Depois de quase ter ido embora sem nem ao menos ter chegado, a fábrica de caminhões Foton começa de fato a fincar os pés em Guaíba. As obras começam nesta sexta-feira com o início da terraplenagem no terreno, mas para ficar pronta dentro do prazo esperado a empresa precisa encontrar um sócio.
Omais provável é que o parceiro seja o governo do Estado, via Badesul, a agência de fomento vinculada à Secretaria de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (SPDI) - inspirada no modelo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social Participações (BNDESPar) que tem fatias de diversas companhias em carteira como forma para incentivar a indústria nacional.
A ideia do Piratini é se tornar um sócio minoritário e temporário da Foton, saindo da sociedade assim que o negócio estiver consolidado, cerca de 10 anos. Estratégia semelhante foi utilizada com outras montadores, como entre o governo catarinense com a BMW e o governo fluminense com a Peugeot.
A confirmação da parceria deve sair em 30 dias, conforme o secretário da SPDI, Mauro Knijnik. Antes de consolidar o negócio, o governo precisa do aval do banco. Caso a recomendação não seja dada, Knijnik garante ter alternativas, para assegurar que não haja atraso nas obras.
- Contamos com um plano B ou C, mas não posso revelar quais são - disse Knijnik.
Por lei, o Banco Central determina uma participação máxima de 25% no capital da empresa. O tamanho do possível aporte público não é divulgado, mas depende da perspectiva de especialistas do banco sobre a rentabilidade do negócio.
Garantia de empréstimo fez companhia voltar ao Estado
Após meses de negociação com o governo gaúcho, a montadora chinesa chegou a anunciar no ano passado a instalação da fábrica no Rio de Janeiro, mudança de planos que pegou o governo gaúcho de surpresa. Um dos atrativos oferecidos pelo Piratini para trazer o empreendimento de volta foi a garantia de um empréstimo-ponte de R$ 40 milhões pelo Banrisul para o início das obras. Com a tática, o governo fluminense foi surpreendido.
De acordo com o ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros, representante da Foton no Brasil, a escolha do Rio Grande do Sul obedeceu a critérios técnicos e logísticos.
- Guaíba está localizada em uma região estratégica, com fácil acesso ao porto de Rio Grande, próxima a um grande centro industrial com disponibilidade de mão-de-obra qualificada, além da infraestrutura municipal necessária para comportar um projeto do porte de uma fábrica de caminhões - explicou.
Os planos
Serão ocupados 150 hectares de parte da antiga área destinada à Ford, em Guaíba. A fábrica terá 200 mil metros quadrados de área construída
Com a liberação da licença ambiental, as obras começam hoje com a terraplenagem do terreno
O investimento é de R$ 250 milhões. A estimativa é de que a obra fique pronta em 16 meses
Metade dos recursos são próprios. Outros 50% dependem de uma futura sociedade
Cerca de R$ 70 milhões adicionais serão destinados às operações de logística, distribuição de peças e desenvolvimento da rede de concessionárias
Após concluída, a fábrica estará apta a produzir 21 mil caminhões por ano, entre veículos leves (3,5 toneladas) e semipesados (17 toneladas)
Serão gerados 150 empregos diretos e 900 indiretos e mais 1,5 mil em sistemistas, fornecedores de peças
A expectativa é de que sejam contratados trabalhadores da região. Não está previsto a vinda de chineses para região
As primeiras unidades sairão da linha de montagem com um índice de 60% de peças nacionais