Cheguei cedo à Universidade naquele final de tarde. A aula começava às sete. Peguei um café bem quente para espantar o frio e sentei no cantinho da praça de alimentação. Revi os temas que discutiria com os alunos nas próximas horas. Tudo certo. Decidi aproveitar o tempo que me sobrava para observar a vida ao meu redor, um dos meus passatempos preferidos.
Vários grupos de jovens se formavam. Entre eles, um especial, de calouros. Fácil de perceber porque estavam com os cabelos, o corpo e a camisetas pintadas com tinta colorida. Riam muito, estavam felizes, e não pude deixar de lembrar-me de quando entrei na faculdade também. Que época boa. São tantas as novidades, as expectativas. Um mundo completamente novo que se abre à nossa frente...
Perto de mim um casal de namorados permanecia alheio ao burburinho. Podia cair o mundo que eles não ouviriam. Estavam naquele transe gostoso do olho no olho. Pareciam querer decorar os detalhes do rosto um do outro, tamanha a fixação com que se olhavam. Coisas da paixão. Quem sabe estivesse rolando ali o primeiro amor daquele jovem casal? Um pouco mais adiante, um grupo de meninos, bem jovens, juntava dinheiro. Cada um deu algumas moedas. Pouco depois um deles voltou com dois refrigerantes "tamanho família" e alguns pacotes de salgadinhos, que fizeram a alegria de toda a galera. Sorri, sozinha, recordando cenas muito parecidas que vivi muito tempo atrás. Esta cena de juntar dinheiro entre os amigos é clássica, e parece que a comida, assim, comprada em sociedade e compartilhada entre todos, é muito mais gostosa.
Meu café estava no fim. A hora de ir para a sala de aula se aproximava, mas eu poderia ficar ali por horas ainda, olhando aqueles jovens e recordando momentos tão gostosos do meu tempo de estudante. A xícara de líquido fumegante aqueceu meu corpo, mas observar como a vida se renova a cada geração acalentou a minha alma.
Café quente aquece o corpo, mas vida renovada esquenta a alma
Viviane Bevilacqua
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