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Com uma programação recheada de conteúdo sobre design, indústria e varejo, o RS Moda reuniu milhares de profissionais do segmento fashion em Porto Alegre, nesta terça (11) e quarta-feira (12), no Centro de Eventos Fiergs. O evento tem foco na produção autoral sob os pilares da inovação e da sustentabilidade. A ideia é impulsionar a cadeia, conectando negócios e lançando luz a novos talentos.
Entre as atrações mais aguardadas, palestras de personalidades reconhecidas internacionalmente provocaram o público a diversas reflexões. A jornalista e consultora Gloria Kalil e o comunicador e diretor criativo Dudu Bertholini, que conversaram com Donna poucos dias antes do evento, figuraram na lista.
— A moda contemporânea vive um momento paradoxal. Há o fortalecimento de práticas mais éticas, responsáveis, sustentáveis, diversas e inclusivas. Vemos essas iniciativas em vários lugares, setores e em diferentes tamanhos. Esse pensamento mais responsável e sustentável vem sendo fomentado tanto por marcas autorais, independentes e locais quanto por grandes indústrias, empresas que passaram a ter a valorização das suas ESGs (políticas de governança, meio-ambiente e responsabilidade social) como um dos principais pilares — contextualiza Bertholini.
Ele avalia, no entanto, que ainda há desafios complexos a superar, nesse sentido:
– Paradoxalmente, ainda há a contracorrente de uma grande indústria que se agarra aos antigos meios de produção e a supervalorização do consumo, do desperdício, gerando grandes impactos socioambientais negativos. Então, é parte importante da nossa missão valorizar e incentivar a moda mais ética e responsável e dos lugares de onde ela fala.
Para Gloria Kalil, soma-se a isso uma ainda baixa exigência do público em relação a essas práticas. Uma realidade que, sob seu ponto de vista, ainda levará um bom tempo para mudar.
— A indústria vai realmente fazer uma mudança grande quando for um problema para a sua imagem e à medida que os consumidores forem demandando coisas que ainda não acontecem. Não há espaço no futuro para continuarmos sem essas mudanças em direção à produção e ao consumo sustentável. Então, aos poucos, vamos avançando — pontua ela, que reforça: — O caminho da sustentabilidade é inevitável.
Já o empresário Paulo Borges, fundador do São Paulo Fashion Week e presidente do Instituto Nacional de Moda e Design (In-Mod) pondera que essa via deve ser de mão dupla.
— Vejo que as pessoas estão muito mais conscientes hoje. Não significa que a indústria, enquanto produção, evoluiu tanto e que o consumidor exija esse produto com rastreabilidade e sustentabilidade no ponto final. Acho que ambas as partes estão descobrindo quais são esses limites. No caso da indústria, quais são os pontos que têm que ser trabalhados. É uma reestruturação grande de processos e de escolhas — afirma ele.
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Aceleradores
Além de empresários e varejistas, o RS Moda direciona sua atenção também aos estudantes. Nesta edição, alunos de cinco universidades gaúchas tiveram a oportunidade de acompanhar o processo de desenvolvimento de uma coleção de roupas, a partir de aulas realizadas durante o evento.
Já o Senai-RS participou com sua unidade móvel de vestuário, uma carreta de nove metros de largura por 15 de comprimento, com 26 máquinas industriais de costura, ferro com caldeira, mesa de corte e demais materiais necessários à confecção. No local, instrutores demonstravam os primeiros passos da prática.
A atuação dos aprendizes culminou na exposição e desfiles de looks criados pelos formandos do curso de Moda da instituição, apresentando o potencial da nova geração. E mais do que olhar para os jovens criativos como símbolos da esperança por uma moda mais sustentável no futuro, Paulo Borges ressalta a importância de ampliar o olhar para a realidade:
— Considero que o ponto mais importante de tudo é a educação. Se você informar, educa, forma novas cabeças, novos consumidores, novos criativos e novos elos dessa cadeia do sistema produtivo. Está tudo caminhando. No caso da inovação, a gente precisaria ter mais investimentos para poder trazer as pesquisas para o nosso campo produtivo, não somente para o nosso campo de consumo.
Para o empresário, não há como pensar em avanço sem levar em conta que trata-se de um conjunto atrelado à informação, investimentos, aplicação e exercício. Para ser disruptivo, destaca, é necessário ir além do estudo, transformando conhecimento em matéria-prima.
— Existe já muita coisa acontecendo. E não só pensando no produto desenvolvido ou realizado, mas em toda a cadeia, desde como eu vendo, mostro e distribuo até o modelo de negócio que posso ter para estar na moda, que é muito diferente do que era há 20 anos. Hoje, você pode ter um modelo completamente customizado e ser sustentável, criativo e inovador. Acho que esse é o grande universo que se abre nesse período pós-pandemia, onde muita coisa se acelerou, se discutiu e agora são questões de praticidade, que também estão ligadas a investimento e a educação — sublinha Borges.