
O número de cursos de Medicina quase dobrou no Rio Grande do Sul entre 2016 e 2023. Ainda assim, o conceito médio das graduações no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), realizado pelo Ministério da Educação (MEC), melhorou nesse período. A nota máxima foi conferida a cinco graduações, sendo o topo da lista ocupado pelo campus Passo Fundo da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS).
A Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), centro de um debate ao anunciar a criação do curso de Medicina em São Jerônimo, Gravataí e Porto Alegre através de decisão judicial em 2024, foi a pior nota, 2 na escala que vai até 5. Essa avaliação diz respeito à unidade de Canoas - as restantes não possuem formandos que realizem este Enade.
O Enade é aplicado pelo a cada triênio entre estudantes que estão concluindo suas graduações. Em 2023, passaram pelo teste alunos de 28 cursos de ciências da saúde e engenharias.
Uma das expectativas era pela divulgação dos conceitos de Medicina. Com o fim da vigência de uma portaria que suspendia a análise de solicitações de criação de novas graduações nessa área, em 2023, uma série de pedidos de instituições foi protocolada no MEC. Com a demora no retorno da pasta, universidades e grupos entraram na Justiça demandando a liberação. Alguns receberam autorização em caráter liminar, caso da Ulbra.
No Rio Grande do Sul, 11 cursos de Medicina estavam ativos em 2016. Destes, oito obtiveram conceito 4 e três alcançaram conceito 3. O resultado melhorou um pouco no ciclo seguinte, de 2019, quando a abertura do curso em outras instituições – de 11, se passou para 13 no total – garantiu aumento de conceitos 4. Naquele ano, a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) também atingiu conceito 5 – o máximo – nessa área. O desempenho gaúcho se qualificou ainda mais em 2023, quando 14 dos 19 estabelecimento avaliados registraram conceitos 4 ou 5.
Confira abaixo a lista com os resultados de Medicina:
Ulbra
Com dívidas bilionárias que a fizeram passar por processo de recuperação judicial entre 2019 e 2024, a Ulbra chegou a tentar vender em leilão seu curso de Medicina. A universidade recuperou a capacidade de investimento e está com saldo positivo. A proposta do leilão foi rejeitada pela Justiça e a graduação se manteve com a instituição.
No ano passado, a universidade criou o curso em três novas unidades: São Jerônimo, Gravataí e Porto Alegre. A abertura se deu após decisão liminar da Justiça favorável à ampliação das vagas, que já eram oferecidas em Canoas. O conceito 2 estabelecido pelo MEC diz respeito à unidade de Canoas – as restantes não possuem, ainda, formandos que realizem o Enade.
Em nota, a instituição afirmou que o conceito conquistado “não refletiu a qualidade que a instituição busca entregar”, e que a aplicação do exame aconteceu no ano em que a nova gestora, Rede Evolua, assumiu.
Entendemos que a nota realmente foi ruim, mas que a instituição vivia um momento bastante difícil.
FABIANO PEREIRA ALVES
Superintendente de Educação Superior da Ulbra
Segundo Fabiano Pereira Alves, superintendente de Educação Superior, ao passo que comemora ter obtido após 15 anos conceito 4 no Índice Geral de Cursos, que avalia a qualidade do estabelecimento como um todo, a Ulbra trabalha em iniciativas que espera gerarem melhorias no desempenho em 2026, quando o curso passará por novo Enade.
— Entendemos que a nota realmente foi ruim, mas que a instituição vivia um momento bastante difícil. Por sorte, a nova gestão chegou, conseguiu superar a crise da recuperação judicial e nos possibilitou uma série de ações voltadas a melhorar nossos indicadores de qualidade — pontua.
Entre as ações citadas por Alves estão parcerias com estabelecimentos de saúde, hospitais e prefeituras. Quarenta novos consultórios aguardam a formalização de parcerias com esses entes para servirem como parte da prática necessária para os alunos.
Critérios subjetivos
Para o presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), Eduardo Trindade, os critérios utilizados pelo MEC na análise dos cursos são “extremamente subjetivos”, o que faz com as avaliações nem sempre retratem a real qualidade de um curso.
— Como de 2016 para cá houve uma abertura muito grande de cursos em locais sem estrutura, não tem nem como se analisar se esses lugares realmente formaram bons médicos.
Entre os pontos de desacordo, o presidente da entidade cita a qualidade dos hospitais que, no credenciamento das universidades, têm seus leitos disponibilizados para a parte prática da formação dos estudantes.
— Não adianta pegar 20 hospitais com 10 leitos cada, porque, de repente, só vou pegar hospitais de baixa complexidade. Eu tenho que garantir que haja um hospital geral com leitos vinculados diretamente. Também não adianta pegar um hospital muito bom, do ponto de vista assistencial, mas que não seja uma boa escola — pontua.
Trindade salienta que um mesmo hospital vinculado a múltiplas universidades também é algo que baixa a qualidade do ensino ofertado, uma vez que as possibilidades de prática ficam reduzidas.
Além de defender a existência de uma prova prática dentro do Enade para identificar essas habilidades entre os formandos em Medicina, o presidente do Cremers afirma que está sendo debatida a criação de um exame para esses estudantes, nos moldes da prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para alunos de Direito.