A influenciadora Shantal Verdelho abriu seu perfil do Instagram para perguntas dos seguidores nesta quarta-feira (29) e, questionada sobre, detalhou o abuso sexual que sofreu na infância pelo motorista da família.
"Tinha um motorista que me levava para escola todos os dias. Na ida e na volta mexia nas minhas partes íntimas e me fazia mexer nas dele. Me fazia até segurar umas coisas estranhas (uma vez um pênis feito de madeira, enorme). Eu tinha uns seis, sete anos e sempre sentava na frente para que ele não fizesse isso com a minha irmã. Então, para protegê-la, eu logo sentava ao lado dele, o que fazia ele achar que eu queria", escreveu ela.
"Demorei bastante para contar para a minha mãe, com medo de ela não acreditar e com medo de ele fazer algo comigo por ter contado. Ela acreditou em mim no mesmo minuto e eu nunca mais o vi. Nem me lembro da cara dele, graças a Deus", finalizou.
Na manhã desta quinta-feira (30), por ter recebido muitas mensagens em resposta ao episódio, Shantal voltou a falar sobre em uma sequência de vídeos compartilhados em seus Stories. Ela então disse que o objetivo de contar o que aconteceu com ela é incentivar outras mulheres a falar.
— Vocês estão me perguntando muito do abuso, o que eu acho bom. Porque o meu intuito aqui em falar é o seguinte: a gente não tem como evitar isso, de repente, a primeira vez. A primeira vez muito provavelmente vai acontecer. Mas a gente tem como evitar todas as outras. Eu fiquei passando por isso meses, todos os dias, na ida e na volta da escola. Se eu tivesse tido coragem de falar uma única vez, assim como minha mãe acreditou no exato segundo que eu falei, desde a primeira vez ela teria acreditado. O meu intuito é encorajar as pessoas a falar — disse ela.
Em seguida, explicou a razão de o caso nunca ter sido denunciado.
— Na minha época, eu estou falando de mais de 20 anos atrás, foi muito mais difícil de contar porque não existia todo esse apoio para a mulher denunciar esse tipo de coisa. Na minha época, muito provavelmente nem na minha mãe iriam acreditar se ela fosse de repente em uma delegacia denunciar. Então para evitar perigo maior para a gente, isso não foi feito na época. Porque depois o cara podia chegar lá na nossa casa querendo machucar a gente. Não só eu, mas minha mãe e minha irmã. Então, graças a Deus que hoje as coisas estão melhorando — explicou.
A influenciadora também discorreu sobre o fato de não lembrar do rosto do abusador.
— Me perguntaram muito sobre eu não lembrar da cara dele. Eu lembro muito do carro dele, que era branco, bem antigo, lembro do porta-malas, que ele guardava o tal do instrumento que eu falei que ele me fazia segurar. Eu lembro da marcha, que ele passava a mão em mim sempre que trocava a marcha. Lembro de todos esses detalhes, mas da cara dele não. Graças a deus, porque eu realmente não faço questão nenhuma de lembrar — afirmou. — Eu queria encorajar vocês a contar e deixar gravado aqui para as mulheres nunca duvidarem de outras mulheres.
Em resposta a uma seguidora, que disse ter medo de contar, Shantal também refletiu sobre a vergonha e as contradições que passam na cabeça das vítimas, em especial as crianças.
— Não é só o medo, a gente fica com vergonha também de contar. Mas vergonha do quê? Se a gente não está fazendo nada errado, é o outro que está fazendo errado? Só que, quando a gente é criança, rola uma mistura de confusões na nossa cabeça nas quais a gente não sabe direito se aquilo que está acontecendo é de fato errado, a gente não sabe se não foi nossa culpa. "Não fiz um escândalo, deveria ter feito" — disse ela.
— Quando começou a acontecer isso comigo, eu fiquei na dúvida. Mesmo vendo aquilo acontecer, eu pensava: "Será que ele está fazendo isso mesmo? Isso é errado, não?" Aí depois que passou, eu pensava: "Não fiz um escândalo, então sou culpada igual". Cheguei na escola, não contei para o professor, cheguei em casa, não contei para a minha mãe, ou seja, sou cúmplice, quer dizer então que sou errada igual. Passam várias coisas na nossa cabeça que descredibilizam o fato de você contar.
Por fim, desabafou sobre a dificuldade que é voltar a falar sobre o assunto, inclusive com a própria mãe.
— Demorou muito tempo para eu conseguir falar sobre isso. Até para falar novamente com a minha mãe, porque aconteceu isso lá atrás, há mais de 20 anos, e a gente simplesmente nunca mais falou sobre o assunto. Foi há pouco tempo atrás que a gente voltou a falar. Tipo, "ah, isso aconteceu, foi assim, foi assado". E é muito difícil , mas é preciso ser falado. E, quando alguém consegue falar, essa pessoa não pode ser colocada em xeque, em dúvida, como foi feito comigo quando eu consegui falar sobre isso na internet. E tem que ser dado voz. Porque sem isso que eu estou fazendo as pessoas vão tender a se calar, porque "ah, ninguém conta que passa por isso, então vou ficar quieta também, porque não vão acreditar, vão me apedrejar" — disse ela.
Por último, revelou ter muito medo de que algo parecido aconteça com o filho, Filippo, de um ano, e que às veze acaba sendo protetora demais em função disso. Sobre deixar o pequeno ir em passeios da escola ou dormir na casa de um amigo futuramente, afirma não saber se vai ter "condição emocional", e pretende trabalhar esse sentimento na terapia.