Em meio à ampla repercussão do documentário Pacto Brutal, a escritora e roteirista Gloria Perez homenageou sua filha Daniella Perez, atriz que nesta quinta-feira (11) completaria 52 anos de idade – se não tivesse sido cruelmente assassinada em 28 de dezembro de 1992 pelo colega de elenco na novela De Corpo e Alma, da TV Globo, Guilherme de Pádua.
Nas redes sociais, Gloria compartilhou um vídeo que apresenta a transição de Dani ao longo do tempo, contemplando desde a primeira infância até a vida adulta – como a maioria do público brasileiro a conheceu, vivendo sua última protagonista, Yasmin, aos 22 anos de idade. No final de 2022, se completam três décadas da morte da atriz.
Na legenda da publicação, a autora de novelas escreveu: "Esse ano, o documentário Pacto Brutal devolveu sua identidade, tirou você do terreno da ficção e resgatou a pessoa real, a pessoa doce, afetuosa, em seu mundo de delicadeza estraçalhado pela ambição e a inveja de um casal de psicopatas. É o seu dia, numa vida - a minha -, em que todos os dias são seus".
Frente à homenagem, os seguidores de Gloria, entre atores, cantores, amigos e familiares, se manifestaram por meio de mensagens carinhosas. "Parabéns Gloria, por sua, nossa, Dani", disse Maitê Proença. "Te admiro tanto. Todo meu carinho pra você", declarou a apresentadora Sabrina Sato.
Entre outras personalidades que também comentaram estão as atrizes Maria Fernanda Cândido e Mônica Martelli e as cantoras Lucy Alves e Fafá de Belém.
Confira o vídeo publicado por Gloria Perez em homenagem à filha:
O crime
O assassinato de Daniella Perez ocorreu em 28 de dezembro de 1992. Na tarde desta data, Guilherme de Pádua seguiu a atriz na saída do estúdio onde gravavam a novela De Corpo e Alma. Quando Daniella parou em um posto de gasolina para abastecer, Guilherme e sua então esposa, Paula Thomaz, que estava escondida no banco de trás do carro, realizaram uma emboscada. Guilherme deu um soco em Daniella, que ficou desacordada. A vítima foi colocada no banco de trás do carro e levada até uma área de matagal na Barra da Tijuca. Lá, o casal apunhalou 18 vezes a artista com uma tesoura.
Um homem que passava pelo local do crime estranhou os dois veículos parados, um atrás do outro. Ele anotou as placas e comunicou a polícia, que encontrou o corpo da vítima. Em pouco tempo, descobriram que o veículo Santana era de Guilherme, que chegou a adulterar a primeira letra da placa do automóvel, de "L" para O".
O ator foi encaminhado à delegacia em 29 de dezembro. Inicialmente, Guilherme negou o crime. Porém, com a apresentação das provas e o andamento do processo, acabou confessando. Tempos depois, a polícia descobriu o envolvimento de Paula. No dia 31 de dezembro de 1992, as autoridades decretaram a prisão do então casal.
Mesmo com a pressão feita pela mídia e pelos familiares da vítima, o julgamento só ocorreu cinco anos depois, com a condenação dos assassinos por homicídio qualificado por motivo torpe, com impossibilidade de defesa da vítima. Pádua foi condenado a 19 anos de prisão e Paula, a 18 anos e seis meses. Em maio de 1983, Paula deu à luz o filho do casal na prisão. Guilherme e Paula acabaram se separando. Após o cumprimento de sete anos de prisão, ambos foram soltos e colocados em liberdade condicional. A decisão revoltou a família da vítima.
"Foram sete anos num segundo. A vida da minha filha vale só isso? Os sete anos de mordomia que Guilherme de Pádua passou dentro da cadeia?", desabafou a escritora Gloria Perez na época.
Após a morte de Daniella, o crime de homicídio qualificado, praticado por motivo torpe ou fútil, ou cometido com crueldade, foi incluído na Lei dos Crimes Hediondos, a partir de mais de um milhão de assinaturas de todo o Brasil. Também foi decidido que para este tipo de delito não é mais possível pagar fiança e é necessário mais tempo para a progressão do crime.
Pacto Brutal
O foco do documentário Pacto Brutal é discutir o que está nos autos do processo não de forma sensacionalista, algo que era um antigo desejo da mãe de Daniella Na época, ela escrevia De Corpo e Alma, que tinha a filha no papel de Yasmin, personagem que fazia par romântico com Bira, interpretado por Guilherme de Pádua — descoberto como o responsável pelo assassinato, junto com Paula Thomaz. Na produção da HBO Max, Gloria conta que a cobertura da imprensa fez com que o público confundisse o que era realidade e o que fazia parte da novela:
— Aquelas imagens (fotos do casal da novela estampadas como se os atores tivessem algum relacionamento fora das telas) alimentavam a confusão de que o crime tinha sido uma continuidade da trama — declarou ela, em entrevista à Folha de S.Paulo. — Nos autos do processo, não foi Bira que matou Yasmin. Foi Guilherme de Pádua. Não foi a mulher do Bira quem matou Yasmin. Foi a Paula. A vítima não é Yasmin. É a Daniella.