Era para ser uma aposentadoria sem percalços. Quando começou a contribuir com a Funcef, em 1977, ano de criação do fundo de pensão da Caixa, Paulo Homero Rodrigues, hoje com 64 anos, imaginava que teria uma vida tranquila ao deixar a ativa.
Oito anos após a aposentadoria, é um dos dezenas de milhares de assistidos que passarão a ter desconto somado de 10,64% no benefício, por um período que pode chegar a 17 anos.
Quando trabalhava, na área de TI do banco estatal, chegou a trocar de plano e optar por desembolso maior de seu salário para receber mais no futuro.
— Não tenho outra atividade. Perder quase 11% da aposentadoria não é pouca coisa. Já tenho minhas contas bem enxutas, sem nenhuma extravagância, mas vou ter que fazer alguma outra economia — projeta o ex-Caixa.
Rodrigues ainda não sabe exatamente onde vai cortar, mas sinaliza que diminuirão as atividades de lazer. O churrasco dos finais de semana talvez fique mais modesto. Viagens também estão descartadas. A revolta é porque, apesar de não ter culpa no rombo, terá de ajudar a pagar a conta.
— As aplicações vinham dando certo, mas de uns anos para cá as notícias eram de que não estavam tão bem assim devido à ingerência política e a investimentos duvidosos — lamenta o aposentado.
Para Rodrigues, haveria alternativas para poupar os beneficiários. Uma delas poderia ser vender parte do grande patrimônio da Funcef. São R$ 59 bilhões em ativos.
Ele se queixa ainda da Caixa, que, na interpretação de entidades ligadas aos associados do fundo, seria devedora da entidade por um contencioso que envolve disputas trabalhistas e previdenciárias. Entre os beneficiários do Petros, da Petrobras, a revolta é semelhante.
O aposentado Gelci Almeida Rodrigues, 59 anos, técnico em eletricidade entre 1989 e 2012, não concorda com a conta que deve pagar provavelmente a partir do final do ano e avalia que a decisão do conselho de administração do fundo seja contestada na Justiça.
— Contribuí por muitos anos com o Petros e não fiz este rombo — esbraveja.
Mesmo divergindo do desconto, já começa a pensar que despesas terá de cortar. Tem um filho de seis anos que estuda em escola particular. Ajuda outro, já adulto, que recém se formou mas vai começar mestrado.
Não gostaria de ter de rever os investimentos em educação. Vender o carro é uma possibilidade. O aposentado até tem outra fonte de renda, mas o salário não cai na conta em dia. Como professor do Estado, vem recebendo de forma parcelada.