Eles foram crianças na mesma época. Brincavam juntos, na calçada, na frente de casa, numa pacata cidade do interior. Jogavam bola, andavam de bicicleta, construíam estradas em cidades fictícias para passear com seus carrinhos de ferro. Deviam ter cinco ou seis anos de idade, por aí. Eram grandes companheiros.
Quando chegou a época da escola, pediram para estudarem juntos, na mesma sala, solicitação atendida pelas mães. Foi já na primeira série do fundamental que as diferenças na educação dos dois meninos começaram a ficar evidentes.
João tinha hora para brincar, fazer os deveres de casa, tomar banho, comer, ir para a escola, assistir TV e dormir. Aprendeu desde cedo que fazer as tarefas passadas pela professora era obrigação, assim como tomar banho, escovar os dentes e ir para a cama quando a mãe ou o pai dissesse: "João, nove e meia. Hora de ir pra cama". Ele nem pensava em contestar. Dormir na hora que quisesse, só nas noites de sexta e sábado. Aí sim, a brincadeira não tinha hora para acabar.
Na casa de Pedro era bem diferente. A mãe não perguntava se ele tinha tarefas, e só mexia na mochila dele para colocar o lanche do dia seguinte ? isso, quando não lhe dava dinheiro, invariavelmente gasto em balas e refrigerante. Ela nunca abriu um caderno sequer, nem ficou sabendo se ele tinha uma letrinha caprichada ou se desenhava bem. Nem represálias nem elogios. Total indiferença.
? Isso de aula é com a professora. Ela que se vire. Já tenho coisa demais com que me preocupar ? dizia a mãe do Pedro.
Ele passava de ano, porque era inteligente. Mas cansava de dormir na sala, porque ficava até de madrugada jogando videogame ou assistindo TV. Era um menino triste, quieto, sozinho, apesar de ter pai e mãe. Ninguém lhe dava muita atenção.
João e Pedro estudaram juntos até a oitava série, mas já não eram tão amigos. João foi para o Ensino Médio, e já pensava no vestibular. Pedro parou de estudar. A mãe só disse: "ele é quem sabe. A vida é dele". O pai, reiterou: "Eu não dou mais dinheiro. Não quer estudar, então que vá procurar emprego". Os meninos passaram longos anos sem se encontrar. Suas vidas tomaram rumos bem diferentes.
Ao abrir o jornal, dia desses, João gritou: "mãeeee, olha isso! Estava lá, estampada na página da editoria de polícia, a foto do Pedro, num assalto frustrado a uma joalheria.
Tenho certeza de que a história desse jovem poderia ser bem diferente se, lá atrás, se ele tivesse sido bem orientado e educado pelos pais. Filhos precisam de limites, amor, carinho, dedicação. Se não for pra ser assim, melhor não tê-los.
Viviane Bevilacqua: Educação é Tudo
Viviane Bevilacqua
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