Trocar experiências é uma das redes de afeto mais fortes que se cria quando uma mulher torna-se mãe. Mas, como em todas as relações, alguns comentários e opiniões podem gerar desgastes. Comparações entre as crianças, escolhas adotadas na alimentação e até a jornada de trabalho viram razões para debates.
Em um papo com leitoras no Grupo de Mães Donna no Facebook e também pelo nosso perfil do Instagram, perguntamos quais são as frases que as mães não aguentam mais escutar. Selecionamos as reclamações mais frequentes e convidamos profissionais para ajudar a lidar melhor com as opiniões alheias – que, muitas vezes, sequer foram pedidas.
"Por que você não dá doce? Coitadinho!"
A reclamação é da designer Ana Carolina Malcon, 35 anos, mãe de Maria Carolina, quatro, e grávida de Sofia. Para lidar com os comentários sobre a alimentação dos filhos, a psicóloga Natália Vargas Filomeno diz que é importante a mãe lembrar-se de que está fazendo o que acredita ser certo para a formação da criança.
– Nenhuma mãe vai ser perfeita o tempo todo: educar e formar um ser humano é um processo que envolve tentativas e erros. Entender isso evita ansiedades desnecessárias. Além disso, quanto mais informações e apoio das pessoas próximas, mais fortalecida ela se sente para fazer escolhas – pondera a profissional.
A mãe pode trabalhar o dia todo e ainda ter momentos importantes e significativos com o filho quando chega em casa. Não é necessário priorizar apenas a vida familiar ou apenas o trabalho.
NATÁLIA VARGAS FILOMENO
psicóloga
"Você tem coragem de deixá-lo na escolinha o dia inteiro?"
O comentário incomoda a técnica química Carine de Campos, de 34 anos. É mãe do Henrique, um ano. Sobre essa culpa colocada em mães que trabalham, é importante refletir sobre como você usa o tempo junto ao seu filho. Do que adianta a família estar na mesma casa se cada um está em um cômodo? É muito mais interessante pensar na qualidade desse convívio. Para a psicóloga, o equilíbrio é fundamental:
– A mãe pode trabalhar o dia todo e ainda ter momentos importantes e significativos com o filho quando chega em casa. Não é necessário priorizar apenas a vida familiar ou apenas o trabalho.
"Que pai maravilhoso!"
A frase citada por Marcela Donini, repórter de Donna, moderadora do Grupo de Mães no Facebook e mãe de Santiago, dois anos, costuma ser ouvida nas conversas em que ela comenta sobre o pai dividir tarefas como trocar as fraldas do filho ou levar ao pediatra, responsabilidades que são dos dois.
Mesmo que não se trate de uma “ajuda” do pai, as funções que ele realiza ainda são mais valorizadas do que as que a mãe desempenha, afirma a psicóloga.
– Apesar de o homem ter uma maior exigência no cumprimento das tarefas do lar e dos filhos atualmente, ele ainda não é responsabilizado da mesma forma que a mulher – observa.
A psicóloga afirma ainda que a divisão de tarefas une o casal e passa a mensagem ao filho de que mãe e pai estão engajados na sua criação, o que se reflete de forma positiva na criança.
"Meu filho já trocou os dentes, e o seu?"
Comentários que comparam as crianças estão entre os que mais perturbam Jeanine de Paula Pedroso, 48 anos, microempresária e mãe de duas filhas, de 12 e cinco anos.
Para o pediatra Luís Malizia Cabral, o desenvolvimento de um ser humano é complexo, multifatorial e não se encaixa em uma “tabela fixa”. Ou seja, não existe um tempo exato para cada coisa acontecer, e sim uma faixa de vigilância, que é um período no qual a maioria das crianças irá desenvolver uma certa habilidade.
– Se a mãe mantém consultas regulares com o pediatra (até um ano de idade, devem ser mensais), e o profissional acompanha a evolução da criança e afirma que está tudo dentro do previsto, não há com o que se preocupar – afirma o médico.
Para a psicóloga Natália Vargas, o que todo filho espera dos pais é compreensão. Ansiedade em querer que o filho se desenvolva rápido pode gerar sofrimento para a criança.
"Três filhos? Não tens televisão?"
Mãe de Laura, 22 anos, Victor, 16, e Davi, 10, a consultora de imagem e estilo Adê Valença, 42 anos, cansou de ouvir essa frase. E quem tem apenas um filho também não está livre de ouvir perguntas como "quando vem o segundo?".
Quem faz esse tipo de comentário parece esquecer que essa é uma escolha que cabe somente ao casal. É fundamental que os pais analisem o que faz sentido na vida que levam, o que desejam e esperam de sua família, antes de decidirem ter ou não mais filhos. O que também pesa na decisão é a questão financeira. Hoje em dia, muitos casais priorizam planejar os gastos antes de engravidar, lembra a psicóloga.
– O importante é que a decisão do casal esteja bem esclarecida para os dois – frisa Natália.