do tempo em terceira pessoa, mas por vezes aparece como personagem, passando, muitas vezes, para primeira.
Atentar para a famosa cena da Tabuleta da Confeitaria do Custódio, que tem seu nome alterado de acordo com interesses pessoais e não políticos (o medo de perder clientes é maior do que as convicções políticas).
A virada de casaca de Batista, pai de Flora, antes conservador, e, por influência da mulher, liberal assim que mudam os ventos.
Dificuldade do livro
A leitura de Machado pode ser difícil para os leitores jovens. Não há dificuldade de vocabulário, mas a estrutura narrativa é sempre desafiadora. Aqui, há que atentar para a voz que conversa com o leitor, a voz machadiana, que se sobrepõe à do Conselheiro.
Um conhecimento histórico do período em questão também é bem enriquecedor para a compreensão da narrativa. Vale dar uma revisada na transição republicana brasileira.