Por Ana Carolina Peuker*
As percepções ou crenças que a mulher têm sobre o câncer de mama, seja ela doente ou saudável, estão relacionadas com suas condutas para a manutenção ou restabelecimento de sua saúde. Uma impressão inadequada sobre a doença pode ocasionar alterações psicológicas como ansiedade, depressão e estresse. Após o diagnóstico e o tratamento, mulheres que tinham percepções mais negativas sobre as consequências do câncer de mama apresentaram maiores níveis de angústia, além de mais sintomas físicos e psicológicos.
Evidências revelam que a construção social negativa do câncer de mama - como as implicações na autoimagem, intenso sofrimento e percepção de que a doença não tem cura - eleva as chances da não realização da mamografia. Geralmente, aquelas que passaram pela experiência pessoal deste diagnóstico possuem uma percepção mais realística e positiva relacionada à enfermidade.
A atribuição de causa à doença também interfere no estado emocional. Quanto mais controlável a causa do câncer de mama é percebida, maior a autonomia das pacientes no autocuidado e na adesão a tratamentos. É comum que as pessoas atribuam a motivação da doença ao estresse ou aspectos do passado não modificáveis como “uma mágoa” ou “uma traição”. Isso gera uma sobrecarga emocional negativa adicional, uma vez que potencializa o sentimento de impotência e autonomia frente à prevenção e ao tratamento. A atribuição causal a aspectos emocionais faz com que as mulheres a julguem como um fator externo sobre o qual não possuem controle e, dessa forma, pode comprometer suas condutas de autocuidado.
Por isso, é importante esclarecer que a causa do câncer também associa-se a fatores ambientais (como tabagismo, sedentarismo, obesidade), passíveis de controle e modificáveis. Neste mesmo sentido, deve-se popularizar a necessidade do rastreio precoce (por meio do autoexame e da mamografia) e das medidas preventivas em saúde, como adoção de um estilo de vida saudável, que inclui a prática de atividades físicas, alimentação equilibrada, livre do consumo de tabaco e outras drogas, por exemplo.
Muitas mulheres mantém a crença de que “quem procura, acha” e deixam de se submeter ao rastreio adequado de possíveis alterações nas mamas e no organismo - incluindo o câncer de colo de útero. Essa percepção distorcida deve ser combatida por meio de campanhas psicoeducativas, que permitem o ajuste destas impressões. As mulheres devem lembrar sempre que “quem procura, acha: a CURA!”.
* Psicóloga, CEO da Bee Touch, startup de saúde mental. Realizou mestrado, doutorado e pós-doutorado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no Laboratório de Psicologia Experimental, Neurociências e Comportamento. Foi professora do Instituto de Psicologia da UFRGS. Realizou pós-doutorado no Grupo de Estudos Avançados em Psicologia da Saúde (Unisinos). Atuou como pesquisadora e professora do Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas do Instituto de Psiquiatria da UFRGS e do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Integra a Comissão de Avaliação Psicológica do Conselho de Psicologia do RS. Membro do grupo de trabalho de enfrentamento à covid-19 da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP).