O impacto da estiagem na agricultura gaúcha acarretou em quebra de 41,9% na safra de grãos do verão 2021-2022 em relação à estimativa inicial. Na comparação com o ciclo anterior, a queda é de 41,1% (ver gráfico). Em termos de volume, trata-se da pior colheita desde 2012. A estimativa final para a safra foi apresentada pela Emater, nesta terça-feira (8), na Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque.
Os números iniciais projetados pela instituição indicavam produção de 33,69 milhões de toneladas de grãos no Estado. A falta de chuva, porém, derrubou a estimativa para 19,56 milhões de toneladas. Na safra passada, foram colhidos 33,2 milhões de toneladas.
Na soja, a principal cultura do Estado, a quebra é de 52% tanto na produção quanto na produtividade em relação à primeira estimativa desta safra, com cerca de 25 sacas por hectare.
O diretor-técnico da Emater, Alencar Rugeri, explica que a média é de 53 sacas por hectare em condições normais, e que somente 20 municípios alcançaram esse patamar. Contrastando com o restante do Estado, as plantações do grão situadas nas regiões de Pelotas, Porto Alegre e Caxias do Sul foram as únicas que praticamente não registraram perdas.
— Os números são uma média do Estado, mas temos municípios com perdas catastróficas e outros são oásis. Vemos lavouras com cenários diferentes — afirma Rugeri.
O produtor de soja Paulo Wink, de São Gabriel, relata que a perda na sua lavoura chega perto de 70% nos 1,2 mil hectares de plantação. Entre novembro e dezembro, o resultado foi bom, mas o desenvolvimento da planta ficou prejudicado em janeiro com a persistência da falta de chuva e as temperaturas muito altas.
A expectativa, agora, é colher o que foi plantado tardiamente.
— Já passei por coisa difícil, mas situação como agora eu não tinha visto nada igual. A gente é apaixonado pela agricultura e pelo que faz, aí vê a soja desse jeito e dá vontade de chorar — lamenta Winck.
O agricultor Nabor Thisen diz que chama atenção a falta de uniformidade das poucas plantas que não morreram com a seca. Produtor de soja no município de Quinze de Novembro, ele também projeta perdas na casa dos 70% nos seus 93 hectares de área.
— É uma salada de plantas muito diferentes. E o que se colhe é péssimo produto. Pior é o impacto que vem depois, porque o próximo plantio vem comprometido — afirma Thisen.
No milho, a estimativa final da Emater aponta queda de 55,1% na produção em relação a projeção inicial desta safra. Na comparação com a colheita anterior (2020/21), a quebra é de 37,5%. O milho silagem, importante para a alimentação dos animais, além das perdas enormes em volumes, com produção 57,8% menor ante à primeira estimativa, outro fator que preocupa é a qualidade do grão, inferior a de safras passadas.
No arroz, os efeitos da escassez hídrica são menores. A produção e a produtividade ficaram 4% inferiores aos dados iniciais projetados. Na comparação com o ciclo anterior, a quebra é de 13,1%. Segundo Rugeri, as temperaturas ficaram muito além do previsível, apesar da irrigação na cultura.
Cobrança
O diretor-técnico chamou atenção para uma característica geográfica da estiagem, que afetou de maneira oposta as regiões Leste e Oeste. Em episódios anteriores de estiagem, o contraste costumava ser entre o Norte e o Sul.
— É uma estiagem diferente, de Leste a Oeste. As maiores áreas produtoras de soja estão na região Oeste e as perdas também se concentram lá — afirmou Rugeri.
A secretária estadual da Agricultura, Silvana Covatti, que participou do início da apresentação, referiu-se à estiagem como a mais grave dos últimos tempos. E frisou o impacto econômico que a quebra da produção trará para o Estado:
— Vamos perder nossa economia? Vamos. Temos o compromisso de fazer a parte do Estado. Precisamos negociar dívidas do nosso produtor e para isso precisamos de respostas do governo federal.
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, chegou a verificar a situação da estiagem no RS em janeiro, mas desde então produtores cobram ações efetivas do governo federal para mitigar os danos.