
A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) recolheu apostilas de uma disciplina do cursinho Pré-Universitário Popular Alternativa. O motivo é que o polígrafo passa por um processo administrativo por suspeita de uso de imagens impróprias.
Conforme o reitor da instituição, Paulo Burmann, a UFSM recebeu uma denúncia anônima de que havia irregularidades no material distribuído na apostila da disciplina de literatura, com o conteúdo de ficção literária contemporânea. Conforme a denúncia, são páginas com imagens de cunho sexual e uma charge em que está caracterizado o presidente Jair Bolsonaro relacionado a uma suástica nazista. O conteúdo recebido na denúncia, ressalta Burmann, é um compilado tirado de uma apostila bem maior: 12 páginas retiradas de um polígrafo com mais de 130:
— Reitero que estas imagens representam um compilado descontextualizado. Preocupa a forma, mas isto está sendo apurado.
Esta disciplina, conforme o reitor, é optativa – ou seja, não é obrigatória – e é ministrada aos sábados, por voluntários do Alternativa.
— Não faz parte do programa regular do cursinho. Trata-se de um material de apoio para atividade complementar opcional ofertada fora do programa.
O conteúdo faz parte do previsto para a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Burmann explica que os materiais didáticos são construídos para os alunos do cursinho sem uma revisão da instituição. Ele admite que isso não deveria ocorrer, mas alega que, como a instituição tem mais de 6 mil projetos, não seria possível fazer a análise minuciosa de todos os materiais.
No caso da apostila em análise, conforme o reitor, é um compilado de obras:
— O objeto denunciado é um compilado de obras, parcial, do que consta no programa de literatura. Logicamente, ele fica descontextualizado, e isso acaba chamando atenção e causando curiosidade, e até desqualificando o projeto.
Conforme o reitor, já foi feita uma análise por professores da área, que afirmam que a apostila precisa ser revisada:
— As análises prévias daquilo que recebemos até agora como retorno dos professores da área mostram que é um compilado, tirado de um contexto mais amplo, mas que merece uma revisão. E é o que vai ser feito. A utilização do material foi suspensa até que tenhamos uma revisão e readequação da apostila. Os conteúdos devem seguir sendo ofertados, mas da forma mais didática e mais adequada possível.
Conforme um integrante do cursinho que prefere ter seu nome preservado, a apostila é um material de ficção brasileira contemporânea, suplementar ao ensino de literatura. Os textos e imagens nele contidos abordam três questões essenciais: sexualidades dissidentes, situações das minorias periféricas e ressurgimento do conservadorismo e práticas e ações de tendência neofascista.
— Essas questões, se não pensadas, não deixam de existir — revela o integrante do pré-vestibular, que é um projeto de extensão da UFSM.
Caso seja necessária a abertura de uma sindicância, isto será feito, conforme o reitor. A UFSM tem dois cursos preparatórios para o Enem, com disciplinas ofertadas por voluntários vinculados à instituição: o Pré-Universitário Popular Alternativa e o Práxis coletivo de educação popular. As aulas são para pessoas de baixa renda, que não possam pagar por um cursinho e querem ingressar no Ensino Superior. As disciplinas são ministradas de segunda a sexta-feira.
Nesta quinta-feira, criadores da peça e pró-reitoria de extensão da universidade se reuniriam para tratar do tema.