Marisa e Gilberto estão juntos há quase 20 anos, contando desde o tempo do namoro. São pais de duas meninas, e dizem que nunca foram tão felizes juntos quanto são hoje. Conheceram-se na faculdade de Arquitetura, mas no fim do primeiro ano ela já sabia que não era isso o que queria para o futuro. Mudou para Administração de Empresas e aí, sim, se encontrou. Ele era mais introspectivo, passava horas admirando as fachadas do casario centenário de sua cidade e o reproduzindo no bloco de desenho.
Marisa, aos poucos, foi descobrindo na faculdade e nos primeiros empregos sua verdadeira vocação: tinha características de líder, sabia comandar equipes e gostava muito deste papel. Começou a sentir-se dividida entre a carreira profissional, que se mostrava promissora, e o namoro. Amava Gilberto, mas tinha medo de casar e ter filhos, porque com certeza isso iria atrapalhar seu crescimento profissional. Ela conhecia várias mulheres que acabaram abrindo mão da carreira - ou pelo menos a deixando em segundo plano - porque precisavam ou sentiram-se pressionadas a dar mais atenção aos filhos e maridos.
Veio a formatura, logo em seguida o curso de pós-graduação, e depois a grande questão que precisava ser respondida: e agora? Já estavam namorando havia vários anos, numa situação bem cômoda: ficavam juntos quando queriam, às vezes no apartamento dele, às vezes no dela. Mas sabiam que não seria assim para sempre. Gilberto queria ser pai. Marisa também ficava feliz com a ideia de ser mãe, só não queria abrir mão da profissão. A estas alturas ela já ganhava, como executiva de uma multinacional, um salário bem maior do que o dele, arquiteto especializado em restauração de prédios históricos.
Pensaram em romper, passaram um tempo separados, mas não deu certo. Nunca conseguiam ficar longe um do outro, porque se completavam. A proposta salvadora partiu de Gilberto: quem sabe, então, se eles casassem e ela continuasse com sua vida de executiva, viajando, cuidando da vida econômica da família, e ele montasse um escritório em casa e cuidasse dos filhos que teriam? Marisa riu. Imagina, um homem ficar em casa com as crianças. Mas depois viu que não era nada tão descabido assim. Por que não pode? Quem disse que o homem tem que ganhar mais e sair de casa todos os dias para trabalhar na rua? Um pai não pode ser feliz criando seus filhos, cuidando da alimentação e da educação deles?
O casamento foi marcado, e pouco mais de um ano depois nasceu a primeira filha. Três anos mais tarde, a segunda. Marisa é uma mãe maravilhosa, embora muitas vezes dê um beijo de bom dia e outro de boa noite nas meninas (hoje pré-adolescentes) via Skype, pela internet. Agora mesmo está em Cingapura, do outro lado do mundo, em uma reunião da empresa. Gilberto tem uma ajudante para o serviço mais pesado, mas faz questão de acompanhar as meninas em tudo, um verdadeiro paizão. Seu escritório de arquitetura, numa sala de casa, onde desenvolve projetos ecológicos para interiores, é meio bagunçado. As meninas e o Toby, o cachorrinho linguiça da família, vivem brincando por lá. Mas é difícil ver uma família tão unida e de bem com a vida. Eles encontraram o seu jeito de ser feliz.
Eles encontraram o seu jeito de ser feliz
Viviane Bevilacqua
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