Walter Bergamaschi veio estudar em Porto Alegre na década de 1960, vindo de Putinga. Um amigo que trabalhava na fábrica de fogões Wallig sugeriu que ele tentasse um emprego na indústria. Bergamaschi não conseguiu a vaga, mas profetizou:
- Um dia vou ter minha própria fábrica e empregar mil pessoas.
Mais de 40 anos depois, seu desejo está parcialmente alcançado.
O agora empresário é presidente da Venax Eletrodomésticos, com sede em Venâncio Aires, no Vale do Rio Pardo. Atualmente, são cerca de 500 funcionários, mas planos ambiciosos devem aproximá-lo da meta.
A história da Venax é marcada por dificuldades, relata Bergamaschi. Um ano depois de assumir a empresa, veio o Plano Cruzado, em 1986, que prejudicou o fornecimento de complementos e matéria-prima. Um dos primeiros embarques de fogões para o Norte do país foi problemático: a transportadora carioca contratada simplesmente sumiu com a mercadoria. Além disso, a indústria teve de superar o incêndio que consumiu o pavilhão de refrigeradores, em 2000, e a cheia do Arroio Castelhano, que alagou a fábrica em 2009, parando a produção por uma semana.
A própria sobrevivência da marca representa uma superação. Conhecida no município, a Metalúrgica Venax teve problemas financeiros no início dos anos 1980 e encerrou as atividades. Máquinas, pavilhões e outros equipamentos foram a leilão em 1984. Foi aí que Bergamaschi entrou no negócio, comprando equipamentos para produção de fogões a gás e o direito de uso da marca. O investimento feito na época equivale hoje a R$ 1 milhão.
No ano seguinte, a indústria foi reinaugurada com o nome de Metalúrgica Venan, em homenagem ao município. O negócio familiar começou pela produção de fogões a gás e, três anos depois, acrescentou uma linha de fogões a lenha. Na mesma época, com a aquisição de maquinários da Steigleder, na Capital, passou a fabricar refrigeradores.
A trajetória da empresa teve caminho inverso ao da maioria. Em vez de focar as vendas no mercado interno e depois ultrapassar fronteiras, a marca investiu forte no Exterior, impulsionada pelo recém-criado Mercosul. Sobre a experiência, Bergamaschi conta que uma vez, ao negociar com argentinos, precisou ser firme:
- Disseram que, para vender lá, os produtos teriam de durar 25 anos. Consegui convencê-los e acertei uma venda de 30 mil fogões, o equivalente a um ano de produção na época.
Nos primeiros anos, 90% da produção era destinada para fora do país. Hoje, as exportações correspondem a 30%. As linhas de eletrodomésticos chegam a 11 países.
Surge a linha vintage
O crescimento das vendas e a necessidade de diversificar a produção fizeram com que a razão social fosse alterada em 2003. O nome Venax voltou a ser utilizado. A filha de Walter Bergamaschi, Fabiana, estudante de Arquitetura na época, usou sua formação para mudar marca e design dos produtos. Também começou a produção de fogões de mesa, frigobares e fornos de embutir, além de uma linha vintage de fogões a lenha. Hoje a maior procura é de fogões a gás e a lenha, cervejeiras e fornos de embutir.
Uma das iniciativas da empresa foi adicionar cores a produtos da chamada linha branca. Durante uma feira em Bento Gonçalves, a Venax apresentou um fogão amarelo. Uns gostaram, outros nem tanto.
- A partir daí, procuramos ser cada vez mais diferenciados. Não importa a volatilidade do mercado, temos de manter a qualidade - diz ela.
Fabiana conta que já ocorreram pedidos inusitados, como o de um forno amarelo com bolinhas pretas e outro com o vermelho da Ferrari.
A empresa familiar - o outro filho, Walter Bergamaschi Jr., também é diretor - é responsável por cerca de 2% da arrecadação de ICMS do município e projeta avançar nos próximos cinco anos. Uma nova fábrica deve ser construída no distrito industrial, e um centro de distribuição será aberto em São Paulo, para facilitar a logística, fortalecer o mercado interno e se aproximar da matéria-prima, o aço, comprado em Minas Gerais.
Perfil
- Fundação: 1º de maio de 1985
- Localização: Venâncio Aires
- Descrição: fábrica de eletrodomésticos
- Faturamento em 2012: R$ 70 milhões
- Projeção de faturamento para 2013: R$ 80 milhões
- Número de funcionários: 490
- Principais produtos: fogões a gás, a lenha, industriais, cooktops, fornos de embutir a gás e elétricos, frigobares, cervejeiras, freezers e adegas, entre outros.
- Exportação: 11 países, entre os quais, Uruguai, Bolívia, Argentina, Angola, Venezuela, Chile, Suriname e Panamá.
legenda
Fabiana, com o pai Walter, ajudou a mudar a marca e o design dos produtos