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Sentada num banco, aproveitando a sombra de uma árvore, eu esperava minha carona, dia desses, no Largo da Alfândega, no Centro de Floripa. E, como não tinha nada melhor para fazer, fiquei olhando o movimento e tentando imaginar a história de cada um dos personagens que compunham aquela cena.
Havia um pipoqueiro, um senhor gordo, que passava o tempo todo enxugando o suor da testa e da careca ? com um pano de prato. Provavelmente o mesmo pano que secava, também, a panela de fazer pipoca.
Perto dali, um homem e um menino cantavam músicas sertanejas. Vozes estridentes e desafinadas, ampliadas por microfones. Mas, muita gente parava para ouvir, e dava para notar que estavam emocionados. Quando o menino cantava "É o amoooooooooor..." recebia muitas palmas. E, embalado por elas, gritava cada vez mais alto e era aplaudido mais uma vez. No chão, dentro do boné, poucas moedinhas.
Mais no canto, chegava um senhor de fartos bigodes pretos, empurrando sua churrasqueira feita de tonel de lata. Em poucos minutos, o cheiro de carne e graxa misturados com a fumaça do carvão enchiam a praça. Sem se importar com isso, duas menininhas levavam nas mãos saquinhos com milho quebrado.
Bem perto de onde eu estava sentada, elas começaram a esparramar os farelos no chão. Em segundos, pombos vindos de todos os cantos da cidade, acho eu, pousaram ali, fazendo a maior algazarra. Eu nunca havia visto antes tantos pombos juntos! O engraçado era que elas atiravam o milho e saíam correndo, gritando, com medo dos bichos. Minutos depois, faziam de novo, e saíam em disparada. Quando o milho acabou, os pombos sumiram em bando. Os únicos vestígios da passagem deles por ali eram as penas, que ficaram por todo lado.
Um grupo de turistas saiu de uma van. Fácil reconhecê-los: tinham grandes máquinas fotográficas penduradas no pescoço e falavam em inglês com o guia. Fizeram várias fotos do Mercado Público e depois, pelo que entendi, iriam até a Figueira, um dos cartões-postais da cidade.
O fim da tarde se aproximava e, com ele, chegaram as figuras habituais de qualquer centro de cidade: os mendigos, pedintes, drogados. Há muitos deles, também, na nossa praça central. Ouvi uma briga, ao longe. Quando se aproximaram, vi que era um casal de papeleiros. Parece que ele havia roubado algumas caixas do carrinho dela. Nada que alguns goles de pinga, oferecidas por ele, não resolvesse. Saíram juntos, em busca de mais papelão.
Os estudantes, que saíam das escolas e se dirigiam ao terminal de ônibus, misturavam-se aos turistas, papeleiros, comerciantes, cantores e a todo o povo que circula pelo espaço mais movimentado da Capital. E que merece, sem dúvida, uma visita demorada, como a que eu fiz, mesmo sem planejar, na semana que passou.
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