O romance As Parceiras, de Lya Luft, foi listado como leitura obrigatória para o vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) de 2014. Confira comentários do professor de literatura do Grupo Unificado Vanderlei Vicente.
A obra
Primeiro romance de Lya Luft, publicado em 1980, As Parceiras tem como personagem-narradora Anelise, uma mulher cuja vida fora marcada por perdas e relações traumáticas e que, no presente da narrativa, procura compreender sua própria trajetória a partir de suas lembranças e origens.
>>> Em entrevista, Lya Luft fala a respeito do livro As Parceiras
Praticamente isolada no chalé de praia da família, a protagonista apresenta seus dramas familiares e pessoais, a começar pela trajetória da avó, Catarina: em plena inocência de seus 14 anos, fora obrigada a abandonar as bonecas para se casar com um homem bem mais velho que a perseguia pela casa em busca de sexo. Desta relação, surgem quatro mulheres: Beatriz, Sibila, Dora e Norma. As duas primeiras filhas, principalmente, garantem a continuidade da tragédia familiar. A narrativa, na medida em que é voltada para as angústias existenciais de uma personagem feminina, remete à obra consagrada de Clarice Lispector.
As filhas
> Beatriz: é extremamente amargurada e religiosa - daí o apelido "tia Beata" -, principalmente, depois que o marido se suicida após apenas três semanas de casamento por não conseguir (dizia-se) cumprir as obrigações de homem.
> Sibila (ou Bila): anã, é fruto de uma relação sexual forçada pelo marido de Catarina.
> Dora: não quis ter filhos. "Medo que aparecesse outra Bila, outra Catarina?", questiona a narradora.
> Norma: mãe de Anelise, é descrita como "esquiva".
A narradora
O início da juventude reservou a Anelise perdas pessoais altamente significativas. Fica órfã aos 14 anos, após os pais morrerem em um acidente aéreo. Pouco antes, já havia perdido sua única grande amiga, Adélia, que fora seu primeiro amor, "numa idade em que as almas interessam muito mais do que os corpos". Desta perda, ela nunca conseguiu se recuperar.
A felicidade do casamento com Tiago dura pouco. Aflita por ter um filho, teme dar continuidade à tradição da família: "A avó, louca. A tia, anã. (...) Os abortos de Catarina. Minha mãe esquiva. Tia Beata, ressequida. Por que tia Dora não quisera filho?"
Matrimônio
Sobre a felicidade inicial do casamento:
"Por que não morremos num período assim? Antes que tudo comece a se esboroar".
A sua faceta decadente:
"Na verdade, conversávamos tão pouco, já nem sabíamos o que era mais sinistro: palavras ou silêncios".
Preste atenção
> O romance alterna o presente vivido pela protagonista com as lembranças do seu passado.
> O texto é estruturado em sete capítulos - Domingo, Segunda-feira, Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado - que remetem a cada um dos dias que a protagonista passa no chalé da praia.
> As mulheres da família de Anelise - inclusive ela, é claro -, de alguma forma, mostram-se como parceiras, visto que elas são caracterizadas por existências marcadas pela tragédia.