Aos 22 anos, Vitória Strada faz parte da nova geração de atores da TV Globo. Mas, diferente de outras da mesma idade, como Bruna Marquezine e Marina Ruy Barbosa, ela não começou a carreira quando criança. Ao menos não a de atriz.
Vitória era modelo (inclusive já foi capa e participou de editoriais de moda de Donna), mas trocou lentes e passarelas para estudar teatro. Nos últimos dois anos, firmou-se como um dos nomes mais promissores da televisão. Na redação, brincamos, inclusive, que a nossa entrevista da semana seria com a Vitória “Estrela” – e não resistimos ao título que ilustra a capa desta edição.
A porto-alegrense está com motivos de sobra para celebrar a mudança de carreira. Depois de estrelar o filme Real Beleza (2015), de Jorge Furtado, e estrear na TV como Maria Vitória, da trama Tempo de Amar (2017), a atriz voltou ao horário das seis emendando sua segunda protagonista de novela – em menos de um ano. São duas, na verdade, em diferentes versões: Cris Valência e Júlia Castelo, de Espelho da Vida, folhetim de Elizabeth Jhin que está na reta final e termina neste mês.
O sucesso alçou seu nome à lista de jovens com menos de 30 anos que estão se destacando nas suas áreas de atuação, um compilado feito pela Revista Forbes no final do ano passado. Quem vê Vitória atuando percebe seu talento de cara. Expressiva, a gaúcha recebeu uma série de elogios pela cena que ficou conhecida como a da “Cris surtada”, exibida no início de fevereiro. Além de conquistar críticos e colegas de elenco, Vitória virou meme (no bom sentido!) e viu seu nome dominar os Trending Topics do Twitter.
Por isso, não é difícil entender que ela tenha emendado duas protagonistas na sequência. Escalada às pressas para substituir Isis Valverde, que precisou deixar o trabalho em Espelho da Vida por estar grávida, a gaúcha não precisou nem fazer teste. Recebeu o convite, irrecusável, segundo ela, em uma ligação de Pedro Vasconcelos, diretor-geral da novela:
– Eu agarrei essa proposta com todas as forças que tinha.
Em papo exclusivo com Donna, Vitória fala sobre a mudança que a sua vida deu no último ano e a vida “de celebridade”, que diz ainda estar descobrindo.
– Nunca tive tempo de parar para pensar como seria essa vida porque meu objetivo nunca foi fama, sair na rua e as pessoas me reconhecerem, quererem tirar fotos. Pensava em como seria estar trabalhando com o que quero, decorando textos, dando vida ao personagem. O resto estou descobrindo aos poucos – revela.
Leia a entrevista na íntegra:
Já são duas protagonistas de novela no currículo, além de filmes, incluindo Real Beleza, também como protagonista. Como tem sido essa ascensão na sua carreira, de modelo a atriz?
Vejo isso como a realização de um sonho. Muito mais do que podia esperar que fosse acontecer em tão pouco tempo. É uma responsabilidade grande, (envolve) muita dedicação e trabalho. E estar na lista da Forbes, para mim, é muito significativo e importante. Estou muito feliz!
De Tempo de Amar a Espelho da Vida, o intervalo foi de um ano e meio. Neste período, imagino que sua vida mudou completamente. Como foram esses últimos tempos para você, pessoalmente e profissionalmente?
Foi exatamente isso, emendei uma novela na outra. Na primeira novela fui protagonista, na segunda sou também, então foi uma imersão durante dois anos direto, só trabalhando. Me dediquei 100% ao meu trabalho, uma coisa que amo fazer. É muito trabalho e esforço, mas ver que está valendo a pena é gratificante. E o retorno pessoal é de 100% também. Tudo que o meu trabalho resultar positivamente, resulta no pessoal também. Não poderia estar mais feliz com tudo o que está acontecendo! Me dedico cada vez mais para conseguir mais oportunidades de mostrar meu trabalho, minha força de vontade. Acho que isso jamais vou perder!
Você foi selecionada para o papel da Cris/Júlia depois que a Isis Valverde foi cortada por conta da gravidez. Como pintou o convite?
Eu agarrei essa proposta com todas as forças que tinha. Confiaram no meu trabalho e acreditaram em mim. Foi um convite, disseram que nem precisariam fazer teste, queriam que fosse eu. Me deixa feliz saber que o meu primeiro trabalho na TV resultou em uma confiança tão grande a ponto de me chamarem para fazer mais uma protagonista sem nem fazer teste, somente confiando no meu trabalho e crendo que eu daria conta. Quando a Isis engravidou, começaram testes e fizeram reuniões para ver quem seria. Não poderia estar mais feliz e com mais vontade de continuar ao ver que todo esse esforço e foco no meu trabalho acima de tudo vale a pena. Quando a gente ama o que faz, a gente se dedica, e nada vem de graça, não é? Por mais que as pessoas pensem que é muito glamour, é um trabalho diário, de domingo a domingo praticamente.
Na novela "Espelho da Vida", Vitória interpreta duas personagens: Cris (foto acima) e Júlia (abaixo).
Uma cena em especial, a do surto da Cris, foi muito comentada nas redes sociais. Como foi gravá-la? E como foi a repercussão depois?
Essa cena marca um ponto importante da história, que é juntar o passado com o presente, a história da Júlia com a história da Cris. Quando a vilã drogou a Cris, senti que o público ficou muito doído junto com a personagem. Fazemos esse trabalho para o público que assiste, e sem ele a gente não seria nada. Estamos aqui para tentar tocar as pessoas, e quando conseguimos tocá-las estamos fazendo bem o nosso trabalho. Recebi mensagens até de enfermeiras dizendo que eu consegui passar realmente o que acontece quando alguém tem um surto psicótico e está totalmente fora de si. É muito bom ter esse retorno do público. Foi uma cena tensa, pesada de gravar. Foi quase um ritual. Mas foi um momento muito legal.
A trama de Espelho da Vida lida muito com questões espirituais. Isso impactou na sua vida pessoal também? De que forma?
O mais bonito nesta novela, em relação às crenças, é que a trama une as pessoas. Escuto muito as pessoas falando que são tocadas pela novela e que acreditam no espiritismo, assim como também vejo pessoas que amam a novela e nem por isso acreditam no espiritismo. É uma novela que engloba todos os públicos, tem crianças que vêm falar comigo, senhores, pessoas de todas as crenças possíveis. É uma novela que gera debate sobre o que é possível acontecer e o que não pode acontecer na nossa realidade, o que as pessoas acreditam que pode acontecer e o que elas não acreditam. A novela fala de temas importantes como o amor, o perdão, que são essenciais. Respeitar a dor do próximo, entender que cada um tem sua história, cada um tem o que aprender, independentemente de acreditar em vidas passadas ou não... Acho que, se todo mundo pensasse um pouco assim, já estaríamos um pouco mais evoluídos do que estamos.
Como tem sido essa nova vida no Rio de Janeiro?
No momento que eu recebi o convite para fazer o teste de Tempo de Amar foi uma realização, uma oportunidade tão grande que decidi ficar aqui. É isso que importa agora. Como praticamente não tive férias, resolvi me estabelecer no Rio. Foi fácil, me adaptei superbem. É claro que sinto saudade do Sul, principalmente da minha família. O Rio foi muito receptivo, mas tive pouco tempo de fazer a turista no Rio de Janeiro, sempre trabalhando muito. Eu brinco que eu moro no Projac! Então, estou me adaptando aos pouquinhos.
Não dá nem tempo de ir à praia?
Não, mas são escolhas que a gente faz. Foi uma escolha própria porque sou muito exigente comigo mesma, muito crítica. Preciso, no mínimo, dar 100% de mim para saber que dei o meu melhor e me dediquei o máximo possível.
Você fez amigos no Rio? Como é lidar com a saudade da família?
Com o ritmo intenso de gravações, vou pro Sul quando consigo uma brecha para ver minha família porque sinto saudade. Eles são meu porto seguro e sempre vão ser. Eles vêm também para me visitar, passam um tempinho comigo, trazem o meu cachorro e aí a gente mata a saudade. Fora isso, a gente se fala diariamente. Hoje em dia, a tecnologia nos ajuda muito nesse sentido, de estar perto de quem a gente ama, ficamos pertinho mesmo que longe. Estou morando sozinha. E, aqui no Rio, estou fazendo amizades, conhecendo novas pessoas. A gente se sente em casa também quando começamos a conhecer pessoas legais. Antes, nos sentimos meio visitantes na cidade, mas, quando começamos a fazer amigos, nos sentimos mais acolhidos.
Você já anda na cidade sendo reconhecida pelas pessoas?
É interessante ver o público real, os diversos tipos de público. Quando meus amigos estão junto eles acham engraçado ver a reação das pessoas, mas veem também o carinho. É muito gostoso, um retorno do nosso trabalho. A gente entra na casa das pessoas diariamente, então é como se fossemos também um pouquinho da família delas. Tem muita gente que fala comigo como se eu fosse mesmo da família!
E como você imaginava que seria lidar com o público, estando na TV?
Acho que nunca imaginei nada, para falar a verdade. Nunca tive tempo de parar para pensar porque meu objetivo nunca foi fama, sair na rua e as pessoas me reconhecerem, quererem tirar fotos. Pensava em como seria estar trabalhando com o que quero, decorando os textos, dando vida ao personagem. O resto estou descobrindo aos poucos. É engraçado que às vezes não me ligo de algumas coisas. Convido alguém para ir a algum lugar e a amiga responde: “Vamos com tempo, porque sei que você vai querer tirar foto com todo mundo”. Fico mal quando a gente sai e não consigo dar atenção para as pessoas. Esses dias, saí da gravação e fui com uma amiga em uma peça de teatro. Saí do jeito que estava, aí de repente vieram fazer entrevistas, câmeras, tirar fotos. E minha amiga falou: “Se eu tivesse lembrado, teria avisado”. Mas nem pensei nisso. Não me vejo como essa pessoa pública. E acho que está bom assim, porque imagina se isso subisse para a cabeça, não é? Me vejo como uma trabalhadora igual a todo mundo. E assim vou aprendendo a lidar, à medida que as coisas acontecem. O importante é nunca tirar o pé do chão, é uma coisa que eu aprendi com meus pais. Continuo sendo a mesma guria que saiu de Porto Alegre com todos os sonhos a realizar, que saiu de lá para fazer a novela pensando na dedicação que eu precisaria ter, não que agora iria ficar famosa. Nunca vou deixar de ser essa pessoa. Temos que fazer o que amamos sem se deixar mudar. Aliás, nem tem porque mudar quem a gente é só porque está em outro tipo de trabalho.
Mesmo nas redes sociais, você não é de exibir muito da sua vida pessoal. Teme a exposição excessiva da sua imagem?
Sou mais reservada, mas acho que é naturalmente assim. Estou me acostumando aos poucos a postar mais, interagir mais. Tem até quem fale que sente falta dos meus Stories, me acha engraçada, então respondo que vou compartilhar mais coisas. Acaba sendo natural, não me policio, não me privo porque eu entendo que, quando a mídia lança alguma coisa, às vezes lança sem nem ter acontecido nada. Não posso me privar de fazer as minhas coisas, de estar com meus amigos, com as pessoas que eu amo. A internet tem o lado bom e tem o lado pesado. Às vezes, as pessoas acreditam em tudo que elas leem, ou as coisas que são publicadas para gerar clique. Estou entendendo que faz parte. É a mesma coisa de tentarem me arrumar um namorado. Eu tenho certeza que isso faz parte, que se agora eu sair com um amigo na rua, talvez tirem uma foto e digam que eu estou namorando. É uma coisa que a gente vai lidando, e eu lido muito bem com isso.
E essa disciplina toda de trabalho vem da sua carreira de modelo? Sente saudades de quando modelava?
Boa pergunta. Meus pais e meus amigos falam que sou muito disciplinada. Acho que isso faz com que eu consiga me dedicar tanto. Eu não era de sair muito, nunca sofri porque gosto de me dedicar ao que faço. Sempre fui muito crítica comigo também, e muito responsável para a minha idade. Acho que é pelo trabalho de modelo também, de ter começado cedo. Morei sozinha pela primeira vez com 15 anos, depois terminei o Ensino Médio. Com 15 anos, já tinha essa noção de que não queria parar de estudar. Depois morei sozinha de novo e isso foi me amadurecendo. E, sem dúvida, também a criação que meus pais me deram. Eles sempre me ensinaram a ser pé no chão, a ser verdadeira, transparente, sincera e ser dedicada ao trabalho e com compromissos. Tenho que agradecer 100% aos meus pais e à educação que eles me deram, porque isso a gente leva para vida toda.
Você já fez amizade com nomes do meio artístico? E virou a famosa entre seus amigos?
Como eu estou trabalhando diariamente no Projac, faço muitas amizades lá dentro também, então é inevitável não sair com gente do meio também porque são as pessoas que mais convivo. Mas eu tenho meus amigos que me conhecem há anos. São amigos de verdade e espero que continuem sempre sendo. Fiz muitas amizades nesses últimos anos e quem é verdadeiro vai ficando. Isso é o mais lindo da vida, vamos vivendo e encontrando pessoas especiais no nosso caminho. E a vida é para isso, para ajudarmos uns aos outros e ser feliz. Menos ódio, mais amor.
Quando você era mais jovem, as pessoas a chamavam de Catherine Zeta-Jones. Ainda falam isso?
Sim, ainda falam (risos). E é uma honra. Somente agradeço, porque ela é incrível, ela é linda!
Já tem planos para trabalhos futuros após o fim da novela?
No momento, estou com muitas ideias na cabeça. Mas o foco é terminar essa novela. Tenho alguns projetos, mas nada 100% certo que eu já possa dar certeza para vocês. A Revista Donna sempre me deu muito carinho, muita atenção, e fico feliz de poder compartilhar isso porque eu me sinto mais próxima dos meus conterrâneos.