A manhã foi agitada no Campus Centro da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com a presença de centenas pessoas reunidas em frente à reitoria. Em vigília, os manifestantes pediram que fosse respeitada a paridade na votação do Conselho Universitário (Consun), realizada nesta sexta-feira (19). A mais votada foi a candidata da chapa 3, com 44 dos 75 votos dos conselheiros. Agora, a lista tríplice segue para o Ministério da Educação (MEC), que é responsável pela decisão final.
Representada pelos professores Marcia Barbosa e Pedro Costa, a chapa tinha sido a mais votada na consulta à comunidade, realizada no início da semana, se considerada a paridade dos votos. No entanto, tomando como base a somatória de votos com peso maior para os docentes, sem paridade, seria vencedora a chapa 2, formada por Ilma Brum e Vladimir Nascimento.
Com isso, a manhã foi de tensão no campus. Docentes, servidores técnico-administrativos e estudantes participaram do protesto, munidos de bandeiras e adesivos, boa parte deles defendendo a vitória da chapa 3. Marcaram presença entidades estudantis e sindicais, incluindo o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN).
— No ano passado, foi decidido que a comunidade da UFRGS poderia escolher a reitoria de forma paritária. Foi um processo maduro, com muita discussão, com diálogo com as unidades acadêmicas, não foi apenas uma decisão do conselho. Será lamentável se isso não for reconhecido — afirmou a professora do Instituto de Matemática e Estatística, Suzy Alves Camey, que participou do ato.
— A paridade seria primeiro passo para haver maior participação dos alunos na universidade e nos espaços de tomada de decisões. Não podemos negociar isso, essa é nossa luta — disse a estudante do curso de Economia, Amanda Pereira, 22 anos.
O ato foi realizado dentro do campus, próximo ao Salão de Atos. A entrada no prédio da reitoria foi restringida, com gradis impedindo a passagem e reforço na segurança. Duas viaturas da Polícia Federal estavam no local. Com isso, boa parte dos alunos e professores acompanharam a votação do Consun pela transmissão ao vivo.
Na quinta-feira (18), a universidade publicou um decreto limitando as atividades presenciais na reitoria e arredores nesta sexta, com o intuito de “evitar o acirramento dos ânimos exteriorizados pelas redes sociais, manifestações de apreço e desapreço aos membros do Consun, para preservar o patrimônio público e integridade física das pessoas".
Manifesto da chapa 2
No início da manhã, a chapa 2 publicou nas redes sociais um manifesto, assinado por Ilma Brum e Vladimir Nascimento, reforçando que reconhece que a chapa 3 foi a escolhida pela comunidade na consulta informal.
“Em respeito à manifestação, pelo voto, das pessoas que acreditaram na paridade, reconhecemos o resultado paritário. Nossos apoiadores expressarão seus votos com a autonomia que lhes é de direito e com a responsabilidade de membros do Conselho Universitário, garantindo a expressão da vontade das pessoas que participaram da eleição”, diz o documento.
— A chapa 2 apoiou a paridade desde o início, mas nós sempre fomos contra a forma com que ela foi implementada. A forma não é correta e traz fragilidades judiciais sérias. Mas nós acreditamos que a votação no conselho dará ganho à chapa 3 que, pelo cálculo paritário extraoficial, foi a chapa escolhida pela comunidade, e nós respeitamos essa escolha — explicou à reportagem a professora Ilma, pouco antes de ser divulgado o resultado.
A sessão do Consun teve início às 8h30min, mas os conselheiros começaram a votar por volta das 9h50min. A votação durou cerca de duas horas. A mesa foi coordenada pela vice-reitora da UFRGS, a professora Patricia Pranke. Participaram da votação 75 dos 77 integrantes do órgão.
Ao longo da manhã, os manifestantes gritaram palavras de ordem reivindicando a paridade, como “70, 15, 15 não é democracia, eu quero paridade para mudar a reitoria”. Eles se referiam ao cálculo de votos sem paridade. Em todas as eleições para a reitoria realizadas até agora, os votos dos professores tinham peso de 70%, contra 15% os dos estudantes e 15% os dos técnicos-administrativos.
Neste ano, a previsão inicial era de que as escolhas dos três segmentos tivessem o mesmo peso. Com a votação do Consun, órgão máximo deliberativo, foi vitoriosa a chapa 3, a mesma escolhida pela comunidade, considerando a paridade. Após o resultado, os manifestantes celebraram.