Sempre ouvi falar na tal da "síndrome do ninho vazio" (acho lindo esse nome, poético, apesar de triste), que é quando os filhos crescem e saem de casa, e os pais começam a experimentar uma grande solidão, principalmente nos primeiros tempos, até a vida voltar à rotina.
Achei que essa "síndrome" só atacava pais - e já estou inclusive me preparando psicologicamente para quando este momento chegar na minha vida. Só que tem mais gente reclamando da mesma coisa: recebi e-mails e conversei com pessoas que vivem este mesmo sentimento de abandono e de vazio, especialmente quando o mês março vem chegando: são os avós, que, depois de curtirem os netos durante as férias, precisam se despedir das crianças, que voltam para suas cidades e rotinas, das quais o vovô e a vovó quase não têm oportunidade de participar.
Fernanda é uma avó que decidiu compartilhar este momento, me escrevendo. Ela contou que mora em Florianópolis e os netos em Porto Alegre. Tem uma netinha com pouco mais de um ano e outro, um gurizinho, de apenas cinco meses. Eles vieram passar as férias com a vó em Floripa, e encheram a casa de alegria, de barulho, risadas e brincadeiras. E bagunça também. Tudo muito bom, tudo muito bem, até que chegou a hora de se despedir da avó, entrar no carro com os pais e voltar para o Sul.
- Quando eles estão aqui, a rotina da gente muda muito e para melhor, sempre em função dos pequenos. Músicas da galinha pintadinha, patati-patatá, cocoricó, bolo de cenoura (comidinhas que eles gostam) passeio no centrinho da Lagoa, carnaval no Lic, idas à sorveteria, verdadeiras "mudanças" para a praia (guarda-sol, esteiras, baldinho, brinquedos, protetor, comidinha, água, suco... ufa!). Tudo por eles e em função deles. Amo tudo isso. Me disseram que ser avó era o maior barato, era voltar a ser criança, compreender mais, ser mais tolerante, paciente, era ter tempo pra tudo. E é tudo isso e muito mais! - escreveu.
Com o passar dos meses, depois das férias, a vida vai entrando nos eixos. Os avós veem os netinhos pelo computador, conversam pelo Skype ou telefone, e se torna menos penoso segurar a saudade. Mas logo que as crianças vão embora, a casa parece que fica grande demais, silenciosa demais. E a tristeza habita todos os cantinhos.
- Até o cachorro sente falta dela, vive amuado pelos cantos da casa - conta uma amiga que vive a mesma experiência. Dia desses, me ligou chorando. Achei a Lili no meio das almofadas do sofá. Tu não imaginas a dor que me deu no coração. Chorei feito uma louca - ela contou.
- Quem é Lili? - perguntei.
É a bonequinha preferida da Larissa, Nós brincamos muito de casinha com a Lili nestas férias - contou.
Daí para começar a contar as gracinhas da Larissa, a netinha de três anos que mora em Fortaleza, foi um pulo. Sentei no sofá para me acomodar melhor, enquanto ouvia, pelo telefone, detalhes daquela história de amor entre avó e neta. Lembrou dos passeios, das brincadeiras, das historinhas que contava para a menina na hora de dormir, dos filmes que assistiam juntas no vídeo comendo pipoca-doce, dos banhos de mar e das conchinhas que pegavam juntas na areia da praia. Ela falava... Falava... Falava... E eu fiquei pensando: será que vou ser assim, uma avó exagerada, também? Vou, eu sei que vou.
E só existe um jeito de não chorar quanto os netos se despedem: morar bem pertinho deles. Esse é o sonho de toda avó, e o meu também, quando chegar a hora.
Fica um pouco mais...
Viviane Bevilacqua
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