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Procurava uns enfeites de cabelo para minha afilhada, que recém completou três anos, quando a atendente da loja perguntou se podia ajudar. Expliquei que queria presentinhos para uma menininha vaidosa, e ela, então, não teve dúvidas:
- Ah, ela vai adorar essa linha de maquiagem infantil. É antialérgica, própria para a idade, tem batom, sombra, blush...
Uma coisa é a criança imitar a mãe (ou, no meu caso, a madrinha) passando batom, colocando colares, pulseiras e saltos altos. Acho que isso faz parte do processo de reconhecimento do gênero feminino, e é engraçadinho ver nossas pirralhinhas brincando de ser gente grande. Outra coisa é incentivar uma vaidade desmedida e uma adultização precoce, comprando produtos de maquiagem para quem sequer sabe falar direito e mal saiu das fraldas.
Assusta-me um pouco observar como as pessoas estão encarando com naturalidade o fim da infância cada vez mais cedo. Entrei numa loja de roupas infantis e, de novo, tive a mesma sensação. Cadê os vestidinhos rodados, coloridos, com florezinhas, rendas ou motivos infantis? Quando a vendedora me apareceu com um vestido - que ela achava lindo - de veludo amassado roxo, justo, com caveirinhas de strass e uma bolsinha combinando, para uma menina de três anos, achei que ela estava tirando onda com a minha cara.
- Mas é muito moderno, caveira está na moda - ela disse, tentando me convencer.
E daí? Moda? A guria está fazendo três anos! Quero um vestidinho que ela possa correr, brincar, pular, se sujar, que fique engraçadinho, colorido, alegre, e não uma miniadulta dark, ou punk, ou rockstar, ou emo, ou sei lá o que é isso! Não tem algo mais infantil?
- Ah, entendi. A senhora quer algo de criança mesmo. Se com três anos não é criança é o que? Dias depois deste episódio na loja "infantil" assisti em um canal de TV por assinatura a um programa sobre concursos de beleza para crianças nos Estados Unidos. Meninas até menores do que a minha afilhada, a partir de dois anos, disputando o título de "a mais bela" com outras garotinhas, desfilando com vestidos curtos ou pelo menos sensuais, muita maquiagem, cabelos arrumados... Fantasiadas de adultas, e as mães, sentadas na plateia, aplaudindo, emocionadas, chorando. Uma delas, inclusive, vestiu a filhinha de prostituta, em "homenagem à personagem de Julia Roberts, no filme Uma Linda Mulher. Com a repercussão negativa (é óbvio), a mãe foi à imprensa dizer que era tudo uma grande brincadeira, e que nenhum dano foi causado à sua filha, de apenas cinco anos. "Estou criando minha filha tão bem quanto qualquer outra mãe", disse a americana a um site.
Perto disso aí, o vestido roxo de veludo amassado com caveirinhas de strass virou mesmo coisa de criança.