"Essa semana o filho de um amigo descobriu sobre a morte. Com lágrimas nos olhos perguntou: 'Pai, tudo morre?'. Meu amigo respondeu que tudo. 'Mas eu não quero morrer, pai'. 'Quem brinca muito não morre', disse meu amigo. O menino abriu um sorriso, ia correndo para o pátio. Parou e disse: 'Pai, amanhã você brinca comigo o dia todo?'.
O trecho acima retirei de um texto do amigo e comunicador Marcos Piangers. O conteúdo me tocou fundo. Se a morte é um assunto difícil de ser entendido por nós adultos, que dirá por uma criança.
Infelizmente esse assunto precisou ser debatido aqui em casa antes do que eu gostaria – não que a gente goste algum dia. Com a morte do meu cunhado no final do ano passado, ficamos sem saber como explicar a nosso filho que o tio e dindo dele não estaria mais entre nós. Foi para o céu? Virou estrelinha? Simplesmente deixar de falar? Qual era a melhor opção? Não sabíamos!
Segundo a psicóloga Josiane Costa Espanton, muitas vezes, para evitar o sofrimento, achamos que o melhor é esconder de nosso filho a realidade, seja a morte de um bichinho de estimação ou de um ente querido. Mas as crianças sentem que há algo diferente na família. Logo, isso pode gerar ansiedade e insegurança para a criança que sente a mudança na energia e rotina familiar, mas não pode entender o que está acontecendo.
Abaixo, veja as orientações da psicóloga Josiane Costa para cada faixa etária:
Até os dois anos
A criança não entende o significado da palavra "morte" e não compreende que a perda é permanente, pois não tem capacidade suficiente para entender esses conceitos e, por isso, pode perguntar muitas vezes onde está a pessoa que morreu e quando ela vai voltar. Dependendo do vínculo que a criança tinha com a pessoa que morreu, ela poderá sentir falta. Nessa etapa, muitas vezes os adultos falam que a pessoa que morreu virou estrela, que foi para o céu. Mas o que é o céu para uma criança de até dois anos, se nem nós, adultos, sabemos? Portanto, o ideal é não “inventar”, o melhor é sempre trabalhar com a verdade.
Entre os 3 e 6 anos
A criança compreende a morte como algo temporário e reversível, pode acreditar que a morte foi culpa dela em função dos pensamentos egocêntricos que fazem parte dessa fase do desenvolvimento e, como entende tudo de forma literal, é importante que os adultos falem a verdade, de forma concreta e clara explicando que a pessoa não irá voltar e que ela, a criança, não tem nenhuma culpa pelo que aconteceu.
Entre os 7 e 9 anos
Já tem capacidade para entender a causa e a irreversibilidade da morte, pode demonstrar interesse sobre os rituais fúnebres e pode optar por acompanhar os pais em algum velório. Nesse caso é relevante que seja detalhado pelos adultos o que a criança irá encontrar lá e como estará aquela pessoa que ela está indo ver.
Entre os 10 e 12 anos
Nessa fase a criança já entende a morte como algo permanente e universal, que irá acontecer com todas as pessoas, inclusive com ela e pode sofrer com a perda, dependendo do tipo de vínculo. Para facilitar o entendimento, quando me refiro ao vínculo, imagine uma pessoa que perde seu avô, que mora numa cidade distante e que teve pouco contato durante toda a vida e, que não demonstra grande sofrimento, mas que demonstra um sofrimento enorme ao perder a vizinha com quem tinha contato diário, essa ligação pode ser determinante quando se trata de morte e luto.
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Em resumo, diz Josiane, é fundamental trabalhar sempre com a verdade, adaptando para as capacidades da criança. O que aconteceu deve ser contado assim que possível, de forma clara e verdadeira, dizendo, por exemplo, que aquela pessoa não irá voltar mais, que seu corpo (mãos, pés, cabeça...) não funciona mais, que ela não sente mais.
Permitir que a criança fale sobre seus sentimentos e emoções é fundamental, assim como não desvalorizar as expressões da criança dizendo “já vai passar, não fique assim, não chore”. Cada caso é um caso: ninguém sente da mesma forma. Em muitas situações, é relevante procurar um profissional que possa orientar como proceder com aquela situação específica.
Vanessa Martini é mãe do Theo e jornalista. Tem um blog, o Mãezinha Vai Com As Outras, onde divida a rotina e os aprendizados da maternidade. Escreve semanalmente sobre o assunto em revistadonna.com.