Comer bem e sem culpa nunca foi um problema para Daniel Cady. Tudo começou com o avô do nutricionista de 33 anos: em uma época em que pouco se falava da importância de se estar atento ao que vai à mesa, o americano já prezava por uma alimentação mais natural.
– Ele criou na gente o hábito de comer salada. Como era apicultor, desenvolvemos uma relação diferente com a natureza. Passamos a usar menos açúcar, farinha branca – recorda, em um papo por telefone com Donna.
Pelo jeito, os hábitos saudáveis vieram de família. Além de seu William, Daniel é filho de um atleta e de uma médica. Não deu outra: depois de iniciar o curso de Engenharia, ele percebeu que seu caminho profissional poderia estar ligado ao bem-estar que sempre sentiu ao prezar por boas escolhas na hora das refeições. Trancou a primeira faculdade e entrou para a Nutrição.
Hoje, Daniel Cady é uma das referências nacionais em alimentação saudável. Divide-se entre o consultório em Salvador e palestras e workshops pelo Brasil – como o bate-papo de que participará neste sábado, no evento Body & Soul, com foco no tema corpo e mente, no Praia de Belas Shopping, em Porto Alegre. Entre suas pacientes, está alguém mais do que especial: a cantora Ivete Sangalo, com quem é casado há quase 11 anos. Agora, o nutricionista também é o responsável pela dieta da estrela – que, garante, hoje é mais equilibrada do que nunca.
Equilíbrio, aliás, é a palavra-chave do trabalho de Daniel. O nutricionista é entusiasta do comer bem todos os dias, mas também prega que não deveria ser um crime se render a uma pizza de vez em quando. Discorda veementemente de dietas restritivas de moda – e questiona também a obsessão e a culpa que muitas pessoas carregam em relação à comida.
– Vivemos em um momento dicotômico. Parece que ou faz muito bem, ou faz muito mal, e não há um caminho do meio. Estamos cada vez mais obcecados pela aparência. E a relação com a comida virou doentia – analisa. – O que proponho é fazer as pazes com a comida e buscar um equilíbrio. Ter uma rotina saudável, mas também poder sair dessa rotina e ter momentos de descontração para comer o que não se julga ser tão saudável. Precisamos ter uma relação mais leve com a alimentação, sem culpa, sem sofrer. Resgatar o prazer de comer sem radicalismos ou terrorismo nutricional – defende.
Para o nutricionista, alimentar-se bem não precisa ser difícil – nem caro. Quer saber como? Veja as dicas que Daniel Cady compartilhou conosco e inspire-se.
O que erramos
Saiba quais são os nossos principais equívocos na hora de manter uma rotina alimentar saudável
Tudo perfeito
Você foi à nutricionista, que prescreveu uma dieta com as refeições ideais e os alimentos mais indicados para você. Mas, no aniversário daquela amiga, havia poucas opções de petiscos e você acabou comendo algo que não estava na lista. Relaxe: isso jamais deve ser motivo de desespero quando é algo fora da rotina.
– Um dos principais erros é querer se alimentar o tempo inteiro de uma forma perfeita. Nem sempre o ideal é possível – pondera Cady.
Comer sem emoção
Quem nunca acabou descontando aquele dia de estresse no trabalho com uma barra de chocolate? Ou afogou as mágoas num pote de sorvete? Para Daniel Cady, as emoções devem ficar bem longe quando pegamos o garfo e a faca. Por isso, ele evita que uma refeição seja feita quando você está chateada, apressada ou aborrecida – a chance de descontar na comida e fazer escolhas ruins é maior.
Devagar e sempre
Na rotina acelerada em que vivemos, não é raro transformar a hora do almoço em 15 minutos. É justamente nesses momentos que acabamos fazendo escolhas alimentares ruins – trocando o arroz e o feijão por um salgado, por exemplo. Mantenha em sua rotina um período de tempo suficiente para fazer suas refeições com calma.
– Comer rápido não é legal para a digestão. E você acaba comendo muito mais – afirma.
Na medida
Outro erro apontado por Daniel Cady é restringir demais a alimentação. Cortar totalmente algum nutriente, como carboidratos. Ou deixar de comer glúten sem prescrição de seu nutricionista, simplesmente porque você acha que “emagrece”.
– Isso gera ansiedade e compulsão. Mais para frente, você acaba comendo como se não houvesse amanhã. Ou, antes, despede-se da comida, ou come aquilo com culpa.
Para os pitocos
Paladar infantil
Sim, isso existe. Todos nós temos predisposição a preferir alimentos mais doces. Mas o paladar pode, sim, ser “moldado”.
– Ninguém nasce não gostando disso ou daquilo. A formação do paladar e do hábito alimentar é aprendizado – afirma.
Por isso, quando o pequeno disser que não gosta de cenoura, por exemplo, não deixe simplesmente de oferecer o alimento. Daniel Cady sugere variar as preparações e receitas e tentar. De novo e de novo:
– Há crianças mais resistentes do que outras, mas sugiro que os pais não desistam de imediato quando um prato for rejeitado. Só se ela recusar mais de 15 vezes.
Jogo da imitação
Sabe aquele ditado que diz: “Faça o que eu digo, mas não o que eu faço”? Bem, não costuma dar certo com as crianças. O nutricionista explica que não adianta você não comer frutas nunca e querer que seu filho leve uma maçã de lanche todo dia. Se a criança não ver o adulto fazendo, vai achar que não precisa.
– A forma como você age determina o que eles vão seguir.
A criança age por imitação – diz.
Foco na janta
Para Daniel Cady, os primeiros anos do bebê são fundamentais para a formação dos hábitos alimentares. É o período que também exige mais atenção dos pais na hora da refeição:
– Tenha paciência na hora de dar comida, porque a criança descobre o mundo pela boca. Não distraia o pequeno com vídeos de internet ou televisão.
Para viver melhor
• Parece óbvio, mas é necessário: o primeiro passo é inserir em sua alimentação mais itens naturais e frescos. Quanto menos comida processada e industrializada, melhor. Descasque mais e desembale menos, ensina Daniel Cady.
• Água não é somente para matar a sede. Não deixe de beber pelo menos dois litros ao dia. E, se você já bebe, beba mais.
• Sabe aquele papo de comer de três em três horas? Para o nutricionista, o certo é comer quando estiver com fome.
• Na hora da refeição, saiba ouvir o que o seu corpo precisa de fato. Está se sentindo saciada? É hora de parar.
• Não coloque os talheres no prato apenas quando não aguentar mais.
• Frequência é fundamental. Todos os dias, os alimentos que devem estar nas nossas refeições são frutas, verduras, ovos, carne, frango e peixe (para os não vegetarianos, claro). Bebidas alcoólicas e refrigerantes podem entrar nas refeições semanalmente. Aquele xis? Pode ser uma vez por mês.
• Prefira os produtos integrais. No dia a dia, vale trocar o arroz e o pão branco por versões integrais, por exemplo. Mas não precisa demonizar o arroz branco, viu?
• Reduza o consumo de carne vermelha. Três vezes por semana é o indicado. Prefira também cortes mais magros, e tente não carregar no sal. O ideal é que carnes embutidas, como linguiça, também sejam incluídas esporadicamente na alimentação.
• Superalimento? Aquele que é o mais natural possível e que chegou mais rápido à sua mesa. Não caia na história de alimentos da moda – nem sempre estes produtos fazem tanto efeito assim.
Daniel Cady em POA
No sábado (23), o nutricionista ministra a palestra “Empreendedorismo e Nutrição: ideias inovadoras para uma carreira de sucesso”, a partir das 14h30min, no evento Body & Soul, no Praia de Belas Shopping (Avenida Praia de Belas, 1.181, em Porto Alegre). Na programação, que se estende pelo final de semana, ainda há um bate-papo com o lutador de judô e jiu-jítsu Chico Salgado, que dá aulas para artistas como Bruna Marquezine e Grazi Massafera. As atividades são gratuitas. Veja mais informações em bit.ly/bodysoulpraia.