Faz sol a semana inteira - o mês inteiro, até, sendo um pouco exagerada. Mas basta eu marcar alguma viagem de avião para a chuva aparecer. Às vezes, ela chega com requintes de crueldade: além da chuva, vento forte, como hoje. Mas é "batata", como se dizia na minha época de menina (nunca entendi o porquê dessa expressão). Pra mim, viagem de avião e chuva já estão quase virando sinônimos. Acho que vou mudar de profissão e virar fazedora de chuvas. Provavelmente alguém lá naquelas regiões áridas do país haverá de precisar dos meus serviços.
A última vez que viajei, um menino atrás da minha poltrona gritava de felicidade cada vez que o avião passava por uma área de turbulência. Só que o grito dele era de felicidade, porque dava "friozinho na barriga". Eu só gritava pra dentro - porque odeio escândalos -, mas juro que minha alma gritava para sair dali o mais breve possível. Não é uma sensação nada agradável.
Não chego a ter pânico de avião (já tive, e - acho - superei enfrentando a situação), mas para gostar de voar falta muito. Porém, amo tanto viajar que corro o risco. Já estou vendo que hoje vai ser outro dia daqueles. Acordei às sete da manhã com a água batendo na vidraça do meu quarto. Pra quem vai voar à tarde, ainda restava uma esperança do tempo abrir. Que nada.
Continua tudo cinza lá fora, e pra completar começou um vento sul. Sabe aquele vento sul que acho que só existe aqui em Floripa e que assovia feito louco, entortando árvores? Esse mesmo. Ui, que medo.
Eu iria escrever sobre fim de ano, férias, passeios, mas confesso que só consigo pensar no quanto meu avião vai sacudir e então, como uma espécie de terapia, resolvi contar aqui este meu segredo. Tudo o que tem mais de dois metros de altura me apavora. Cânions? Acho lindos, mas não chego perto. Cataratas? Idem. Prédios altos? Não saio nem na sacada. Voar de asa-delta? Só se eu voltar mais corajosa em uma próxima encarnação...
Gosto da sensação dos pés no chão, embora saiba que avião é mais seguro, coisa e tal. Meu cérebro sabe disso, conhece todas as estatísticas e probabilidades, mas ele ainda não conseguiu convencer o resto do meu corpo, que continua tremendo e suando em situações que eu, medrosa, acho que podem ser arriscadas. Agora que falei me sinto um pouco mais leve. Ufa! Bom, vou arrumar minha malinha e, se tudo der certo com este voo e o da volta, semana que vem estarei aqui de novo.
Não chego a ter pânico de avião, mas para gostar de voar falta muito
Viviane Bevilacqua
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