O Rio Grande do Sul terá sua primeira graduação voltada para a educação de indígenas das comunidades guarani mbyá. A licenciatura será oferecida pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em uma só edição com vagas para 30 estudantes, com aula no campus da cidade e nas aldeias onde moram os alunos matriculados.
Por enquanto, 24 das 30 vagas foram preenchidas. Um edital para a ocupação das vagas remanescentes está com inscrições abertas até o dia 10 de fevereiro. Informações estão disponíveis neste link. A prioridade é para membros da comunidade guarani mbyá, em especial àqueles que já atuam em escolas indígenas.
O curso era uma reivindicação de comunidades guarani, para qualificar o ensino ofertado nas escolas indígenas. As aulas ocorrerão dentro do Parfor Equidade, um braço do Programa de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor) focado no atendimento de redes que ofereçam educação escolar indígena, quilombola e do campo, educação especial inclusiva ou educação bilíngue de surdos.
O currículo da Licenciatura Mbyá Guarani Educação Intercultural Indígena foi elaborado por meio de diálogo entre professores da UFSM e comunidades guarani mbyá da região em especial da Tekoa Guaviraty Porã, de Santa Maria, segundo o coordenador da graduação, Vítor Jochims Schneider.
— Conforme previsto pela Constituição Federal e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, os povos indígenas do território nacional têm o direito ao uso das suas línguas originárias e de seus métodos de aprendizagem no espaço escolar. Para consolidação desse direito, é necessário que haja formação específica de professores, oriundos das comunidades indígenas, para atuação nesses espaços — descreve Schneider.
No RS, há mais de 80 escolas indígenas. Tradicionalmente, há carência de professores indígenas nesses espaços. A expectativa, com a licenciatura, é de que haja mais docentes qualificados para atuarem nas instituições.
As aulas em ambientes diversos – o campus da UFSM e atividades interdisciplinares nas aldeias onde moram os alunos – fazem parte de uma proposta chamada “pedagogia da alternância”, que visa a aproximação da realidade do estudante e a troca de conhecimentos entre seu ambiente de vida e trabalho e o escolar. Parte das aulas será ministrada em guarani.
Atualmente, há alunos matriculados pertencentes a sete aldeias: Guaviraty Porã (Santa Maria), Guabiju (Cachoeira do Sul), Koenju (São Miguel das Missões), Pyau (Santo Ângelo), Ka’aty (Erebango), Gengibre (Erval Seco), Salto Grande do Jacuí (Salto do Jacuí), Jataí'ty e Pindó Mirim (Viamão).
Ingresso de indígenas
A UFSM possui, desde 2007, ações afirmativas destinadas a indígenas. Em 2016, a instituição também criou um processo próprio de seleção de estudantes indígenas em cursos de graduação, conforme o pró-reitor de Graduação, Jerônimo Tybusch.
— São vagas a mais, criadas a partir de todo um trabalho de contato com as comunidades indígenas de diferentes regiões do Estado do Rio Grande do Sul, que apontam cursos onde existe a necessidade de formação de profissionais para atuarem nas aldeias — explica Tybusch.
Com o tempo, a principal preocupação expressada foi com a formação de professores. Uma graduação em Educação Indígena Interdisciplinar à distância já é oferecida pela UFSM, lançada para sanar, em especial, uma demanda da comunidade kaingang.
Em 2025, por meio do Parfor Equidade, a UFSM oferecerá três cursos de licenciatura: a graduação voltada para os guaranis mbyá, outra voltada para a formação de professores focada na comunidade caingangue, na região de Frederico Westphalen, e uma terceira destinada à formação de professores de educação inclusiva.