Foram 12 anos de um lento escurecer. Ao mesmo tempo em que perdia gradualmente a visão, Carlos Alberto Wolke dava os primeiros passos como empresário. Passada mais de uma década desde que deixou de enxergar, Wolke comanda uma empresa especializada em tecnologia aplicada às telecomunicações, com 32 funcionários e faturamento anual de R$ 4 milhões.
O crescimento da empresa se deu em paralelo com a perda de visão de seu fundador. Durante esse processo, o mais difícil para o empresário de 42 anos não foi se adaptar à perda de visão, nem tocar sozinho o empreendimento. A maior dificuldade foi aceitar a sua condição.
- Quando eu soube que ficaria cego, achei que quando acontecesse eu não poderia fazer mais nada - diz o empresário.
A notícia de que tinha uma doença chamada retinose pigmentar veio quando Wolke tinha 20 anos. Técnico em eletrônica, ele trabalhava em uma empresa especializada em ponto eletrônico, onde ficou por cinco anos. Nessa época, largou o emprego e com outros sócios começou um negócio próprio. Não deu certo.
- Acabei saindo da sociedade. Eu morava em um pequeno apartamento e gostava de música. Comecei a fazer jingles, comerciais, produzir músicos e gravar esperas para secretárias eletrônicas - lembra.
Notou que as empresas tinham problemas com sistemas de gravação de chamadas. Por isso, resolveu aplicar seus conhecimentos em eletrônica para desenvolver um gravador próprio, seu primeiro produto. Era o começo da Pináculo, em 1997.
Os primeiros anos foram difíceis. O empresário mantinha a empresa dentro de seu apartamento e lutava contra a perda de visão. Na esperança de continuar enxergando, fez três cirurgias em Cuba. Enquanto isso, a Pináculo não engrenava.
- Eu tinha vergonha de não enxergar, eu mesmo me discriminava. Se vinha um fornecedor ou um cliente, eu não atendia. Pensava que as pessoas não iriam dar credibilidade ou querer negociar com um cara que não enxergava - conta Wolke.
Perda da visão e sucesso profissional
O empresário perdeu completamente a visão há 12 anos. Não se vestia sozinho, não saía de casa, sequer tinhas as chaves do apartamento em que vivia. Dependia completamente da ajuda de outras pessoas. Nessa época, a empresa viveu seu pior momento. Trancado no apartamento e com sua empresa em risco, Wolke resolveu que era hora de mudar o jogo.
- Acabou a correria. Antes de perder a visão, eu vivia correndo, pensando que a minha vida ia acabar. Naquele momento, esse peso sumiu. Com apenas 32 anos, eu estava vivo e poderia fazer tudo o que quisesse do resto da minha vida, desde que me adaptasse - lembra o empresário.
Wolke começou a se ajustar à nova condição. Fez uma cópia das chaves, aprendeu a sair de casa e sentiu que uma nova vida começava. Passou a ter contato direto com fornecedores e clientes e investiu na criação de produtos diferenciados. Curiosamente, a partir do momento em que perdeu completamente a visão e começou a se aceitar, a Pináculo iniciou seu crescimento.
Em poucos anos, a empresa saiu do apartamento e foi para uma sede própria. A Pináculo apostou em um equipamento que faz a interface de centrais telefônicas baseadas em uma linha fixa com uma linha de celular, reduzindo os custos de quem adquire o produto. O sistema se tornou o carro-chefe da empresa.
- Eu assumi uma atitude de empresário, que antes eu não tinha. Quando fiquei cego, minha empresa deslanchou. Eu sabia que não tinha nada mais a perder do que já havia se ido - ressalta.
Responsabilidades compartilhadas
Atualmente, a Pináculo conta com engenheiros e programadores. Trabalha com projetos desenvolvidos pela empresa, principalmente para a área de telefonia. Mesmo depois de perder a visão, Carlos Alberto Wolke seguiu trabalhando com circuitos eletrônicos, mas agora delega funções.
- Não deixei de fazer as coisas por não enxergar. Deixei de fazer porque tenho de cuidar da gestão de toda a empresa - conta.
Todos os dias, uma van o leva do apartamento onde mora até a empresa. Wolke conhece cada sala sem precisar de ajuda para andar pelo local. Para trabalhar, um computador adaptado foi instalado na sala do diretor. A gestão do empreendimento também é dividida com auxiliares, mas a palavra final é sempre do empresário.
- Confio cegamente no pessoal a minha volta - brinca, bem-humorado.
No momento, a empresa projeta o futuro. Em breve, o espaço físico da sede deverá ser ampliado. A aposta é no novo produto desenvolvido pela Pináculo: o Vocalizer, um aparelho para auxiliar deficientes visuais lendo e informando cores, valores de cédulas de dinheiro, entre outras funções.
- Estamos crescendo e acredito que vamos avançar ainda mais. O Vocalizer é nosso desafio no momento, e acreditamos que dará certo - destaca o empresário.