Passageiros sempre devem afivelar o equipamento de segurança da poltrona quando o avião atravessa zonas de turbulência. É indispensável que se cumpra a regra. Pois agora são as empresas aéreas que estão apertando o cinto para enxugar despesas. Alegam que são ajustes necessários para sair do vermelho. Só as maiores companhias do país, TAM e Gol, acumularam R$ 1 bilhão de prejuízos em 2011.
Como o céu não é de brigadeiro para a aviação brasileira, quem vai sentir os efeitos das dificuldades - empresários relutam em admitir a crise - são os passageiros. Prepare-se para pagar R$ 12 por uma xícara de café solúvel (torça que esteja quente) e um mini sanduíche de pão de forma, se quiser lanche a bordo. Depois, ao lavar as mãos no banheiro, não estranhe se o jato de água da torneira vier fraco e curto.
Entidades recomendam vigilância sobre os direitos do consumidor. Antes de comprar o bilhete, o passageiro deve pesquisar preços e serviços, principalmente se a viagem for longa. As empresas não se sentem à vontade para reajustar tarifas, porque há vagas disponíveis nas aeronaves - logo, mais opções de voos. No entanto, podem reduzir as comodidades aos viajantes. E nos itens mais impensáveis.
O assessor jurídico da Associação Nacional em Defesa dos Direitos dos Passageiros do Transporte Aéreo (Andep) em Porto Alegre, Marcelo Santini, aponta que companhias estão cobrando até por um copo de água pedido a bordo.
- Nota-se uma queda na qualidade dos serviços e falta de informação a respeito. O consumidor deve cuidar para não ser surpreendido - alerta Santini.
Os cortes são pontuais, não estariam afetando a segurança dos voos. Empresários argumentam que estão pressionados por altas no preço do combustível, nas taxas aeroportuárias e no dólar. Justificam que seguem a tendência mundial de low cost (baixo custo), iniciada nos Estados Unidos e disseminada pela Europa.
Serviço de bordo encolheu
Empresas aéreas brasileiras parecem copiar o exemplo da American Airlines, que teria economizado US$ 40 mil dólares (R$ 80 mil) por ano, na década de 1980, ao suprimir a única azeitona da salada oferecida aos passageiros da primeira classe. A estratégia é aproveitar cada grão, para formar uma montanha de poupança.
Mas as companhias daqui estariam reduzindo mais do que a azeitona. A coordenadora institucional da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste), Maria Inês Dolci, diz que a Gol está cortando até na água dos banheiros das aeronaves. Também encolheu o tamanho do tíquete da passagem, para economizar no papel e na tinta.
Pequenos cortes soam insignificantes, mas avultam na grande escala, levando-se em conta que a Gol faz 300 mil voos por ano. A diretoria da empresa confirma as medidas, necessárias diante do prejuízo de R$ 751 milhões registrado em 2011. No entanto, a Proteste pediu que Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) fiscalize a manutenção dos aviões, em todas as companhias, sem exceções.
- A economia não pode, em nenhuma das empresas, prejudicar a segurança - afirma Maria Inês.
Companhias passaram a cobrar pelo lanche a bordo, até por um copo de refrigerante. E mais reduções estão a caminho. Empresas tradicionais (estilo legacy) dos Estados Unidos eliminaram a primeira classe, devido à baixa procura: somente 25% dos passageiros pagam pela poltrona vip, os outros usam milhas. Outra estratégia foi reconfigurar o espaço premium em classe executiva, para atrair os viajantes de negócios.
Nacionais também devem reduzir a primeira classe
A novidade deve chegar ao Brasil. O diretor técnico do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), Ronaldo Jenkins, diz que companhias legacy precisam enfrentar a concorrência das low cost (baixo custo), que mantêm aeronaves com estrutura espartana.
- A tendência é nivelar por baixo. É uma questão de custo - afirma Jenkins.
Especialistas acompanham as adequações das empresas, que também estão suspendendo voos deficitários e apostando em rotas mais promissoras. Professor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) de São José dos Campos (SP), Alessandro Vinícius Marques de Oliveira diz que os ajustes ocorrem sempre que a cotação do barril de petróleo sobe e a concorrência aperta.
- Acredito que os cortes atuais são mais estruturais do que conjunturais - analisa Oliveira, que é diretor do Núcleo de Competição e Regulação do Transporte Aéreo do ITA.
Autor do livro Transporte Aéreo: Economia e Políticas Públicas, Oliveira diz que a TAM e a Gol, que assumiram a liderança após a falência da Varig, estavam soberanas no mercado. Entende que as duas se expandiram o quanto podiam, agora necessitam se ajustar para enfrentar a concorrência de novas companhias, como a Azul e a WebJet.
- Sempre vai ter alguma choradeira, alguém dizendo que há crise - avalia o professor do ITA.
Corte nas despesas
Para diminuir os prejuízos, companhias aéreas apertam o cinto
Como resultado, passageiros acabam enfrentando mais dificuldades
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