Foram muitos anos de namoro e, depois, de noivado. Doze ao todo. A explicação para quem se espantava com um relacionamento tão "enrolado" era sempre a mesma: precisavam primeiro terminar a faculdade, fazer uma pós-graduação, trabalhar para guardar dinheiro, comprar carro e apartamento. Aí sim, poderiam dar um passo tão importante quanto o casamento. E assim fizeram. Quando decidiram participar à família e aos amigos que finalmente enfrentariam o padre e o juiz de paz ninguém acreditou. Mas era verdade.
Vani mandou fazer um vestido de noiva, com cauda e tudo, numa estilista renomada. "Vou ter o casamento dos meus sonhos, com tudo a que tenho direito", decidiu. Carlos preferiria gastar este dinheiro, há tanto tempo economizado, com uma boa viagem. Ou, quem sabe, na compra de um carro novo. Mas ele sabia que nada nesse mundo faria com que Vani desistisse de seus planos.
Foi um ano organizando a cerimônia e a festa - numa praia paradisíaca de Santa Catarina. Eles nunca imaginaram que um casamento pudesse dar tanto trabalho - e sair tão caro. Mas não tinham mais como voltar atrás. Assumiram dívidas, brigaram muito e por um triz não desmancharam o noivado. "Este casamento ainda vai separar a gente", vivia repetindo o noivo aos seus amigos.
Chegou o dia. Tudo saiu conforme o planejado. Manhã seguinte, Vani e Carlos embarcaram para Buenos Aires. Uma lua-de-mel curta e pouco dispendiosa, já que o casamento acabou com a poupança do casal. Na segunda noite na capital portenha foram a um show de tango. Uma bailarina, de vestido vermelho com um racha que deixava as pernas bem torneadas à mostra, tirou Carlos para dançar. Eles rodopiavam pelo salão e não desgrudavam os olhos - nem os corpos - um do outro. Foi como uma descarga elétrica. Quase pegou fogo.
De volta ao hotel, Carlos não conseguia mais tirar aquela moça da cabeça. Virou obsessão. Há tanto tempo ele não se sentia assim, enfeitiçado por uma mulher... Passados poucos dias, disse à Vani:
- Vou te ajudar a pagar todas as dívidas do casamento. Mas eu não volto contigo para Florianópolis. Estou apaixonado pela bailarina.
Vani chorou pelo fim do casamento - que mal havia começado - mas também sentiu uma espécie de alívio. No íntimo ela sabia que tinham casado para dar uma satisfação à sociedade. Depois de tanto tempo de namoro, achavam que " tinham" que casar, apesar de não sentirem mais "borboletas no estômago", típico dos apaixonados.
Vani voltou para casa sozinha, mas em paz. Sentia- se livre, como há muito tempo não era.
Eles nunca imaginaram que um casamento pudesse dar tanto trabalho
Viviane Bevilacqua
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