
Não é difícil se sentir próxima de Camila Fremder e de suas paranoias compartilhadas no podcast É Noia Minha?. Isso se deve ao interesse da publicitária e escritora em expandir o que se passa na sua cabeça e, por que não, dentro do seu coração.
Quem a escuta provavelmente conhece algumas de suas histórias pessoais e perrengues do passado, além de se sentir aliviado ao perceber que aquela opinião que parecia única – e que, por vergonha, não compartilhava com ninguém – na verdade é mais comum do que imaginava, como um medo irracional ou uma insegurança boba.
Contudo, o programa não se limita a um simples bate-papo sobre sua vida. Como a própria Camila descreve, o Noia busca discutir temas pertinentes do cotidiano e ideias que estão circulando por aí, sempre com convidados dispostos a contribuir para o debate — Leandro Karnal, Dudu Bertholini, Anielle Franco e Rita Lobo são alguns dos nomes que passaram pela atração —, seja nos streamings ou nos palcos.
Podcast no teatro
Desde o fim do ano passado, Camila tem levado o É Noia Minha? aos teatros após um convite do Grupo Opus, que já apostava no formato com outros podcasts e viu potencial no programa, que soma, em 2025, seis anos no ar.
— Nunca me imaginei nessa situação. Fiquei nervosa e animada. Não sabia se as pessoas iriam, de fato, migrar para o presencial, já que eu mesma não gosto de sair de casa. Mas foi superlegal porque soltamos a primeira data (em São Paulo), e esgotou em uma hora; soltamos a segunda, e esgotou também. Então, resolvemos viajar. Se há uma demanda de pessoas fora de São Paulo – muita gente veio de outros Estados para assistir –, com certeza também vamos encontrar público em outras cidades — afirma a podcaster.
Agora, a turnê do É Noia Minha? continua com apresentações em Curitiba, no dia 26, e Porto Alegre, onde Camila se apresenta pela primeira vez no dia 27, no Teatro do Bourbon Country (Av. Túlio de Rose, 80). Ingressos à venda em gzh.digital/ENoiaMinha.
Sempre gostei muito de escrever, mas sempre achei o processo muito solitário. E senti a necessidade de dividir isso com as pessoas, sempre com a ideia de fazer algum tipo de contraponto
CAMILA FREMDER SOBRE CRIAÇÃO DO PODCAST
Publicitária, escritora, roteirista e podcaster
Na Capital, Camila terá convidados especiais, como o youtuber Cris Wraase, a blogueira Marina Smith e o escritor Pedro Pacífico, para ampliar a troca de ideias e promover um grande encontro entre gerações, tema que se tornou frequente em seus conteúdos na internet.
— Quando alguém desconsidera o conhecimento ou as experiências de uma geração mais jovem, perde uma oportunidade de troca. Tenho muitos seguidores jovens, especialmente no TikTok, e percebo que o humor é uma ferramenta de comunicação com eles. Se eu adotasse uma abordagem mais séria o tempo todo, provavelmente eles não prestariam atenção para assuntos importantes — observa a influenciadora, que também se denomina uma “pessoa sem carisma”.
Apesar deste título, que se tornou uma newsletter – Associação dos Sem Carisma –, Camila tem um número expressivo nas redes sociais, com 407 mil seguidores no Instagram e 368 mil no TikTok. Um de seus vídeos, inclusive, viralizou recentemente. Nele, a influenciadora desabafa, em tom irônico, sobre o hábito das blogueiras que ficam “brincando de adivinhação” com os seguidores.
— "Tenho uma novidade que queria muito contar." Mas a gente queria muito saber? — questiona no vídeo, que hoje já soma mais de 107 mil visualizações e se tornou um meme, algo ela que encarou com bom humor.
— Não é uma crítica às influenciadoras – porque eu também sou uma –, mas uma crítica geral. Esse meme saiu de um jeito muito legal. Pelo que ouvi, não gerou hate, não teve nada chato por conta dele. Encontrei a Lelé Burnier, que é uma TikToker bem mais nova, e ela me disse: “Eu tinha que divulgar uma coisa e ficava pensando: ‘Mas será que preciso falar? As pessoas querem mesmo saber?’”. Todo mundo deu risada — recorda a paulistana de 42 anos.
Criatividade a milhão
Antes do Noia, Camila fez parte, por dois anos, de outro podcast de sucesso, o Calcinha Larga, ao lado de Tati Bernardi e Helen Ramos. Atualmente, também conduz o E Os Namoradinhos? ao lado de Pedro Pacífico.
Mas a criatividade da publicitária não para por aí. Além de roteiros para TV, ela já escreveu seis livros, entre eles o best-seller Como Ter uma Vida Normal Sendo Louca (HarperCollins Brasil, 2019), que foi adaptado para o teatro. Recentemente, lançou sua segunda obra infantil, Quibe e o Tesouro das Abelhas, sequência de um trabalho inspirado na “amiga imaginária” de Arthur, seu filho de sete anos.
— Estamos em um momento em que lemos juntos. Um dia, ele me falou dessa amiga imaginária, que era uma formiga, e eu disse: “Cara, isso dá muito um livro”. A partir daí, fomos inventando juntos. Ele está criando histórias o tempo inteiro — explica Camila sobre a origem do primeiro livro infantil, Quibe, a Formiga Corajosa (Companhia das Letras, 2023).

Em entrevista a Donna, a influenciadora fala sobre a sua passagem por Porto Alegre, a origem do podcast É Noia Minha?, sua relação com a internet e a importância do uso humor na comunicação.
Confira a entrevista com Camila Fremder
Você está chegando a Porto Alegre com o podcast É Nóia Minha no teatro. Qual é a sua expectativa para o público gaúcho?
Porto Alegre é uma novidade para mim. Estou achando muito divertido ver os "noiers" (nome do fandom do podcast) marcando que vão e que já compraram ingresso. Estou animada porque será um primeiro contato.
Vou levar dois convidados comigo – os influenciadores Cris Wraase e Marina Smith, além do Pedro Pacífico, que irá de São Paulo. Então, também vou conhecer pessoalmente pessoas com quem já gravei remotamente, mas nunca vi ao vivo. Vai ser muito legal e acho que será uma boa mistura.
Como nasceu a ideia do podcast e o que te motivou a criá-lo?
Fiquei muito viciada em consumir podcasts, mas escutava, basicamente, os de crimes, era o que mais gostava. A partir disso, fui descobrindo outros gêneros. E quando escrevo crônicas, sempre abordo temas que estão me perturbando de alguma maneira. Então, já escrevia sobre noias. A única mudança foi transformar essa escrita de crônica para roteiro.
Sempre gostei muito de escrever, mas sempre achei o processo muito solitário. E senti a necessidade de dividir isso com as pessoas, sempre com a ideia de fazer algum tipo de contraponto. Às vezes, pelo gap geracional, pelo recorte econômico ou trazendo pessoas com visões completamente diferentes da minha. Queria entender como aquela noia se manifesta para o outro.
No fim das contas, pelos comentários e pela audiência, a gente percebe que existe um coletivo, que se engaja e se sente representado. Muitas vezes leio: “Meu Deus, que bom que não estou sozinha”.
Você divide um pouco da sua vida e da sua história no podcast e nas redes sociais. Como é para você esse nível de exposição?
Escolho muito bem o que vou mostrar. Não fui para a internet jovem, como acontece com muitas meninas. Quando comecei a fazer o Noia, já tinha uns 36 anos. Já sabia os meus limites, o que era ou não legal para mim.
Ao longo desses seis anos, também fui reconfigurando as coisas. Antes, mostrava mais da minha rotina e do meu filho. Hoje em dia, acho que as pessoas não têm mais interesse nisso – e eu mesma não tenho. Quero consumir conteúdo. E a partir do momento em que percebo que as pessoas querem que eu abra discussões, traga convidados interessantes e debata temas que estão na cabeça delas, a exposição se torna tranquila para mim.
Não sinto necessidade de postar minha vida porque isso não gera engajamento. Mas sinto necessidade de trabalhar, porque meu conteúdo está atrelado ao engajamento.
O podcast aproxima te muito do público, né? As pessoas chegam a te abordar falando da sua vida?
Elas me encontram e dizem: “gostei daquele episódio” ou “desculpa vir falar com você, porque você é sem carisma” – mas sempre de um jeito superlegal. Acho que isso vem do limite que naturalmente já estabeleci sobre o que posto ou não e sobre os assuntos que abordo.
Quando criei o Noia, há seis anos, vivíamos um momento muito "como faço risoto, como passeio com o cachorro". Não queria chamar as pessoas para falar sobre isso. Queria trazer convidados interessantes para discutir temas relevantes.
Não gosto de falar sobre pessoas, porque esse é um assunto que dura três minutos. Mas, se vira um debate mais profundo, fico horas conversando. O Noia fez muito isso, e minha interação com a audiência segue essa linha.
É gratificante poder oferecer não apenas conversas engraçadas e bem-humoradas, mas ter uma linha editorial que consegue trazer temas sérios.
CAMILA FREMDER
Publicitária, escritora, roteirista e podcaster
O humor é algo muito presente no seu trabalho. Você acredita que isso ajuda a comunicar melhor?
Sim, ele alivia o peso de situações difíceis e momentos pesados, oferece uma maneira de abordá-los com um viés humorístico, acessando lugares que poderiam me paralisar de alguma maneira. Nunca me levei muito a sério. Esse “autodeboche” é um recurso que uso para tudo. O humor acessa sentimentos e papos difíceis e humaniza as coisas.
A maternidade é um tema muito presente no seu conteúdo. Como você vê este tema antes e depois de se tornar mãe? E como é essa troca com as suas seguidoras sobre o tema?
Minha perspectiva sobre a maternidade mudou muito desde que me tornei mãe. No início, era uma fase de adaptação constante, compartilhando experiências e aprendizados com outras mães e seguidoras. Agora, com meu filho mais crescido, temas além da maternidade ocupam mais espaço nas conversas. Estou em um momento diferente, menos focado na primeira infância e mais em questões que passam pela maternidade.
Como era a sua relação com Rita Lee, sua ex-sogra? (Camila foi casada com o artista plástico Antonio Lee, filho da cantora)
Me dava muito bem com ela. Fiquei casada com o Antonio por 10 anos e, mesmo depois que nos separamos, continuamos amigos, temos uma convivência muito boa. A gente se conhece há 16 anos e durante uns 15 convivi com a Rita.
Tenho lembranças muito queridas que conto para o Arthur à noite antes de dormir. Rita foi muito presente na minha vida e na do Arthur enquanto pôde estar presente.
Quem é a Camila Fremder além do trabalho e das telas? O que você gosta de fazer para relaxar?
Fora do trabalho, gosto muito de ler e, de vez em quando, gosto de alugar um lugar isolado no meio do mato para me desconectar completamente. É um momento em que esqueço o celular e me permito relaxar.
Como é a sua rotina de autocuidado? O que você gosta de fazer para se cuidar em termos de beleza?
Sou bem básica e certinha. Faço musculação três vezes por semana e fisioterapia duas vezes, porque sinto muitas dores na coluna de ficar muito tempo sentada. Para mim, isso é uma forma de autocuidado. Não sou de fazer grandes procedimentos estéticos.
Em termos de beleza, o que mais gosto é a sensação de estar hidratada. Adoro tomar banho, hidratar o cabelo e passar creme no corpo. Não sou muito fã de maquiagem.
Com seis anos de podcast e mais de 300 episódios, como é olhar para essa trajetória? Que reflexões essa conquista te traz?
Estou muito grata por ter seguido minha vontade até o final, priorizando os bate-papos e os conteúdos. É gratificante poder oferecer não apenas conversas engraçadas e bem-humoradas, mas ter uma linha editorial que consegue trazer temas sérios.
A audiência é qualificada e contribui significativamente conosco, enviando mensagens através do grupo do Telegram e do Instagram com sugestões de temas e convidados. Quando encontro alguém na rua que me reconhece pelo podcast, é sempre uma troca muito legal, como se estivesse encontrando uma amiga.