Se a própria empresa não ajuda, o mercado trata de interpretar o impacto das inconsistências na prestação de contas da Petrobras. Em um único dia, a maior companhia do Brasil perdeu quase R$ 14 bilhões em valor de mercado, representado pela quantidade de ações multiplicada por sua cotação.
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Em percentual, a queda de quinta-feira foi a 5ª maior em um único dia nos últimos 15 anos, só superada por dois momentos de intenso estresse: a crise global de 2008 (com perdas diárias de 13,76%, 12,09% e 11,23%) e a especulação do final de 2014 (perda de 12,33% em 27 de outubro, o dia seguinte à reeleição de Dilma Rousseff).
Depois do suspense na terça-feira, que terminou sem a esperada divulgação dos números do terceiro trimestre de 2014, as informações piscaram nas caixas de entrada dos investidores entre 3h e 4h da madrugada de quarta.
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Acompanhava os números uma carta em que a presidente da Petrobras, Graça Foster, considerava "impraticável" o cálculo isolado do valor das perdas com pagamento de propina e superfaturamento decorrentes do cartel que dominou a estatal.Mesmo assim, apresentava uma conta que, entre os fatores a descontar e a acrescentar, representaria R$ 61,4 bilhões a menos nos ativos da estatal.
Entre falta de transparência na prestação de contas, projeção de perdas acima do que o mercado esperava (ao redor de R$ 52 bilhões) e expectativa de desempenho operacional abaixo do previsto, a reação foi estrondosa. O arranhão na imagem e na credibilidade da empresa foi explicitado também em adjetivos.
O balanço foi chamado de "peça de ficção" por operadores habituados a usar termos mais técnicos. O advogado André de Almeida, que faz parte do processo Class Action contra a estatal nos Estados Unidos, resumiu:
- Os gestores da Petrobras não saberem o tamanho das perdas econômicas já é bastante grave. Não admitir que tais incontestáveis perdas existem em seu balancete é ainda pior, pois segue na tática de divulgar números imprecisos, deixando os acionistas e credores da Petrobras no escuro.
Quem tenta compreender a lógica da atual gestão desenvolve a seguinte tese: ao reconhecer esse tamanho de perdas agora, a companhia daria munição para ações judiciais de acionistas minoritários que pipocam de Porto Alegre a Nova York. E a montanha-russa pode ter novo deslizamento hoje, para quando está prevista a apresentação detalhada dos dados a analistas e investidores.
Opinião
Marta Sfredo: ações da Petrobras têm quinta maior queda dos últimos 15 anos
Em um único dia, a maior companhia do Brasil perdeu quase R$ 14 bilhões em valor de mercado, representado pela quantidade de ações multiplicada por sua cotação
Marta Sfredo
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