Apesar dos esforços do ex-ministro Joaquim Levy para aprovar medidas de ajuste nas contas públicas, poucas ações de efeito foram aprovadas pelo Congresso e colocadas em prática. Com dificuldades na arrecadação de impostos – afetada pela crise econômica – e sem conseguir eliminar gastos, o economista viu sua credibilidade ser cada vez mais questionada por analistas de mercado e empresários ao longo do ano, que passaram a duvidar da capacidade do ministro de convencer deputados e senadores a realizar mudanças.
Nos 12 meses de Levy no comando da Fazenda, a economia brasileira piorou bastante. A inflação, que já estava próxima ao teto da meta do governo, de 6,5% em 12 meses, disparou, e a projeção do PIB para 2015 partiu de um quadro de estagnação para a pior recessão em 25 anos. A previsão atual é fechar o ano com 10,71%.
O desemprego também deu um salto. Depois de fechar 2014 com o menor patamar da história, 4,8%, a taxa chegou a 7,5% em novembro, uma leve desaceleração em relação a outubro, mas a maior para o mês desde 2008.
O câmbio também refletiu os efeitos da crise econômica e avançou 46% no período em que Levy esteve no comando do Ministério.
Levy em 12 atos
JANEIRO
Assume o superministro
Joaquim Levy assume o comando do Ministério da Fazenda com status de superministro, homem capaz de colocar a economia brasileira nos trilhos, enfrentando um baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), alta da inflação, déficit da balança comercial e descontrole das contas do Estado. Com perfil técnico, vindo do sistema financeiro, o economista era tido como fiador do segundo mandato da presidente Dilma perante a iniciativa privada.
FEVEREIRO
Começa o fogo amigo
No primeiro mês no cargo, Levy mira aumentar arrecadação de impostos e elimina boa parte das desonerações fiscais dadas a empresas pelo ministro anterior, Guido Mantega - estratégia que definiu como "brincadeira cara" e "negócio grosseiro". O excesso de sinceridade foi criticado pela presidente Dilma que considerou o ministro "coloquial demais". No governo, aliados começam a criticar o ajuste fiscal e a política econômica defendida pelo novo titular da Fazenda.
MARÇO
Primeiro embate com o Congresso
Depois de uma reunião do presidente do Senado, Renan Calheiros, com líderes partidários, o Congresso devolve no início do mês a medida provisória editada pelo Planalto que reduzia a desoneração da folha de pagamento das empresas. "Para qualquer ajuste, é preciso primeiro ouvir o Congresso Nacional", disse Calheiros, sinalizando dificuldades que Levy enfrentaria dali em diante.
ABRIL
Levy, o articulador político
Frente à dificuldade de diálogo entre Planalto e Congresso, Levy - que tem perfil técnico - ensaia papel de articulador do ajuste no Legislativo. Com credibilidade no mercado financeiro e sem filiação partidária, seria o único capaz de convencer deputados e senadores da necessidade de ajuste. Em reunião do FMI nos Estados Unidos, o ministro afirma que o governo lançará programa de concessões em maio.
MAIO
O ministro está gripado
O tamanho do corte no orçamento gera desentendimentos no governo. Levy, que defendia uma tesourada maior nos gastos, perde a queda de braço para o ministro do Planejamento Nelson Barbosa - que conseguiu apoio da chefe, a presidente Dilma, e encaminhou ao Congresso enxugamento modesto de R$ 69,9 bilhões. Irritado com o colega, Levy faltou à coletiva de imprensa alegando estar "resfriado".
JUNHO
Viagem com Dilma em busca de investidores
Diagnosticado com embolia pulmonar, obstrução das artérias dos pulmões por coágulos, Levy é hospitalizado. É liberado dias depois sob recomendação de repouso. Mas desrespeita ordens médicas para acompanhar, nos Estados Unidos, a presidente Dilma, que buscava atrair investidores para o programa de concessões anunciados no início do mês.
JULHO
Superávit primário vai pelo ralo
Sem conseguir aumentar a arrecadação e cortar despesas, o governo precisa rever a meta de superávit primário, economia feita para pagamento de juros da dívida. O anúncio da revisão da meta fiscal de 2015 - de 1,1% para 0,15% - cai como uma bomba nos mercados. O dólar dispara, a bolsa cai e aumentam as apostas de que o Brasil perderia o grau de investimento. É a segunda grande derrota de Levy dentro do governo.
AGOSTO
Levy compra briga com Temer e ministros
Disposto a enxugar as despesas do governo, Levy entra em atrito com o vice-presidente, Michel Temer, então titular da articulação política, por causa da liberação de R$ 500 milhões em emendas a parlamentares. A medida era considerada crucial à estratégia de amenizar a rebelião de partidos aliados. O então titular da Secretaria de Aviação, Eliseu Padilha - no comando da distribuição de cargos e verbas parlamentares ao lado de Temer - chegou a bater boca com Levy, que acabou mais uma vez derrotado.
SETEMBRO
Governo propõe a volta da CPMF
Para tentar aumentar a confiança na política econômica, o ministro da Fazenda anuncia um bloqueio adicional de gastos no orçamento de 2016 no valor de R$ 26 bilhões e proposta de retorno da CPMF. O imposto seria responsável por metade do ajuste nas contas públicas para o ano de 2016, que é de R$ 64,9 bilhões. No mesmo dia, o Planalto comunica redução de ministérios e cargos de confiança, gerando uma redução de gastos de R$ 200 milhões.
OUTUBRO
Levy perde relevância
Ferido por fogo amigo e sucessivas derrotas no Congresso, Levy perde relevância e já não é mais visto como um superministro no Planalto. Bombardeado pelo ex-presidente Lula e por parte do PT, que almejam Henrique Meirelles no comando da pasta, Levy ameaça sair do governo. No mesmo mês, o Brasil tem a nota rebaixada pela agência de classificação de risco Fitch, depois de já ter perdido o grau de investimento de outra agência, a Standard & Poor's.
NOVEMBRO
Com um pé fora do governo
Com a credibilidade arranhada, cresce os rumores da troca de ministro. Levy sinaliza a parlamentares que deixaria o cargo se a meta de superávit primário - economia para o pagamento dos juros da dívida pública - de 2016 fosse reduzida de 0,7% do PIB para zero. Seria a pá de cal no programa de ajuste do economista.
DEZEMBRO
Saída inevitável
Contrariando os apelos do ministro da Fazenda e os alertas do mercado financeiro, o governo encaminha ao Congresso proposta para alterar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2016 e reduzir a meta fiscal do ano que vem para 0,5% do PIB. A medida torna a saída de Joaquim Levy praticamente inevitável. Durante reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), o ministro avisa que talvez não estivesse no encontro agendado para janeiro e confirma a jornalistas que conversa com Dilma sobre sua saída do governo.