A estudante de Medicina Veterinária e influenciadora Franciane Andrade, 23 anos, que denunciou ter sido dopada e estuprada no Rodeio de Jaguariúna, no interior de São Paulo, no fim de novembro, falou pela primeira vez sobre o caso em um veículo de comunicação nesta quinta-feira (9). Em participação no programa da TV Globo Encontro com Fátima Bernardes, ela relatou o que lembra da noite do ocorrido.
— Tinha muita gente. A gente colocou a pulseirinha do camarote e uma máscara que foi fornecida. Subimos para o camarote diretamente, e eu já estava gravando Stories, super animada. (...) Ali mesmo a gente servia a bebida. Depois eu desci para pista premium para ficar de frente para o palco para gravar melhor. Eu estava curtindo o show, super feliz, animada e depois, eu não lembro de mais nada — disse a jovem, que ainda contou estar na companhia de pessoas que conheceu há pouco tempo.
Ela, que relatou aos policiais ter acordado em uma rotatória próximo ao local do evento, explicou que começou a passar mal no domingo e procurou uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) após sentir dores pelo corpo.
— Eu comecei a desconfiar depois que, no mesmo dia que aconteceu o fato, eu fui na UPA, que é um atendimento super rápido. Estava passando mal, vomitando o tempo todo, meus pais foram comigo até a UPA. Na segunda à noite, comecei a sentir fortes dores no pé da barriga e na musculatura da vagina — contou ela, que aconselhada pela mãe procurou um hospital e fez um boletim de ocorrência no dia seguinte.
Ao procurar ajuda na delegacia, Franciane diz ter sido desacreditada. Ela também critica a forma como o registro do boletim de ocorrência foi conduzido.
— Fui muito mal recebida na delegacia. Desacreditaram da minha palavra. Relataram o B.O. ali do jeito que a escrivã queria, não deu apoio nenhum. Depois que fui lá de novo, que souberam do relato do legista do IML, a dra. Delegada Gisele me ajudou muito, que é de Mogi Guaçu (SP), e agradeço muito a ela também — disse.
Ela ainda revelou a preocupação da médica ginecologista que a atendeu ao examinar a gravidade das lesões que indicaram violência sexual.
— Ela (ginecologista) ficou impressionada com as lesões, que eram muito graves — afirmou.
— Ginecologista (...) ficou impressionada com as lesões sexuais apresentadas por uma menina que foi se divertir numa festa, cuja família estava aguardando ela em casa, e chegou estuprada e drogada — acrescentou a promotora de Justiça Gabriela Manssur, que acompanhava a jovem no programa.
Segundo a promotora, como o exame toxicológico não foi solicitado pela Polícia Civil, a jovem fez o teste posteriormente, por uma instituição particular, com o auxílio do Projeto Justiceiras. Segundo ela, o resultado constatou a presença da substância conhecida como "boa noite, Cinderela", que dopou Franciane.
— Eu estou em pedaços. É como se tirassem toda a minha alegria — desabafou a jovem.
Gabriela ainda afirma que outras possíveis vítimas procuraram a influenciadora e a promotoria, mas não denunciaram por medo e não realizaram exames ou boletim de ocorrência.
Apoio da família
O pai de Franciane, José Ricardo, também esteve no programa. Ele reclamou que, além do Projeto Justiceiras, que presta assistência às mulheres vítimas de violência, a família não têm recebido auxílio de ninguém, nem mesmo do Rodeio de Jaguariúna.
— É difícil a gente falar. Somos pessoas humildes. A gente quer justiça, quer esclarecer isso. Até agora não tivemos respaldo de ninguém. Só das Justiceira, que estão nos ajudando — afirmou ele. — O rodeio, soltaram umas notas dizendo que entraram em contato, (que) estão ajudando nós. Até agora ninguém nos ajudou em nada. Eu estou indignado porque, graças a Deus, estamos de pé, porque a gente crê muito em Deus, somos evangélicos. É difícil.
Por fim, o pai da influenciadora ressaltou a coragem da filha.
— Tem muitas pessoas que não tem coragem de relatar o que ela está relatando. Acho muito corajosa a atitude dela e a gente apoiar ela neste momento, porque tem muitos pais que não apoiam. (...) A gente quer que não aconteça mais com família nenhuma um negócio desses.
Investigações
A suspeita de estupro, que teria ocorrido dentro de um camarote do Rodeio de Jaguariúna entre a noite do dia 27 e a madrugada de 28 de novembro, é investigada em segredo de justiça pela Delegacia de Jaguariúna.
De acordo com informações do G1, a Polícia Civil informou, nesta quinta-feira (9), que ainda analisa as 53 câmeras de segurança disponibilizadas pelo evento, além das imagens de circuito de ruas da cidade. O conteúdo não foi revelado. Testemunhas que estiveram com a jovem na festa também estão sendo ouvidas. Nenhum dos depoimentos obtidos até o momento foi revelado.
A vítima, Franciane, relatou o crime inicialmente em seu perfil do Instagram na noite de 30 de novembro.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP) informou que o caso foi registrado pela Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Mogi Guaçu e, posteriormente, encaminhado para a Delegacia de Jaguariúna, onde as investigações prosseguem e um inquérito foi aberto para apuração de estupro.