É 2018, enfim. E ainda há homens que tremem quando descobrem que as mulheres conversam.
Eis a história: minha amiga Andréia Freitas, uma das pessoas mais queridas e doces que já conheci na vida, passou a notar um padrão de repetição de comportamentos masculinos... Com os mesmo caras, com garotas diferentes. Não eram comportamentos bacanas, como você pode imaginar, e antes que você, leitor, comece a falar com o jornal dizendo que #nemtodohomem, já vamos esclarecer que a questão é estrutural, e não pessoal. Assim como pessoas brancas e cis se beneficiam, querendo ou não, de uma estrutura de privilégio e poder, os homens, que estão nas grandes posições de poder, seja no trabalho ou apenas sendo ouvidos mesmo, se beneficiam desse privilégio. É, sim.
Pois a Andreia cunhou o SERASA DE CARAS. Vacilou feião? Seu nome vai pro SERASA de caras. Não, não é um escritório com ficha corrida e foto, são apenas pessoas que se conhecem conversando normalmente e ajudando a outra a não entrar em roubada. E não, amores, não estamos falando de seus pintos ou suas performances sexuais, que são aparentemente as primeiras e únicas coisas que vocês podem pensar e se apavorar. Estamos falando de comportamentos recorrentes e babacas.
Muitas mulheres se identificaram e começaram a contar suas histórias, tudo sem expor nomes, o que, acredito, só deve acontecer em casos graves, afinal, comportamentos recorrentes, machistas, babacas, não necessariamente podem ser chamados de abusivos. Abuso é outra coisa. Pode ser que seja proveniente da mesma estrutura que permita o homem ser babaca e seguir sua vida normalzona chamando a ex de louca - inclusive uma das primeiras regras a ser levada nesta vida é: chamou a ex de louca? Bota o pezinho atrás. Algumas são mesmo. Outras são enlouquecidas por relacionamentos doentios. Outras são apenas mulheres reagindo, o que nunca é bem visto nesta nossa linda sociedade onde uma mulher reagir é sinal de histeria e loucura. Reajam, moças. Vão chamar vocês de louca de qualquer jeito pelas suas costas ou na sua cara mesmo.
Pois o que aconteceu foi um grande chilique de muitos homens na rede social Twitter. Como assim as mulheres CONVERSAM ENTRE SI? E FALAM DE NÓS! Imaginei todos eles remexendo em suas gavetas e cofres de vacilos, apavorados com alguém descobrir aquilo. Aquilo. Seus segredos. E de repente eles mesmos passaram a confessar os vacilos já arrumando desculpas do tipo “Eu sumi mas foi porque tive uma gripe forte (risos mil)”. É claro que as pessoas erram e podem errar, e tanto homens quanto mulheres fazem cagadas em relacionamentos, mas, pela questão estrutural já mencionada antes, os homens sempre, ou quase sempre, se safam, e logo aparecem com outra moça pendurada em seu braço com quem muito provavelmente vai repetir os vacilos.
Vale dizer de novo: vacilo e comportamento escroto não necessariamente é abuso. Abuso é sério. Abuso enlouquece, pode acabar com a vida, com a carreira, com o emocional e a sanidade de uma pessoa. Vacilões partem seu coração e se aproveitam de sua posição, fingem amor que não há só pra fazer sexo, combinam e somem, mentem, mentem, mentem. E é por isso que o SERASA da Andréia assustou tantos: eles não querem ser descobertos. Espero que, diante de um pequeno escândalo envolvendo uma pessoa x, que certamente não é o centro nem o causador do problema, é apenas mais um dentro dessa estrutura, outros pensem a respeito, porque eu, de verdade, apesar de não parecer, tenho fé de que o problema não é o indivíduo, é a construção da masculinidade, que destrói a humanidade dos homens e os priva de empatia e sensibilidade.
E, homens, pasmem: as mulheres são amigas e conversam entre si. Isso é novo e deve assustar, mas vão se acostumando, pois as próximas gerações já estão vindo sem esse ranço da competição. Infelizmente, as estruturas foram construídas para que as mulheres se isolassem em suas vidas domésticas e que, quando começaram a trabalhar, competissem entre si e acreditassem que “mulher não é confiável”. Bom, isso está mudando e é bom que vocês discutam esses comportamentos de vocês, pois estamos em processo de discutir os nossos. Todo mundo vai ter que mudar, ou vai dar ruim. Isso é uma gíria, viu? Dar ruim. Mas acho que vocês já andam descobrindo o que ela significa.
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