Não, não se preocupem. Não vou falar do livro Cinquenta Tons de Cinza, até porque ninguém aguenta mais tanta badalação em cima de uma obra que traz o sadomasoquismo como uma prática excitante e sensual. Estou fora dessa.
Quero falar de outros cinquenta...
Os meus! Custo a acreditar que no final do ano completo 50 anos. O tempo voou.
Isso não é um clichê, mas uma constatação - que me deixa um pouco triste ao pensar que mais da metade da minha vida já ficou para trás.
Eu ainda tenho tanto o que ver neste mundão de meu Deus e tanto o que fazer antes de partir... Será que vai dar tempo? Acredito, porém, que esta seja uma angústia de todos, independente da idade.
Meio século, é isso mesmo? Quem? Eu? A impressão que tenho é de que dormi menina, cheia de planos e sonhos, e, de repente, ao acordar, dei de cara com essa mulher, que mal reconheço no espelho, com rugas marcadas em torno dos olhos, linhas de expressão desenhando uma espécie de mapa- múndi pelo rosto e cabelos brancos que teimam em se destacar no meio dos fios escuros.
E entre uma fase e outra o tempo voou em velocidade supersônica, e eu nem notei.
Devia estar ocupada demais com outras coisas, como casar, criar filhos, escrever, trabalhar, me curar de um câncer, cuidar da família, dar aulas...
Nem percebi que, enquanto tocava a vida, ela passava por mim numa velocidade estonteante.
Eu falei em espelho? Pois é, esta é a primeira decisão que tomei nesta reta final para a chegada dos 50: não quero mais saber de espelho.
Ele que fique lá, com a sua verdade escancarada, pendurado na parede do banheiro.
E eu fico aqui, vendo só o que eu quero ver, planejando meu futuro, sem perceber que cada dia que passa fica marcado no meu corpo.
Não me sinto uma senhora, e quando me chamam assim chego a olhar para trás na esperança de que estejam à procura de uma outra pessoa.
" Eu preciso cair na real", digo para mim mesma, tentando me convencer de que sou, sim, uma senhora, embora não me sinta uma - a não ser quando doem as juntas, o ciático, a lombar ou quando, meio sem jeito, preciso pedir ajuda dos filhos ou colegas para executar alguma tarefa um pouco mais complexa no computador.
Mas como acreditar que tenho 50 anos? Sequer me sinto madura! Vivo borbulhando de emoções, sonhos, encantamentos e inseguranças, tão mais próprios de uma adolescente! Uma parte de mim, só pode ser isto, se recusa a crescer e enxergar a vida como ela realmente é.
E é a esta parte de mim que me apego, como se fosse uma tábua de salvação.
Não tenho medo de envelhecer, já que a única alternativa para ela é a morte.
Que venham os 50, os 60, os 70...
Mas, por favor, passem devagar, ok? Se os primeiros 50 anos da minha vida voaram, então, que os que me restam cheguem de bicicleta, de preferência pedalando por lindos campos floridos...
Às vésperas dos 50, uma constatação: passou rápido demais!
Viviane Bevilacqua
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